Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Desafiando papéis de gênero

por Luiza Magalhães abmluiza@gmail.com Os filmes são reflexos da cultura em que estão inseridos e costumam influenciar significativamente o modo das pessoas enxergarem o mundo. Por vivermos em uma sociedade que estabelece papeis definidos para cada gênero, o cinema, de um modo geral, contribui com essa convenção reforçando estereótipos. Filmes românticos, por exemplo, são voltados …

Desafiando papéis de gênero Leia mais »

por Luiza Magalhães
abmluiza@gmail.com

Os filmes são reflexos da cultura em que estão inseridos e costumam influenciar significativamente o modo das pessoas enxergarem o mundo. Por vivermos em uma sociedade que estabelece papeis definidos para cada gênero, o cinema, de um modo geral, contribui com essa convenção reforçando estereótipos. Filmes românticos, por exemplo, são voltados para mulheres, enquanto filmes de ação são considerados masculinos. Mas não é só isso. O comportamento dos personagens e o enredo têm grande influência também. Desde pequenos assistimos filmes em que é norma a família “tradicional”, em que as mulheres são submissas e os homens são os chefes da casa, as mulheres cozinham e os homens jogam futebol. Isso aos poucos vai ajudando a formar uma imagem da sociedade que não é tão simples de ser mudada. No entanto, alguns filmes desafiam a regra e tratam justamente dessa mudança.  Ao contar histórias de pessoas que sofrem por estarem presas às limitações impostas a seu gênero, eles colaboram com a desconstrução dos rótulos e trazem importantes reflexões ao público acerca do tema.

O longa Billy Elliot (2000) se passa na Inglaterra durante a greve das minas de carvão nos anos 80. Billy, interpretado por Jamie Bell, é um menino de 11 anos, filho de um mineiro, que treina boxe mas não se dá muito bem com o esporte. Ao participar de uma aula de ballet com as meninas, seu talento para a dança é percebido por ele e pela professora, que o convida a se juntar a elas nas próximas aulas. A partir de então, ele desiste do boxe e passa a praticar ballet todos os dias, mas é repreendido fortemente quando seu pai e seu irmão descobrem. Apesar de alguns risinhos direcionados a ele de vez em quando, as meninas do grupo não demonstram problemas com a presença do menino; afinal, na época, mesmo que em menor número, já existiam dançarinos homens, inclusive alguns famosos. O maior preconceito que Billy sofre vem de sua própria família. Eles não aceitam que o menino faça uma atividade “de menina” e tentam a todo custo proibi-lo. Mas sua paixão pela dança e o apoio da professora, que o incentiva a fazer um teste para uma escola de dança em Londres, o motivam a continuar. Somente após vê-lo dançando o pai começa a mudar de opinião, e ele acaba deixando que o filho tente entrar na escola de dança, motivado pela possibilidade de uma vida melhor longe das minas de carvão.

Em Mulan (1998), a situação toma proporções maiores. A animação da Disney, inspirada na lenda chinesa de Hua Mulan, conta a história de uma jovem que se disfarça de homem para lutar na guerra contra os hunos. Logo no início do filme observamos a dificuldade de Mulan em se adequar ao que era esperado de uma mulher na época da China Imperial. A única maneira de uma moça trazer honra para sua família era se casando e tendo filhos. Portanto, Mulan é obrigada a se preparar para encontrar um marido, mas acaba causando uma má impressão na casamenteira por não se adequar ao padrão. Quando o imperador chinês convoca um homem de cada família para combater os hunos, que haviam invadido o império, Mulan resolve ir no lugar de seu pai por ele já estar muito velho para lutar. Ela então corta o cabelo, pega a armadura e a espada do pai e foge para se apresentar ao exército. Se descoberta, ela poderia ser punida com a morte. Entretanto, quando sua identidade é revelada, o capitão a perdoa por ela ter salvado sua vida. O filme aborda as expectativas de como um homem ou uma mulher devem ser, e Mulan, apesar de algumas dificuldades para se adaptar no exército, consegue superar todos os desafios que surgem e se tornar uma ótima guerreira, inclusive salvando a China.

Outro filme em que uma mulher se passa por homem é Shakespeare Apaixonado (1998). O filme foi vencedor de sete Oscars, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Atriz para a interpretação de Gwyneth Paltrow. Nele, a jovem Viola de Lesseps se veste com roupas masculinas e faz um teste para atuar em uma peça de Shakespeare. No século XVI, mulheres ainda não podiam participar do teatro – todos os personagens, inclusive femininos, eram representados por homens. Após ela obter o papel de Romeu, Shakespeare descobre que o “ator” era na verdade a mulher por quem ele tinha se apaixonado. Eles mantêm o segredo e continuam ensaiando a peça, porém, quando a identidade de Viola é exposta, o teatro é fechado. Por fim, o grupo consegue outro lugar para apresentar a peça, com Shakespeare no papel de Romeu, mas o ator que interpreta Julieta desiste e Viola entra em seu lugar, chocando todos. Ela consegue escapar sem ser punida, pois a Rainha, que estava presente, o permite. Mesmo assim, ela tem que ir embora para a colônia junto ao homem com quem fora obrigada a se casar, e Shakespeare começa a escrever uma nova peça inspirado por ela. Essa peça, Noite de Reis, foi a inspiração para outro filme: em Ela é o Cara (2006), a protagonista Viola Hastings (Amanda Bynes) se passa por seu irmão para jogar futebol em seu lugar após o time feminino de sua escola ter sido cortado.

Shakespeare-in-Love-shakespeare-in-love-25094248-640-375

O filme O Sorriso de Mona Lisa (2003), estrelado por Julia Roberts, Kirsten Dunst e Julia Stiles, aborda as limitações trazidas pelos papeis de gênero de um jeito diferente. Na história, que se passa nos anos 50,vemos personagens que se conformam com a vida que a sociedade espera que elas tenham. A maioria das alunas da Wellesley College, uma faculdade feminina conservadora, têm como única meta se casarem logo e se tornarem boas esposas para seus maridos. Com a chegada da professora de história da arte Katherine Watson, que tem um pensamento bem mais liberal, as coisas começam a mudar. Ela tenta abrir a mente das garotas tanto em relação à arte moderna quanto às suas perspectivas de vida e, apesar de no início as alunas não aceitarem e debocharem de seu método, ao longo do filme elas começam a ser influenciadas por seu pensamento. O maior impacto causado foi em Betty Warren, a mais conservadora entre as alunas. Betty se vangloria por já ter se casado e está sempre criticando Katherine por ela encorajá-las a seguir uma carreira ao invés de se tornarem donas de casa. Porém, após descobrir que seu marido tinha um caso com outra mulher, ela se divorcia, contrariando seus pais, e diz que está considerando estudar direito. No fim do filme, ela escreve no jornal da faculdade agradecendo a professora por fazê-las enxergar o mundo com novos olhos.

Grande parte dos filmes em que alguém faz alguma atividade “proibida” para seu gênero tem algo em comum: a pessoa passa a ser aceita quando descobrem que ela tem um talento excepcional pra tal atividade. Isso é algo que poderia ser mais explorado, pois nos faz questionar: e se Billy Elliot não fosse bom no ballet, sua paixão pela dança seria menos válida? Ainda há um longo caminho a ser percorrido, porém é indiscutível a importância desses filmes: eles geram reflexões sobre assuntos como preconceito e aceitação, além de poderem confortar pessoas que não se adequam aos papeis impostos e encorajá-las a ir além dos limites de seu gênero.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima