Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

A literatura nazista na América: entre a realidade e a ficção

[Imagem de capa: Adrielly Marcelino] Ambientado dentro de um romance ficcional, “A literatura nazista na América”, de Roberto Bolaño, leva o leitor a confundir realidade com ficção, sem saber distinguir o tom fantástico nos 31 personagens do livro. A obra é escrita de modo verossímil e conectada tendo como base o contexto autoritário, opressivo e …

A literatura nazista na América: entre a realidade e a ficção Leia mais »

[Imagem de capa: Adrielly Marcelino]

Ambientado dentro de um romance ficcional, “A literatura nazista na América”, de Roberto Bolaño, leva o leitor a confundir realidade com ficção, sem saber distinguir o tom fantástico nos 31 personagens do livro. A obra é escrita de modo verossímil e conectada tendo como base o contexto autoritário, opressivo e violento do continente Americano, o autor chileno constrói seus personagens como verdadeiros heterônimos abertamente fascistas e adeptos a tais ideais.

A narrativa inicia-se com Os Mendiluce, Eldelmira Thompson de Mendiluce, Juan Mendiluce e Luz Mendiluce, que representam o cerne dessa gênesis viciosa de simpatizantes ao horror hitleriano. São os arquétipos de uma elite argentina formada por poetas e escritores que convivem dentro dos círculos literários e monopolizam os veículos de comunicação como “Letra criollas e La moderna argentina¨, revistas criadas pelos Mendiluce. Bolaño estabelece as relações e consequências do saudosismo nazista entre as gerações. Edelmira Mendiluce, a primeira da obra a realizar culto à personalidade de Hitler, dissemina o ideal de lealdade e fanatismo à figura do político alemão para sua filha, Luz Mendiluce. Descrita como uma menina “gorda e pensativa e uma mulher alcoólatra”, ela faz questão de exibir na parede um retrato de Hitler.

 No capítulo “Precursores e Anti-iluministas”, a figura emblemática de Silvio Salvático que defensor da volta da inquisição, tortura, guerra contra chilenos, paraguaios e bolivianos, e extermínio de índios em nome de uma raça ariana argentina, denota a veia de originalidade de Roberto Bolaño ao criar um arquétipo horripilante. Ainda nesse capítulo, o personagem brasileiro, Luiz Fontaine, é um homem que criminaliza e relega promiscuidade e mestiçagem generalizada em nome da moralidade familiar, representada por pensamentos retrógrados na sociedade brasileira.

Bolaño monta, nos mínimos detalhes, um quebra-cabeça com personagens de extrema direita, servindo como instrumentos que incitam a imaginação. A vida e literatura se misturam com o toque de intertextualidade promovido com os acontecimentos históricos no desenvolvimento do romance, como a Guerra Civil Espanhola, Revolução Mexicana e o peronismo.

Em uma mistura entre ficção e realidade, o autor constrói a Colônia Renascer baseada em um retrato fiel da Colônia Dignidade, no Chile.Tal assentamento foi fundado por Paul Schäfer, ex-militar nazista, e se tornou famosa por promover torturas nos tempos da ditadura de Pinochet.

O escritor, em sua obra, nos mostra que o inimigo pode morar ao nosso lado. A leitura desse livro mostra-se essencial no questionamento de ações e pensamentos de governos autoritários para que não se estabeleçam e rompam sociedades democráticas, em uma mistura de poder do discurso e fanatismo assombroso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima