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50 anos de ‘Let It Be’: o último suspiro dos garotos de Liverpool

Em 8 de maio de 1970, era lançado um disco emblemático para os fãs da banda The Beatles: Let It Be (1970) marcava o final derradeiro do quarteto inglês. Mesmo 50 anos após seu lançamento, o décimo terceiro álbum dos garotos de Liverpool ainda reverbera no meio musical como uma obra de letras emocionais e …

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Em 8 de maio de 1970, era lançado um disco emblemático para os fãs da banda The Beatles: Let It Be (1970) marcava o final derradeiro do quarteto inglês. Mesmo 50 anos após seu lançamento, o décimo terceiro álbum dos garotos de Liverpool ainda reverbera no meio musical como uma obra de letras emocionais e produção marcante.

Ainda que seja apresentado como o projeto final dos Beatles, muito se foi feito entre sua composição e lançamento. Em janeiro de 1969, a banda já trabalhava no disco, inicialmente sob o nome Get Back – nos olhos de Paul McCartney, esse seria o álbum que faria os Beatles voltarem às raízes.

 

Entre câmeras e instrumentos

O clima entre a banda não era muito amigável quando iniciaram a gravação do então Get Back. O empresário deles, Brian Epstein, havia falecido em 1967; John Lennon enfrentava o vício em heroína; Ringo Starr saíra da banda por um tempo; George Harrison lançara um projeto solo em 1968, e a última apresentação ao vivo dos Beatles havia ocorrido em 1966. A não ser por Paul McCartney, nenhum deles parecia muito disposto a tentar se reencontrar como grupo.

Get Back seria um projeto para fazê-los voltar a compor sem os experimentalismos e técnicas de estúdio dos álbuns anteriores. O plano de McCartney era lançar, junto do álbum, um documentário retratando o processo criativo do grupo e a vivência entre os quatro, finalizando com uma apresentação inédita.

The Beatles se apresentando no telhado do Apple Building [Imagem: Reprodução]
The Beatles se apresentando no telhado do Apple Building [Imagem: Reprodução]
A banda, então, começou a ensaiar no Twickenham Film Studios. No meio de rotinas de gravação e constantes desentendimentos entre os membros, George Harrison saiu do grupo por alguns dias. Uma de suas condições para retornar foi a mudança do ambiente de ensaio – o novo local seria o Apple Studios.

Além da troca de estúdio, Harrison convidou o tecladista Billy Preston para integrar o projeto. As sugestões não só melhoraram o clima entre os membros da banda, como também culminaram na última performance ao vivo de John, Paul, George e Ringo como grupo. No dia 30 de janeiro de 1969, os Beatles faziam o clássico show no telhado do Apple Building. A apresentação surpresa atraiu centenas de fãs e transeuntes que passavam pela região. 

O tumulto foi tão grande que a polícia teve que intervir e pedir pelo fim da apresentação. Quando John se despediu dos espectadores, ele soltou a frase: “Eu gostaria de agradecer em nome do grupo e de nós mesmos, e espero que tenhamos passado na audição”. A fala está presente no final da faixa Get Back.

Em 31 de janeiro, as sessões no Apple Studios terminaram. Entre o conteúdo gravado na performance ao vivo e nos estúdios estavam faixas como Dig a Pony, I’ve Got A Feeling, One After 909, Two Of Us, e claro, Let It Be.

 

Problemas na produção e Abbey Road

Nos mês seguinte, foi destinada a Glyn Johns, engenheiro de som, a tarefa hercúlea de transformar o conteúdo extenso de quase um mês de gravação em um disco. Ele tentou unir as músicas com as conversas entre os membros. O resultado não agradou e o projeto Get Back foi engavetado.

Ainda em 1969, os Beatles gravaram e lançaram Abbey Road, o álbum tido como o mais emblemático por conta dos grandes hits e pela capa dos quatro membros atravessando a Abbey Road, que virou ponto turístico após o disco. Esse era conciso musicalmente e tinha um claro tom de despedida – a penúltima faixa, The End, encerra com “E no fim, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”.

Capa do álbum 'Abbey Road' [Créditos: Apple Records]
Capa do álbum ‘Abbey Road’ [Créditos: Apple Records]
Já em janeiro de 1970, uma segunda versão de Get Back foi entregue por Glyn Johns, novamente recusada pela banda. Nela, estava incluída também a canção Across The Universe, gravada dois anos antes, quando os Beatles viajaram para a Índia.

Somente em março o projeto ganhou novo fôlego e nome – agora Let It Be –, com a entrada do produtor Phil Spector. Mudanças significativas como o acréscimo de orquestra em The Long and Winding Road, composição de McCartney, foram realizadas sem discussão prévia. Além disso, Don’t Let Me Down, faixa presente no documentário Let It Be (1970), foi deixada de lado.

Sobre o processo de composição e produção do álbum, o produtor musical Edu Henning comenta: “Let It Be foi gravado de forma lenta. Na história fonográfica dos Beatles, esse fato, por si só, já representa algo diferente. Quando o grupo entrava no estúdio para preparar um novo disco, o fazia de forma de objetiva.”

