Você chega em casa, liga a televisão e o seu programa jornalístico preferido está passando. Toda a iluminação, as perguntas que os repórteres fazem e as pessoas que entrevistam foram planejadas para aquele momento. Mas como será que funciona todo o processo, desde a ideia até a veiculação daquele programa?
Em programas como A Liga ou Profissão Repórter, a primeira coisa a se fazer é definir o tema da próxima edição. Em uma reunião de pauta, a equipe discute os possíveis assuntos a serem abordados nos próximos programas e a forma como aquilo será apresentado ao público. Às vezes, o tema pode ser imposto pela emissora. Depois que se decide isso, discute-se as possíveis fontes, ou seja, os entrevistados. Como a equipe desses programas é grande, dividem-se as tarefas entre elas.
Em A Liga, quem se encarrega de cada parte do programa são os produtores. Eles são responsáveis por organizar tudo o que será necessário para as gravações, como ir atrás dos entrevistados, das autorizações de uso de imagem das pessoas que aparecerão no programa, da locação de lugares onde ele será gravado, da preparação dos equipamentos que serão utilizados e de todas as partes mais burocráticas. Os repórteres apenas apresentam o programa, pois não foram eles quem prepararam tudo. Os produtores dão todo o material que já foi coletado para os repórteres estudarem sobre o tema. “A Liga é um programa muito marcado pela improvisação na hora da entrevista, então os apresentadores já estão acostumados com isso”, diz Bruna Escaleira, que trabalhou na pós-produção do A Liga. Mesmo sem eles mesmos prepararem que perguntas farão e com quem conversarão, eles se familiarizam rápido com o tema e conseguem fazer boas entrevistas.
Já no Profissão Repórter, quem comanda a equipe dividida na reunião de pauta é o próprio repórter. Ele vai atrás dos entrevistados e da equipe que irá com ele aos lugares. Muitas vezes, como não sabe o que vai encontrar na rua, ele não tem como preparar muitas coisas previamente. Isso acontece no caso de pautas mais quentes, ou seja, que vão cobrir acontecimentos mais recentes ou que ainda estão em curso e que precisam sair logo para não ficarem ultrapassados. No caso de pautas frias, isto é, de assuntos que não têm uma data certa para ir ao ar, o repórter tem mais tempo para pesquisar a respeito do tema.
Uma vez na rua, são gravadas imagens do ambiente que podem ser utilizadas depois, durante a edição, para compor o OFF. Sabe quando imagens que têm a ver com o tema ficam passando e a voz do repórter vai narrando no fundo? Isso é um OFF. A voz do repórter pode ser gravada tanto in loco, ou seja, no próprio local com o mesmo microfone com que são feitas as entrevistas, como em estúdio posteriormente. Além das imagens do ambiente, são feitas as entrevistas com as pessoas selecionadas ou pelo repórter ou pelo editor.
Depois de coletado todo esse material, é a hora da edição. Todas as partes desnecessárias serão cortadas, para que o programa fique exatamente com o tempo destinado a ele. O que aparece na TV pode enganar o público, pois uma entrevista que é exibida durante dez minutos com certeza demorou muito mais do que isso para ser gravada. Profissão Repórter é um programa com duração de meia hora, mas, segundo o repórter Caio Cavechini, há edições em que são gravadas até 50 horas de vídeo! Em televisão, cada segundo é precioso, pois há um horário certo para os comerciais e para o início da próxima atração. Uma matéria, por exemplo, de dez minutos pode parecer curta, mas, em geral, as reportagens de um jornal diário têm algo entre dois e três minutos. Preste atenção da próxima vez que assistir!
Além do corte de excessos, as imagens filmadas anteriormente são sincronizadas com as vozes do OFF e os letreiros (com nomes, funções e locais, que sempre aparecem nos jornais) são colocados. Outra etapa importante, que é preparada por editores de arte e designers e adicionada na edição, é toda a parte de arte que ajudará a explicar o tema para o telespectador, como gráficos, mapas, tabelas e desenhos. Conforme explica Bruna Escaleira, que trabalhou na pós-produção do programa da Rede Bandeirantes, em programas que tratam de temas polêmicos, como é o caso de Profissão Repórter e A Liga, é essencial embaçar imagens que exponham elementos que não devem aparecer para não causar problemas judiciais, como placas de carros, marcas e o rosto de pessoas que aparecem envolvidas na cena e não autorizam que sua imagem seja veiculada.
Depois de tudo isso pronto, o programa pode ser mandado para o ar. No caso de A Liga, não é a própria Rede Bandeirantes quem o produz, mas uma produtora contratada. Nesse caso, o programa pronto ainda precisa ser mandado para a emissora. Você deve estar pensando que, num mundo tão conectado como o que vivemos hoje, é só mandar por e-mail ou por nuvem, que é aquele armazenamento de dados na internet, não é? Não é bem assim. Como o programa é todo feito em HD, os arquivos seriam muito pesados para serem enviados digitalmente. Por isso, um motoboy precisa levar as fitas do programa da produtora onde ele é feito até a emissora.
O fechamento da produção do programa depende da dificuldade ao longo de todo o processo. O ideal é finalizar cerca de quatro dias antes dele ir ao ar, mas às vezes acontece de a equipe só conseguir acabá-lo no próprio dia. Já imaginou o corre-corre?
Em geral, o processo de produção, mesmo com os programas sendo semanais, leva mais do que isso. Em cerca de três semanas, consegue-se fechar uma edição. Logicamente, para isso, as equipes trabalham com edições diferentes ao mesmo tempo.
É corrido, mas em televisão quase tudo funciona assim. Agora que você já viu por tudo que as equipes passam para produzir os programas, é só sentar e relaxar para assistir tudo o que foi preparado para você, telespectador!
Por Victoria Salemi
vicbsalemi@gmail.com