O fotojornalista João Marcos Rosa explora a biodiversidade do nosso país e nos traz para perto do desconhecido
Por Ingrid Luisa (ingridluisaas@gmail.com)
O fotojornalista João Marcos Rosa, desde 2004 na National Geographic Brasil, se especializou em retratar a vida selvagem e sua conservação. Seus trabalhos, que incluem o documentário fotográfico Harpia e mais de 20 reportagens para a NatGeo, focam sempre a natureza e sua biodiversidade. Sócio da agência de fotografia Nitro, João já teve fotos publicadas em diversos veículos como Facing Extinction (T&Ad Poiser), Mata Atlântica (MMA), Biota (Biodiversitas), entre outras. Ele estará no primeiro dia da 10ª Semana de Fotojornalismo (segunda-feira, 21), numa mesa que debaterá os impactos do fotojornalismo. Nesta pequena entrevista, João nos conta um pouco sobre sua experiência na profissão e os desafios advindos desse nicho específico em que trabalha.
Lab – Qual foi sua experiência mais impactante como fotojornalista?
Acredito que a experiência de conhecer a face humana da Amazônia foi o que mais me marcou como fotojornalista. Saber que em pontos remotos da floresta vivem populações ribeirinhas que vivem da mesma forma como a centenas de anos atrás me mostrou que a vida vai muito além dos confortos tecnológicos que temos hoje nas cidades. Essas pessoas me mostraram a essência da vida em meio à natureza.
Em quais projetos mais gostou de se envolver?
Um projeto que me marcou muito foi o da arara-azul-de-lear, espécie ameaçada que tem suas últimas populações no sertão baiano, próximo ao Raso da Catarina. Acompanhar o trabalho de pesquisadores junto à população local, em prol da conservação de um bicho tão lindo e frágil, foi uma oportunidade rara que me colocou na frente uma história linda de se contar.
Quais são os maiores desafios da profissão?
Acredito que o maior desafio do fotojornalista atualmente seja encontrar o caminho que conecte a sua linha de trabalho com os veículos de mídia existentes. Tem muita gente produzindo histórias interessantes, mas que não conseguem atingir a audiência que buscam.
Além dos trabalhos que você realiza para a National Geographic, você e outros fotógrafos criaram a agência de fotografia Nitro. O que motivou vocês a criarem a agência e qual a diferença entre os trabalhos que você realiza para a agência e para a revista?
A Nitro surgiu do anseio que tínhamos de conduzir nossos próprios projetos e criar uma estrutura que pudesse atender à demanda comercial que cada fotógrafo tinha. Com a criação da agência tínhamos uma estrutura institucional mais forte que nos possibilitou investir em arquivamento, comunicação, equipamentos e capacitação.
Não há nenhuma diferença entre o trabalho que produzo para a revista ou para a agência. Na verdade sou um fotógrafo da Nitro trabalhando para a National Geographic Brasil.
O tema principal dos seus trabalhos envolvem fotos da natureza, e você já realizou workshops para o Pantanal e, mais recentemente, para a Amazônia. De onde veio essa paixão e como surgiu a ideia dos workshops?
Sempre gostei de compartilhar as histórias por trás das minhas viagens de trabalho. Percebia que, além do interesse pelas viagens em si, as pessoas também tinham vontade de saber um pouco mais sobre como era o meu processo criativo, desde a elaboração da pauta até a concepção das fotos em campo. As palestras foram ficam pequenas para tanto conteúdo e comecei a dar oficinas em festivais de fotografia e eventos ligados à comunicação e imagem. Logo vi também o desejo de alguns dos participantes de poder viver in loco algumas dessas experiências fotográficas, então comecei a desenvolver roteiros que pudessem colocar os fotógrafos cara a cara com situações similares as que eu tinha vivido em certos lugares: onças, araras, antas, ariranhas e paisagens das mais exuberantes. Ver uma foto que te encanta é legal, melhor ainda é poder produzir aquela imagem.
Para finalizar, conte um pouco sobre qual foi o projeto mais difícil de realizar em toda a sua carreira como fotojornalista.
O documentário fotográfico sobre a harpia foi o que mais me exigiu em todos os sentidos: tempo, superação, envolvimento e busca por espaço de publicação. Foram cerca de 8 anos de trabalho, reportagens publicadas na National Geographic, GEO, Terra Mater, Época, Globo Rural, dezenas de portais de notícias e por fim um livro que pode realmente contar a história dessa espécie, os esforços para sua conservação e as ameaças às quais ela está sujeita. O trabalho me exigiu um esforço físico enorme já que grande parte das fotos foi produzida do alto de árvores, de onde podíamos observar os ninhos das harpias. Os locais desses ninhos eram quase sempre em áreas remotas, o que também exigia uma logística complexa para que chegássemos. Enfim, foi uma grande odisseia que culminou em uma narrativa visual que mostra a realidade da maior águia das Américas.
Confira o vídeo sobre o projeto: