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Cobertura: Jornalismo para quê?

O evento “Jornalismo para quê?”, que ocorreu nesse último sábado (26), proporcionou uma rica troca de impressões sobre o mercado jornalístico entre convidados muito dispostos a dividirem suas experiências e um público bastante interessado em descobrir mais sobre o segmento. Jornalismo para empreender O primeiro bate-papo discutiu os novos modelos de negócios no meio jornalístico. …

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O evento “Jornalismo para quê?”, que ocorreu nesse último sábado (26), proporcionou uma rica troca de impressões sobre o mercado jornalístico entre convidados muito dispostos a dividirem suas experiências e um público bastante interessado em descobrir mais sobre o segmento.

Jornalismo para empreender

A primeira mesa, “Para empreender: modelos de negócio”, contou com Stefanie C. da Silveira, Anna Haddad, Renata Rizzi, Guilherme Werneck e Sérgio Lüdtke. Imagem: Jornalismo Júnior

O primeiro bate-papo discutiu os novos modelos de negócios no meio jornalístico. Stefanie C. da Silveira, doutora em comunicação pela USP e mediadora da mesa, deu início à conversa que os convidados simbolizam o surgimento de iniciativas com mais propósito e voltadas para um mercado de nicho.

Mais adiante, Anna Haddad, cofundadora da empresa Comum+, introduziu o questionamento: como sustentar um negócio sem se tornar dependente da publicidade? Conquistar assinantes e promover cursos foram soluções encontradas por ela. Guilherme Werneck, publisher da revista Bravo!, citou ainda a possibilidade de realizar projetos grandes com as marcas, com o cuidado de que haja um alinhamento entre as propostas de ambas as empresas e de promover a curadoria de objetos de arte, nova aposta da Bravo!, que lança sua loja em setembro.

Durante a rodada de perguntas, os convidados foram questionados sobre a dependência criada entre os veículos jornalísticos online e as gigantes do mercado, Google e Facebook. Guilherme salientou a importância desses sites para o aumento do tráfego nas páginas jornalísticas e para a apresentação de resultados de branded content a fim de conquistar anunciantes.

Sérgio Lüdtke, diretor da Escola de Interatores, colocou em questão o uso das redes pelas empresas: “Acho que a questão que a gente deveria discutir, quando fala das redes sociais, é se a nossa estratégia de usar essas redes para gerar tráfego nos sites é a mais correta”. Ainda segundo ele, seria mais interessante explorá-las como um meio de promoção de debates, divulgação de eventos e valorização da imagem da marca. A conversa foi encerrada com a famosa pergunta sobre o possível fim do jornalismo impresso.

De acordo com Sérgio, “não é o digital que está matando [o impresso]”. Ele acredita que o grande problema dos veículos tradicionais é não saber lidar com a concorrência, já que raramente promovem inovações e permanecem presos ao tratamento factual da notícia. Renata Rizzi, diretora do Nexo Jornal, por sua vez, afirma que as mídias impressas deixariam de existir caso fossem responsáveis por seu custeamento, mas acredita que outros ramos irão bancar a produção desse tipo de material.

Jornalismo para opinar

A mesa “Para opinar: crítica cultural”, contou com Marcelo Lyra, Pedro Antunes, Tatiana Feltrin e Cleber Facchi. Imagem: Jornalismo Júnior

Na segunda mesa do dia, esteve em debate a crítica cultural e seus desafios. Tatiana Feltrin, dona do canal “Tiny Little Things”, contou sobre a sua experiência com o YouTube. Ela criou o canal há dez anos e hoje ele possui mais de 250.000 inscritos. O que era antes dedicação à leitura como hobby, tornou-se um trabalho. Sobre trabalhar com o YouTube, Tatiana afirma que “é possível, mas é preciso também persistência”. A booktuber não se considera uma crítica literária: “O que eu faço está aquém da crítica literárias, costumo dizer que compartilho impressões de leitura, alguns detalhes que encontrei e que os outros podem não ter encontrado”.

Pedro Antunes, repórter do Estadão, expôs sua visão sobre a crítica. Para ele, o papel do crítico é fundamental para o leitor entender como a indústria cultural funciona.

Em seguida, o debate foi aberto para o público e ao ser perguntado sobre a existência de uma divisão entre cultura de ricos e pobres, Pedro disse reconhecer a cisão entre as produções populares e as “de gente inteligente”. Ele ainda destacou o desconhecimento a respeito da cultura popular dentro das redações de veículos tradicionais, relatando um episódio que presenciou: “Quando morreu o Cristiano Araújo, quase ninguém na redação sabia quem ele era”.

