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EXCLUSIVO para mulheres: dá (ou não) trabalho para fazer?

Imagem: Giovana Christ/Comunicação Visual Os programas ditos femininos surgiram na televisão quando esse aparelho invadiu os lares brasileiros na década de 1950. Mas o jornalismo dedicado exclusivamente a esse gênero já era algo comum na sociedade do século XIX, quando os jornais impressos separavam seções ou publicações inteiras para as mulheres, com matérias sobre literatura …

EXCLUSIVO para mulheres: dá (ou não) trabalho para fazer? Leia mais »

Imagem: Giovana Christ/Comunicação Visual

Os programas ditos femininos surgiram na televisão quando esse aparelho invadiu os lares brasileiros na década de 1950. Mas o jornalismo dedicado exclusivamente a esse gênero já era algo comum na sociedade do século XIX, quando os jornais impressos separavam seções ou publicações inteiras para as mulheres, com matérias sobre literatura e moda. Os anos passaram e o conteúdo dito “feminino” não sofreu graves transformações, encaixando-se até hoje em fórmulas exploradas pela televisão, especialmente, durante as tardes.

De acordo com a dissertação de mestrado de Gaya Cristina de Campos Machado, “Programas femininos da televisão aberta brasileira – A hipótese do infotenimento”, o primeiro programa nesse estilo foi o “Revista Feminina” na antiga e extinta TV Tupi. Ele era apresentado atriz Maria Teresa Gregori e tinha como pautas a moda, frequentemente associada às mulheres, questões da saúde feminina, culinária e cursos de artesanato ao vivo. O programa durou mais de treze anos na rede Tupi e foi um sucesso de audiência entre um público seleto, as “donas de casa”.

Durante os anos 60, quando o feminismo começou a conquistar as mulheres pelo mundo, a televisão tentou reformular as pautas desses programas sem o sucesso esperado. Um exemplo desses programas revolucionários foi o vespertino “Xênia e Você” transmitido pela rede Bandeirantes em 1968. O programa convidava médicos, filósofos e psicanalistas para debater assuntos tabus da época e promover a defesa da mulher, sendo que a apresentadora, Xênia Bier, também tinha posicionamentos polêmicos. Mas foi na década de 80 que um programa destinado à mulher moderna foi construído na rede Globo: o TV Mulher, apresentado por Marília Gabriela e também com a presença de  Xênia Bier, Clodovil Hernandez e Ney Gonçalves Dias. TV Mulher teve a razoável duração de seis anos e, recentemente, foi produzido novamente pelo canal Viva, após mais de trinta anos, com a apresentação de Marília Gabriela.

Marília Gabriela no TV Mulher

Mas, apesar desses expoentes extraordinários, o fato é que os programas dedicados às mulheres hoje em dia ainda são construídos de acordo com a fórmula perfeita para conquistar a audiência das famigeradas “donas de casa”. Segundo a jornalista Giovanna Castro, que escreveu de maneira irônica, a fórmula é como uma receita de bolo: um chef de cozinha, um ginecologista, dicas de como cuidar da casa e da família, entrevistas com artistas. Nesses anos, também foi adicionada a essa receita um jornalista especializado em celebridades e um astrólogo para dar o horóscopo da semana.

A naturalização do típico papel da mulher na sociedade é presente na maioria dos programas que usam essa fórmula. Ele são construídos para conquistar as “donas de casa”, que nada mais são do que o arquétipo da mulher feminina, mulher mãe, mulher atrelada às funções específicas do cuidar da casa. E, às vezes, as pautas desses programas não são feitas para isso de forma maquiavélica. Na verdade, é o espelho da estereotipação “natural” da sociedade.

Hoje, os programas femininos fazem parte da grade diária dos canais de televisão no Brasil e são um dos grandes responsáveis por suas audiências. O Sala 33 fez uma lista dos principais programas:

 

Mulheres – TV Gazeta

O programa Mulheres foi apresentado no período de 2002 até 2017 por Cátia Fonseca, que deixou a emissora para assumir um programa em moldes parecidos na Bandeirantes, sendo substituída por Regina Volpato no final do ano passado.  O programa, veiculado pela Gazeta, se consolidou como o mais longevo da televisão brasileira com a marca de 37 anos no ar.

