Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Salomon (Simon André) é um homem muito viajado. Fascinado pela caça, ele percorreu o mundo com seu companheiro fiel, Dmitri, um cachorro. Até que um dia, já idoso, ele retorna a sua cidade natal e ao bar Chez Salah, palco de diversas reflexões e memórias. Sua cidade está tomada pela construção civil e o bar de Salah é como um âncora de resistência. O dono do estabelecimento, por sua vez, torna-se um conselheiro emocional, que, na verdade, mais ouve do que fala.
A Peônia (La Pivoine, 2018) é um longa que pretende ser, acima de tudo, reflexivo e poético. O próprio diretor, Joaquin Breton, conta ao site Un grand moment de cinema que os personagens principais – o caçador, o superintendente de caça e o guarda da floresta – são três opostos e representam alegorias.
Por evocar memórias de Salomon e dos outros dois personagens principais, o filme apresenta uma linha temporal um tanto quanto confusa. Não se sabe ao certo em que momento cada uma das cenas se passou. Isso contribui para que o espectador se confunda no meio da trama. Além disso, a figura dos dois investigadores que aparecem esporadicamente parece explorar uma simbologia, mas que não fica clara para o público.
A simbologia da flor, que aparece uma vez no longa, é a divisão entre dois territórios: Flandres, no norte da Bélgica, e França. Ao percorrer um rio que divide os lugares, a peônia é como uma representante perfeita do filme: uma grande quantidade de camadas da história, de coisas que são ditas, de fins diferentes para a mesma trama, como cita Breton na entrevista.
Diferente das produções habituais do cinema, A Peônia é um filme que almeja ser poesia. Mas, como um poema, exige do público uma vasta capacidade de interpretação e abstração, que nem sempre é alcançada.
por Maria Eduarda Nogueira
mariaeduardanogueira@usp.com