Mais adiante, a plateia colocou em discussão o enorme alcance dos filmes Hollywoodianos em relação aos demais. Sobre o assunto, Marcelo Lyra, professor de crítica do Itaú Cultural, reconheceu a existência da hegemonia dos grandes estúdios norte-americanos de cinema e afirmou que “acaba sendo uma tarefa do crítico mostrar para as pessoas outro tipo de filme, que talvez ela não visse nesse bombardeio de informação da grande mídia”. Cleber Facchi, criador do blog Miojo Indie, acrescentou ainda que é preciso também que o crítico catapulte artistas que foge dos padrões, “o crítico tem o papel de olhar além, de dar voz à mulher, às pessoas trans, ao artista negro”.

Houve também o depoimento de uma vestibulanda, que passou a gostar de clássicos da literatura após assistir aos vídeos de Tatiana Feltrin sobre obras obrigatórias para os maiores exames do país. Ao ser perguntada por ela a respeito de como despertar o interesse de jovens por esse tipo de leitura, a youtuber afirmou que há formas do professor estimular a prática em sala de aula, incluindo segmentar leituras e criar certo suspense ao abordar o enredo da obra.

Por fim, Marcelo Lyra falou sobre a importância de fomentos à produção cinematográfica brasileira. Para ele, devido ao seu alto custo, o cinema é arte, mas também é indústria. No caso do Brasil, o cinema não tem condições de se manter somente com a bilheteria e, portanto, depende de investimentos como a Lei do Audiovisual. “Com a Embrafilme o Brasil produzia cerca de 50 filmes por ano, quando ela fechou, passou a produzir um ou dois filmes por ano. Formas de incentivo à cultura são importantes, porque sem elas acaba o cinema brasileiro”.

Jornalismo para debater

A mesa “Para debater: cobertura política”, contou com César Felício (Valor Econômico), Anna Virginia Balloussier (Folha), Breno Altman (Opera Mundi) e Alana Rizzo (Abraji). Imagem: Jornalismo Júnior

O evento “Jornalismo para quê?” seguiu com a mesa mais acalorada do dia. Discutindo sobre o papel atual da cobertura política, as diferenças ideológicas entre os palestrantes deu um tom à mesa que tinha tudo para não ser morna.

O mediador César Felício, que trabalha no jornal Valor Econômico, começou as apresentações iniciais comentando que o seu veículo apresenta ao público uma política generalista com coberturas seletivas, abrangendo fatos pontuais. Em sua carreira de 24 anos cobrindo a área política, ele vê o cenário paulista e brasiliense como totalmente distintos.

Seguindo com as apresentações, Alana Rizzo disse que buscou especialização na Universidade de Chicago no início do ano para entender as relações entre os setores público e privado, e como a corrupção interage com ambos. Ela também é diretora da Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, e disse que a preocupação atual do grupo é com a liberdade de expressão dos jornalistas, que sofre com alguns cerceamentos em diversos países,  e também com as questões de gênero dentro das redações.

Ana Virgínia Ballousier foi a próxima palestrante a se apresentar na mesa de debate. Pegando o gancho de ter realizado, como correspondente internacional em Nova Iorque pela Folha de S. Paulo, a cobertura do pleito de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, ela disse que, inicialmente, não gostaria de escrever para a seção “Poder” do jornal, pois não acredita que os brasileiros se interessem pela política do país. Ana aponta como a causa a falta de conexão com a realidade da rotina dos brasileiros e diz que o maior desafio dos repórteres é transformar a política em um setor atrativo para a leitura.

Encerrando a primeira parte, Breno Altman, dono do site sobre política internacional Opera Mundi, discursou sobre o papel dos veículos alternativos nesse tipo de cobertura. Ele apontou duas utopias da função do jornalismo na sociedade, sendo elas informar e mudar o mundo, mas afirma que ambas falharam, já que não foram atingidas pela profissão.

Após as apresentações iniciais, a rodada de perguntas da plateia foi iniciada. A primeira pergunta gerou discordâncias entre os palestrantes.

Questionado sobre se há uma preocupação do jornalismo com a democracia, César disse que o Brasil é um país instável, mesmo sendo uma república democrática, mas acredita que a imprensa não tem tanto poder para transformar os rumos políticos do país e que há uma superestimação dessa função pelo público.

Ana focou no que chamou de “microcosmo” do jornalismo, as redações. Ela afirmou que elas são espaços pluralizados, em que há profissionais com linhas de pensamento dissonantes, mesmo que os veículos em si sejam compartimentados em linhas extremistas por algumas pessoas.