O sucesso do Mulheres se deve, essencialmente, pelo programa se firmar na “fórmula” clássica dos programas femininos. Diariamente ele transmite ao público as notícias das celebridades e ensina receitas doces e salgadas. A cada dia, também há convidados que abordam a saúde da mulher, apresentam o horóscopo da semana, cantam e passam informações curiosas àqueles que os assistem de maneira leve e divertida.

 

Mais Você – TV Globo

O programa matutino Mais Você é apresentado por Ana Maria Braga e existe desde 1999. Ele ficou marcado por sair da simples apresentação de receitas culinárias para ter como tema de suas matérias questões culturais, moda e comportamento, além de entrevistas com artistas da própria Globo que vão ao programa para tomar o “café da manhã” com Ana Maria. Além disso, o uso de um boneco, Louro José, como co apresentador, tornou Mais Você mais atraente para o público em geral.

 

Encontro – TV Globo

Apresentado pela jornalista Fátima Bernardes, Encontro pertence àquela classificação de ponto fora da curva dentre os programas femininos da televisão hoje. Ele aborda temas tabu em seus episódios, como a discussão de gênero, religião, racismo e problemas sociais que estão em alta, fazendo um link com o que está sendo abordado pelo jornalismo brasileiro à época, e propõe o debate dessas questões em uma tentativa de desvincular a imagem da Globo como uma instituição conservadora em essência.

 

A Tarde é Sua – Rede TV

O programa comandado por Sônia Abrão representa aquilo que mais dá audiência na televisão hoje em dia: o jornalismo de celebridades. Esse tipo de programa também está presente no SBT, com o programa Fofocalizando apresentado por Décio Piccinini, Mamma Bruschetta, Mara Maravilha, Leo Dias, Leão Lobo e Lívia Andrade; na Rede Record, onde está inserido dentro do jornal vespertino Balanço Geral comandado por Reinaldo Gottino, na chamada “Hora da Venenosa” com Fabíola Reipert; e no clássico, também da Rede TV, TV Fama de Nelson Rubens e Flávia Noronha.

A sua associação ao universo feminino é colocada pela própria Sônia Abrão que disse, quando apresentava um programa no SBT, que ela faria um programa sem fogão, mas que ainda atendia às mulheres com muita fofoca. A fofoca, aliás, é mais uma das atividades relacionadas exclusivamente ao universo feminino, sendo comum ouvirmos a frase “homem não faz fofoca, isso é coisa de mulher” no dia a dia. Mas, por que existe essa associação? A fofoca é, de fato, uma questão de gênero ou de propensão?

 

Atualmente, os programas desse gênero vem sofrendo remodelações. Há a tentativa de ampliar o público alvo para além das “donas de casa” e conquistar a mulher contemporânea e sua família que, por enes razões, podem assistir ao seu conteúdo. A expansão dos programas para a Internet, com o uso das mídias sociais e de plataformas que permitem o arquivamento dos vídeos dos programas, foi um marco interessante nesse processo de conquista de novos públicos que também ampliou o poder desse tipo de conteúdo.

A fórmula “culinária + saúde + notícias de celebridades” não mudou, é fato. Mas, as pautas são construídas de forma diferente, são mais inquisitivas, retratam os problemas sociais e elevam o potencial questionador do público. Questões como feminismo e irmandade, empoderamento da mulher e desconstrução de padrões machistas também começaram a aparecer no discurso dos apresentadores e nos temas propostos no dia, o que retira desses programas a marca de serem alienantes.

Os programas “femininos” continuarão existindo, pois seu público está em renovação e eles próprios acompanham essas mudanças. Linkados a Internet, remodelando-se às questões mais atuais e propondo o empoderamento da mulher, o modelo simplório pode ser uma ferramenta relativamente importante na reconstrução de uma sociedade mais igual.

Por Bruna Diseró
bubslovegood@gmail.com

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