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Berço de Maradona completa 35 anos de vitória na Libertadores

Na última sexta-feira, 23, aconteceu o sorteio da fase de mata-mata da Libertadores da América de 2020. A competição é o principal torneio internacional disputado por equipes da América do Sul e sempre gera grandes expectativas entre os principais clubes brasileiros, argentinos, e de todos outros países do continente. Porém, no dia 24 de outubro …

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Na última sexta-feira, 23, aconteceu o sorteio da fase de mata-mata da Libertadores da América de 2020. A competição é o principal torneio internacional disputado por equipes da América do Sul e sempre gera grandes expectativas entre os principais clubes brasileiros, argentinos, e de todos outros países do continente.

Porém, no dia 24 de outubro de 1985, há exatos 35 anos, quem ergueu o troféu foi uma equipe improvável e que hoje não atrai tanta atenção: a Asociación Atlética Argentinos Juniors. Na época, entretanto, o time estava em ascensão. Após revelar Diego Maradona na década anterior e arrecadar fundos consideráveis com a venda do passe do atleta, os bichos (apelido que remete à filosofia de futebol técnico e ofensivo), formaram um elenco campeão continental e bicampeão nacional.

Notícia da vitória do time veiculada no jornal impresso em 1985 [Imagem: Reprodução/Acervo Digital/Folha de S. Paulo]

Bicho Colorado

Para entender o caminho percorrido até a final em 1985, é preciso conhecer a história do clube. O Argentinos Juniors foi fundado em 1904 e a cor vermelha de seu uniforme foi escolhida por conta da relação de seus fundadores com o Partido Socialista Argentino. Durante as primeiras décadas de existência, o clube passou por diversos problemas econômicos, o que refletiu no desempenho em campo e no posterior rebaixamento para a segunda divisão argentina. 

De volta à primeira divisão na década de 1970, o time começou a se estabilizar, mesmo que não estivesse entre os principais e mais competitivos clubes da Argentina. Porém, nesse período, o Argentinos foi responsável por revelar um dos jogadores mais reconhecidos do país: Diego Armando Maradona. O camisa 10, um dos maiores da história, frequentou as categorias de base dos bichos desde os nove anos, e em 1976, aos 15 anos, foi promovido para o time titular.

Maradona em jogo pelo Argentinos [Imagem: Domínio Público]

Durante esse período, o pibe de oro foi cinco vezes artilheiro dos campeonatos Nacional e Metropolitano e duas vezes o melhor jogador sul-americano do ano. As chuteiras de Maradona não garantiram nenhum título para o Juniors, mas venceram o vice-campeonato argentino de 1980, a principal conquista do time até então.

As categorias de base fazem do Argentinos Juniors um time especial, mesmo que distante dos gigantes Boca e River. “Mesmo sem ser considerado um dos grandes do país, o Argentinos tem alguns privilégios que o diferenciam do resto, já que revelou Maradona, Riquelme, Redondo e tantos outros. Não há nenhum time na América que tenha a base que o Argentinos teve”, afirma Marcelo Tosoni, dono de um canal no YouTube sobre história futebolística.

Maradona foi emprestado para o Boca Juniors e posteriormente vendido para o Barcelona, o que rendeu cerca de 9 milhões de euros aos cofres do Argentinos, um valor astronômico na época. O clube, assim, conseguiu investir no bom elenco dos anos 1980. Umas das principais contratações foram o técnico Ángel Labruna, em 1983, e Roberto Saporiti, no ano seguinte. Os bichos passaram a jogar um futebol que misturava técnica e raça, o que garantiu o campeonato Metropolitano de 1984, primeiro título relevante da equipe, e a ida para a Libertadores de 1985.

 

“Libertados”

Os bichos caíram no grupo da morte ao lado de Fluminense, Ferro-ARG e Vasco da Gama. Após perderem o primeiro jogo por 1 a 0 para o Ferro, o Argentinos emplacaram uma inesperada sequência e terminaram a primeira fase empatados com o Ferro em primeiro lugar do grupo, com 9 pontos e quatro vitórias. Foi feito um jogo desempate para definir o classificado (naquela época somente o líder do grupo classificava para a próxima fase), e a vitória por 3 a 1 garantiu os bichos na semifinal.