Breno Altman, no entanto, discordou das palavras de Ana. Ele disse que a imprensa brasileira é, historicamente, “qualquer coisa, menos democrática” e que os jornalistas obedecem os interesses dos donos dos veículos de comunicação, seguindo suas convicções.  Ele apontou a revista Veja como um exemplo, sendo ela um “veículo igreja”, ou seja, um meio de doutrinação dos leitores. Ana rebateu as críticas do jornalista, dizendo que as simplificações ideológicas da Imprensa são falhas.

Fechando a resposta à primeira pergunta, Alana disse que a liberdade de imprensa é um pilar da democracia e que é necessário realizar sua manutenção.

Sobre a cobertura política brasileira de países não centrais, os palestrantes concluíram que os jornais cobrem bem a situação política em países latino-americanos por sua proximidade, no entanto, como Alana Rizzo apontou, as equipes de cobertura internacional nas redações estão diminuindo, o que contribui para uma seleção comercial das notícias de outros países, optando-se por situações maiores e mais trágicas. Em contrapartida, Breno afirmou que a “cobertura internacional é a expressão mais colonizada e parcial da imprensa”, dizendo que os veículos preferem as notícias de países centrais em detrimento de outros que, às vezes, estão mais conectados com a história brasileira, a exemplo dos países africanos.

Assuntos como “furo de reportagem” e a dificuldade do jornalismo em atingir um público ampliado foram trazidos ao debate. César apontou a Internet como um instrumento de difusão de informação que se adianta ao jornalismo tradicional, questão complementada por Alana, que considera a necessidade de apuração, questionamento e checagem antes de um “furo” jornalístico ser publicado.

Terminando as discussões da mesa, Ana Virgínia, assim como Breno, concordaram que é necessário realizar matérias mais pedagógicas nos jornais a fim de captar um maior número de pessoas para reportagens densas.

Jornalismo para aprofundar

A última mesa “Para aprofundar: livro-reportagem” contou com Laura Mattos, Carlos Maranhão, Susana Berbert, João Peres e Esther Solano. Imagem: Jornalismo Júnior

A última mesa do dia foi destinada aos livros-reportagem. Nela, foi possível perceber o amor que os palestrantes tinham pela escolha de condensar suas matérias em livros, que todos fizeram para dar visibilidade ao outro.

Discutindo sobre o impacto da Reforma Trabalhista na profissão, Carlos Maranhão, escritor da biografia de Roberto Civita, acredita que ela não prejudicará os jornalistas. João Peres, autor do livro “Corumbiara, caso enterrado”, e Esther Solano, coautora de “Mascarados: a verdadeira história dos adeptos da tática black bloc”, no entanto, discordaram da opinião de Maranhão e afirmam que a Reforma piorará uma situação caótica. Laura Mattos, autora do livro “Roque Santeiro e a ditadura militar brasileira em três atos – A política por trás das telas” opina que a terceirização prejudicará financeiramente na elaboração de livros, já que não são todos os jornalistas que recebem antecipadamente para escrever uma obra.

A segunda pergunta questionou as dificuldades no processo de escrita de um livro reportagem. Situações como fazer um recorte inédito, fazer boas entrevistas, manter uma distância emocional do entrevistado e permitir com que a voz dele sobressaia a suas crenças foram colocadas como a chave de um bom livro.

O conceito de “lugar de fala” também foi abordado pela plateia, o que gerou surpresa entre os palestrantes por ser uma pergunta  diferente das habituais. Susana Berbet, autora de “Bienvenidos – história de bolivianos escravizados”, disse que essa questão a “atormentou” enquanto escrevia seu livro, pois sua visão da vida de seus entrevistados era diferente daquela que eles próprios tinham e, por isso, decidiu dar voz a sua personagem sem fazer nenhum tipo de julgamento no final. Para Esther, o “lugar de fala” não é uma censura, mas sim, a humildade do jornalista reconhecer que há uma barreira entre ele e as experiências do entrevistado.

Encerrando a última mesa, os palestrantes retificaram o papel do livro em permitir que o outro tenha sua voz amplificada, sendo o objetivo do jornalista ser um mediador liberto de estigmas pré-concebidos.

Democracia no jornalismo, lugar de fala, censura e visibilidade, essas foram os conceitos mais comentados pelas últimas mesas.  O dia terminou com o público refletindo sobre eles e ansioso pelos próximos eventos da Jornalismo Júnior.

Por Bruna Diseró e Letícia Vieira Santos
bubsoresid@usp.br| leticiavs@usp.br

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