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9ª Semana de Fotojornalismo: Cobertura do 4º dia – Manifestações de Rua

O quarto dia da Semana de Fotojornalismo teve como tema principal Manifestações de Rua. Inicialmente, os palestrantes que participariam da mesa seriam Marlene Bergamo, Simoneta Persichetti e Rafael Vilela. Infelizmente, as duas mulheres que iriam compor a mesa de debates não puderam comparecer ao evento. Marlene está cobrindo a ocupação da Escola Estadual Fernão Dias …

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O quarto dia da Semana de Fotojornalismo teve como tema principal Manifestações de Rua. Inicialmente, os palestrantes que participariam da mesa seriam Marlene Bergamo, Simoneta Persichetti e Rafael Vilela. Infelizmente, as duas mulheres que iriam compor a mesa de debates não puderam comparecer ao evento. Marlene está cobrindo a ocupação da Escola Estadual Fernão Dias Paes, sendo a única jornalista dentro do prédio e Simoneta teve problemas de saúde. A mesa foi composta então por Rafael Vilela, Eduardo Anizelli, Luciana Whitaker e Chico Ferreira.

Os palestrantes se apresentaram, falando um pouco sobre suas respectivas experiências profissionais e então Eduardo Anizelli, que trabalha na Folha de São Paulo há 7 anos, começou a relatar suas experiências em manifestações de rua. Sua fala foi ilustrada pelas fotos que produziu em diversas manifestações, desde reintegrações de posse na Cracolândia até passeatas com motivações políticas, como a falta de água no estado de São Paulo. Eduardo comentou sobre as dificuldades de fotografar ambientes como a Cracolândia, no qual diversas pessoas se misturam, desde traficantes até pessoas em situação de rua, e em manifestações em geral, nas quais existe também uma diversidade muito grande de público.

Eduardo contou a história da sua fotografia “PM que bate”, finalista do prêmio Esso de Jornalismo em 2013. “Essa foi a situação mais absurda que eu presenciei em protesto. Esse casal estava fazendo uma coisa muito errada: tomando cerveja em um bar na Avenida Paulista. Aí chegou um grupo de soldados da PM e eu percebi que eles tavam perto. Quando eles chegaram no bar, eles pediram pra fechar da maneira mais delicada possível, batendo em todo mundo, levantando as cadeiras… Aí ela foi debater, por qual motivo ela tinha que sair e levou um “carinho da polícia”.”. O fotógrafo contou que o  casal tinha participado da manifestação, mas foram para o bar procurando evitar os confrontos com a polícia.

A palavra então foi passada para Rafael Vilela, que é um dos fundadores do Mídia Ninja, que introduziu a sua fala com uma reflexão sobre como a manifestação representa muito mais do que apenar um evento, com características pré moldadas – “Temos que pensar a manifestação numa perspectiva mais ampla, na busca de direitos e do processo democrático como um todo.”.

Rafael também ilustrou sua palestra com imagens, começando por uma que representava a interligação entre pequenas iniciativas jornalísticas na cobertura da greve dos garis do Rio de Janeiro, em 2014. A imagem era composta por um mapa que mostrava como diferentes meios de comunicação se interligaram para reportar esse acontecimento, criando o que Rafael chamou de uma “nova grande mídia”, que veio pra contrapor o que é produzido pela grande mídia tradicional que tanto conhecemos.

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No caminho dessas iniciativas independentes, Rafael comentou também o impacto da transmissão das manifestações de 2013 pela internet. Esse contato imediato de quem estava presente nas ruas com quem estava em casa diversificou o sentido de participação e trouxe também a tona a questão da democratização da mídia, já que com essas novas transmissões surgem milhares de novos pontos de vista de um mesmo acontecimento.

Assim como Eduardo, Rafael contou a história de uma fotografia do Mídia Ninja que teve grande repercussão. A foto foi tirada em uma manifestação por tarifa zero em Belo Horizonte, em 2013. “É um casal que tava brigando durante o ato, o tempo todo. eles brigavam, fazias as pazes, brigavam… e aqui foi um momento meio Hollywood que rolou. Ao mesmo tempo que tinha um monte de Black Blocs invadindo uma consessionária para tirar os carros e queimar, tinha um helicóptero da PM jogando bombas de efeito moral e, exatamente no momento que que explode um bomba, eles tão se reconciliando de novo. A história é legal porque ela transcende um pouco a foto…”. Rafael conta então que essa foto foi postada rapidamente nas redes sociais, graças a ferramenta de wi-fi embutido na câmera, alcançando em pouco tempo cerca de 8 mil compartilhamentos. No entanto, o casal da foto não era na verdade um casal. No dia seguinte a postagem, a moça que aparece na imagem pediu através de mensagens para o Mídia Ninja para que a foto fosse tirada do ar, já que o moço da foto não era seu namorado. Rafael diz que para eles foi muito difícil, já que eles queriam tirar a foto do ar, em respeito a moça, mas ela já havia sido compartilhada diversas vezes.

Chico Ferreira começou então a contar sua perspectiva de cobertura de manifestações de rua. O fotógrafo revelou que uma das maiores dificuldades enfrentadas nesses conflitos é a hostilidade – “Ninguém gosta do jornalista, especialmente o de imagem. Hoje chegamos numa situação bastante peculiar, porque não é só a polícia que não gosta mais da gente, o manifestante também não. Nós somos a mídia vendida, a mídia fascista, reacionária… o tempo todo”.

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A partir daí, Chico levantou a questão da diferença entre o cidadão, que tem uma postura crítica particular e o profissional, que tem que documentar acontecimentos de maneira isenta. Para ilustrar esse conflito, Chico contou sobre um debate recente que teve com colegas de trabalho acerca da cobetura das manifestações contrárias a presidenta Dilma. “Meus colegas disseram que não iriam fotografar pois não queria fazer volume nessa manifestação. Eu defendi a ideia mas, independente da minha postura, eu não vou como cidadão, mas como profissional eu me sinto na obrigação de estar ali e registrar esse momento histórico”. Rafael Vilela, comentando esse questionamento, disse que não existe imparcialidade no jornalismo – “Se você deixa a sua parcialidade aberta e colocada, na minha opinião, é muito mais honesto do que imprimir uma certa imparcialidade, quando na verdade isso é impossível.”. Eduardo falou que nas manifestações não anda com a identificação do jornal, porque isso dificulta muito o trabalho – “Eu estou ali representando uma empresa, uma linha editorial, mas eu nunca deixei de fotografar nada por conta disso.”.

Luciana foi a última a problematizar a questão, revelando que já praticou a auto censura, em contrposição ao que foi dito por Eduardo. A fotógrafa trabalhou no Alasca documentando a caça de baleias. Em uma ocasião, os esquimós, que caçam pela sobrevivência, abateram uma baleia que estava prestes a parir. Luciana registrou a cena do filhote estirado no chão quando a caça foi cortada, mas não enviou ao jornal – “Ia ter um monte de gente que não entende o que está acontecendo, então eu me censurei”. Já em manifestações de rua, Luciana disse que enviou todas as fotos a agência internacional pela qual fez a cobertura.

Por Natália Belizário

nabelizarios@gmail.com

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