Time do Argentinos Juniors antes da partida com o América de Cali em 1985 [Imagem: Reprodução/Arquivo El Gráfico]
Na fase seguinte, outros desafios: os bolivianos do Blooming e o também argentino Independiente, que já colecionava sete taças da Libertadores. Novamente de forma surpreendente, o Juniors terminou o triangular com duas vitórias, dois empates e a vaga para disputar o troféu.

A final foi jogada contra o América de Cali, um dos principais clubes do futebol colombiano. O primeiro jogo, em Buenos Aires, terminou com vitória de 1 a 0 para os bichos, após o gol do atacante Commisso. A partida da volta, na casa do América, terminou também em 1 a 0, mas dessa vez para os colombianos, o que exigiu uma disputa de desempate que aconteceu dois dias depois. 

Após abrir o placar em novo tento de Commisso, os argentinos viram a equipe colombiana empatar o jogo com gol de Ricardo Gareca, hoje técnico da seleção peruana. O desgaste e desânimo quase tomaram conta do elenco argentino, mas o capitão Mario Videla conseguiu dar a motivação necessária para que seus companheiros mantivessem o empate durante todo o segundo tempo. Após terminar em 1 a 1, o terceiro jogo precisou ser decidido nos pênaltis.

Gareca, Cabanãs, Herrera e Soto converteram suas cobranças para o América, mas assistiram a Olguín, Batista, Pavone e Borghi empatarem a disputa. O goleiro Vidallé adotou uma estratégia inusitada, que já havia dado errado em outras ocasiões: o arqueiro decidiu que pularia para a direita em todas as cobranças, na esperança que um dos batedores chutasse no mesmo canto. O infortunado foi o atacante do clube colombiano De Ávila, e a estratégia de Vidallé surtiu efeito. 

Entretanto, ainda era preciso que o batedor do Argentinos convertesse seu pênalti para que os bichos fossem campeões. Videla, o capitão que motivou os companheiros, foi o responsável por fazer o gol que garantiu o título da Libertadores de 1985 para o Argentinos Juniors.

Para Tosoni, “a Libertadores é o título mais importante de todos. Depois da final entre Boca e Santos em 1963, o torneio se tornou uma obsessão para os clubes grandes e um sonho para os pequenos”. Em se tratando de gigantes Boca e River, ganhá-la é obrigação, ainda mais se passam muito tempo sem erguer o troféu. “No caso dos clubes menores, é um adicional que os diferencia do resto. Uma vez que ganham a copa, eles a exibem para sempre”, completa Tosoni.

Libertadores 1985
Comemoração do Argentinos Juniors com a taça da Libertadores [Imagem: Reprodução/ Asociación Atlética Argentinos Juniors]

Pós Libertadores

Os bichos também ergueram o troféu do bicampeonato nacional naquele ano, e viajaram ao Japão para a disputa do mundial. A final foi disputada contra a Juventus de Michel Platini e Michael Laudrup, que aos 37 minutos do segundo tempo fez o gol do empate por 2 a 2, resultando na disputa por pênaltis vencida pelos italianos.

Mesmo com a derrota, o jogo ficou marcado positivamente na memória da torcida argentina, como fala Tosoni: “Foi uma das finais mais emocionantes da história, e os bichos estiveram muito perto de vencer. Me arrisco a dizer que aqui na Argentina a final do mundial é mais lembrada do que a própria final da Libertadores em que o Argentinos foi campeão”.

Apesar do ótimo elenco e da grande ascensão desde o período Maradona, os bichos não conseguiram se manter na elite nem conquistar o espaço ocupado pelos maiores clubes argentinos como Boca, River e Independiente atualmente. Dificuldades econômicas e problemas administrativos levaram o Juniors de candidato a título para a briga por se manter na primeira divisão. Depois de quase 25 anos o time conseguiu se estabilizar novamente e conquistar seu terceiro título nacional, em 2010, o último até então. Depois disso, os bichos voltaram oscilar na zona de rebaixamento, caindo em 2014 e 2016. A relevância do time atualmente faz deles um campeão improvável, distante de repetir os feitos grandiosos de 1985.

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