Para Edu, a mudança de produtor também evidenciava o clima pesado entre os integrantes. “George Martin [produtor musical] sempre assinou todas as produções fonográficas dos Beatles e começou os trabalhos do disco Let It Be. O fato do disco ficar parado transparece uma certa insatisfação dos músicos, o que fez Phil Spector ser convocado”, ele explica.

 

Lançamento e legado do álbum

O álbum foi lançado oficialmente em 8 de maio de 1970. Os Beatles, porém, já não existiam como grupo na época – seu fim havia sido anunciado em 10 de abril daquele ano. Let It Be parecia, então, um álbum póstumo.

O documentário homônimo foi lançado dias depois, em 13 de maio, e ganhou um Oscar no ano seguinte de Melhor Musical Original. O que foi imaginado como um filme de celebração do grupo como músicos e parceiros, virou um documentário sobre seu fim.

Além disso, a própria capa evidenciava a separação dos membros. Ainda dentro do projeto de voltar às raízes, a ideia inicial era fazer a capa no mesmo lugar em que foi tirada a foto do primeiro álbum, Please Please Me (1963). A imagem existe, mas foi usada na coletânea The Beatles 1967-1970 (1973). O que foi selecionado como capa para Let It Be foram imagens coletadas dos quatro membros, separadamente, durante as gravações do álbum. A distância entre eles era clara.

Os álbuns Please Please Me e The Beatles 1967-1970 [Créditos: Parlophone Records/Apple Records]
Os álbuns ‘Please Please Me’ e ‘The Beatles 1967-1970’ [Créditos: Parlophone Records/Apple Records]
Edu Henning afirma que o disco e o filme são “dois grandes produtos que representavam os suspiros finais de uma banda que dominou as paradas durante dez anos”. Sobre a relevância de tais trabalhos, ele aponta: “basta ver quantos outros artistas, ao longo dos anos seguintes, subiram num telhado e tocaram ao vivo”.

Para o produtor, a troca de Martin por Johns e os rumos sonoros do projeto fazem de Let It Be um disco que traz a sensação de que algo poderia ter terminado melhor. O filme, por sua vez, deixa na memória dos fãs uma imagem diferente do que eram acostumados a ver ao longo da carreira do quarteto. “É simbólico o momento em que a polícia chega e interrompe a apresentação deles no telhado. De forma lúdica, ela coloca um ponto final na história”, ele completa.

Para alguns beatlemaníacos, Let It Be é dotado de significados e faz parte da trilha sonora de momentos importantes de suas vidas. A designer de interiores Agnes Frassini conta que o disco a marcou como fã e pessoa. “É um ótimo álbum, mas, ao mesmo tempo, é triste saber como foi difícil sua gravação e como o fim da banda estava próximo”. Ela, que também é colecionadora de discos de vinil, mencionou que Let It Be foi o primeiro disco dos Beatles que comprou, aos 12 anos. “Foi o pontapé inicial para a minha coleção”, Agnes completa.

O estudante de TI Macleiton Sousa conta que esse foi o primeiro álbum de uma banda que ouviu inteiro , quando estava no ensino médio. Para ele, a experiência moldou seu estilo musical. “Foi então que comecei a me aprofundar mais na música e tudo que a envolve. Antes disso, eu meramente ouvia músicas aleatórias nas rádios”.

Seane Lennon, estudante e administradora do grupo The Beatles Fan Club Brazil, é fã dos garotos de Liverpool desde que nasceu. “Meu pai era apaixonado pela banda, a ponto de se inspirar no filho do John Lennon, Sean, para escolher o meu nome. ‘Beatles’ foi uma das primeiras palavras que falei”. O álbum Let It Be é visto por ela como o marco do fim de uma era, e sua lembrança favorita está relacionada à faixa Get Back: “me faz lembrar de estar na sala cantando e dançando a música com meu pai quando pequena”, ela recorda.

Já para a tradutora Mila Oliveira, o que mais a emociona em Let It Be é a faixa-título. “Perdi minha mãe aos nove anos, e ela era muito fã dos Beatles. Quando soube a história da música, chorei demais”. Ela conta que ouve a música toda vez que pensa em sua mãe. “Sinto como se ela estivesse ao meu lado, dizendo que as coisas vão ficar bem”.

Em 2003, Paul McCartney lançou Let It Be… Naked (2003), uma versão do álbum sem as alterações feitas por Phil Spector. Para ele, esse trabalho se assemelha mais à ideia inicial do projeto e às intenções do grupo. The Long and Winding Road está mais crua, e Dig It e Maggie Mae são substituídas por Don’t Let Me Down.

Ainda assim, o saldo do clássico álbum é positivo. Edu Henning destaca que, embora existam fãs que vêem o disco como um trabalho cheio de buracos, a imensa maioria dos admiradores dos Beatles sempre encontra belíssimas canções em Let It Be.

2 comentários em “50 anos de ‘Let It Be’: o último suspiro dos garotos de Liverpool”

  1. Qualquer disco dos Beatles é uma obra prima. Cada um tem sua história e peculiaridades. Fica até difícil dizer qual é o melhor, dependendo da sensibilidade e gosto pessoal de quem ouve. Eu particularmente gosto de todos. Eles foram geniais em tudo o que fizeram no meio musical e artístico.

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