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Futebol de 7, o futebol que o brasileiro desconhece

Por André Netto O Brasil é um país conhecido por sua pluralidade, pelo samba, pelo carnaval e principalmente pelo futebol. As cinco Copas do Mundo e a beleza do estilo de jogo brasileiro nos tornaram famosos por todo o mundo, e não é apenas no futebol convencional, com onze de cada lado, que nosso país se …

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Por André Netto

O Brasil é um país conhecido por sua pluralidade, pelo samba, pelo carnaval e principalmente pelo futebol. As cinco Copas do Mundo e a beleza do estilo de jogo brasileiro nos tornaram famosos por todo o mundo, e não é apenas no futebol convencional, com onze de cada lado, que nosso país se destaca. No Futebol de 7, ou Futebol de PC, modalidade que reúne atletas com paralisia cerebral, também somos uma grande potência.

Como funciona?

Como em um jogo de futebol convencional, a meta dos jogadores em campo é fazer o gol. Os sete esportistas pertencem às classes menos afetadas pela paralisia cerebral, e a modalidade ainda é exclusivamente masculina. Atualmente, os atletas são divididos em três categorias de acordo com seu nível de deficiência: FT1, FT2 e FT3 – quanto menor o número, maior o grau de paralisia cerebral. A regra atual obriga que os times tenham pelo menos um jogador FT1 em campo (caso não seja possível, o time pode jogar com seis jogadores) e no máximo um da classe FT3.

Os atletas mais afetados pela paralisia costumam ser os goleiros das equipes, já que têm maior comprometimento de suas funções motoras. Vale lembrar ainda que, apesar de afetar a capacidade motora, em 50% dos casos a paralisia não compromete a capacidade intelectual das pessoas, de acordo com a Associação de Paralisia Cerebral de Braga.

As outras regras são baseadas no padrão Fifa, porém com algumas pequenas adaptações: o jogo possui dois tempos de 30 minutos, e é disputado em um campo de 70m x 50m, menor do que o do futebol convencional. Assim, o tamanho da baliza também foi reduzido (5m x 2m) e a marca do pênalti fica a 9,20 metros do gol. Outras diferenças são o fato de o jogo não possuir impedimento e a possibilidade dos jogadores cobrarem o lateral com apenas uma mão, desde que a bola toque o chão imediatamente o solo após a cobrança.

História do esporte

O Futebol de 7 foi criado em 1978, durante a terceira edição dos Jogos Internacionais para Paralisados Cerebrais, realizada em Edimburgo, na Escócia. Passou a ser divulgado e, em 1982, foi realizado o primeiro campeonato mundial, na Dinamarca. Dois anos depois, esteve presente pela primeira vez em uma Paralimpíada, sendo os belgas os primeiros campeões da modalidade.

Na última edição, no Rio de Janeiro, os campeões foram os ucranianos, que se sagraram tricampeões paralímpicos; a prata ficou com o Irã e o bronze, com o Brasil, a terceira medalha do país na modalidade (bronze em Sydney 2000 e prata em Atenas 2004).

Os países mais vencedores das Paralimpíadas são Holanda e Ucrânia, com três medalhas de ouro cada um. Atualmente, a Holanda não possui mais tanta força, e Ucrânia, Rússia, Brasil e Irã formam a elite do Futebol de PC, sendo que, nas últimas cinco edições das Paralimpíadas, todas as medalhas foram para algum destes países.

O domínio também aparece nos últimos dez mundiais realizados pela Cerebral Palsy International Sports and Recreation Association (CPISRA), que comandou a modalidade de 1978 até 2014, e pela International Federation of Cerebral Palsy Football (IFCPF) que atualmente é quem comanda o esporte. Nestas competições, as três primeiras posições foram compartilhadas pelos mesmos quatro países, ainda que apenas Rússia e Ucrânia tenham sido campeãs. O melhor resultado do Brasil são dois vices: um em 2003, na Argentina, e outro em 2013, em Saint Cugat del Vallès, na Espanha.

Já nas Américas, o Brasil possui um amplo domínio, sendo o atual bicampeão Parapanamericano após vencer a Argentina por 5 a 0 em 2007 e novamente, em 2015, por 3 a 1 (em 2011, no México, houve apenas Futebol de 5, modalidade para cegos). Também atual bicampeã da Copa América, a seleção brasileira, vai em busca do tricampeonato da competição, neste ano de 2018, em casa, já que o torneio será realizado em Natal, durante os dias 10 a 21 de outubro.

Hoje, no ranking feito pela IFCPF, que leva em conta partidas dos últimos quatro anos com peso igual, a Ucrânia lidera o ranking com folga. O Brasil está em segundo, na frente da Holanda e dos Estados Unidos. Como não jogaram muito nos anos de 2015 e 2016, Irã e Rússia, respectivamente, aparecem apenas em nono e oitavo. Se fossem levadas em consideração as três melhores pontuações nos últimos quatro anos, estariam apenas atrás da Ucrânia no ranking.

Futuro do esporte

Pela primeira vez desde 1984, o futebol de PC não estará presente nos Jogos Paralímpicos, que serão realizados em Tóquio em 2020. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) alegou que o esporte não tinha alcance global suficiente para permanecer, e, junto com a vela paralímpica, foi substituído por badminton e pelo taekwondo.

As seleções então perderam o maior evento de seus calendários. Ainda assim, os mundiais continuam, sendo que, em agosto deste ano, a seleção Sub-19 conquistou o torneio da categoria, realizado novamente em Saint Cugat del Vallès. Os campeonatos nacionais também não param. A ANDE (Associação Nacional de Desporto para Deficientes) realiza dois campeonatos nacionais, reunindo 168 atletas e três campeonatos regionais, reunindo 120 atletas.

Time da AMAPED/RJ, que se sagrou campeã da divisão de acesso do Campeonato Brasileiro de PC, organizado pela ANDE. (Imagem: ANDE)

A associação também é quem comanda a Seleção Brasileira de Futebol de PC, e teve de se reprogramar com o anúncio da retirada do esporte das próximas Paralimpíadas. O time vem sendo renovado depois dos jogos do Rio 2016, já que a equipe que havia disputado a competição estava ficando velha. Assim, a seleção Sub-19 passou a treinar junto com o time principal, para que os jovens pudessem adquirir mais experiência.

Foi assim que Lucas Fernando, goleiro e capitão da seleção Sub-19 conheceu o companheiro de posição Marcão, que tem seis Paralimpíadas no currículo. O jovem atleta contou em entrevista ao Arquibancada que até então não se espelhava em ninguém, mas o contato com o goleiro mudou essa visão: “hoje me inspiro nele, quero fazer meu nome, igual ele fez o dele!”.

Lucas conta que começou a praticar o esporte há três anos, depois de muita insistência de seu professor de educação física, Fernando Mairani. Quando finalmente se abriu para o esporte, se apaixonou. Hoje é atleta da Associação Paradesportiva da Baixada Santista (Apb Santista), que possui uma parceria com o Corinthians, e é um nome frequente nas convocações do técnico Rodrigo Terra. Foi eleito o melhor goleiro da categoria de acesso do Campeonato Brasileiro de 2018.

Lucas Fernando recebe o prêmio de melhor goleiro da divisão de acesso do Campeonato Brasileiro de PC. (Imagem: ANDE)

O jovem goleiro demonstrou seu descontentamento quanto à retirada do Futebol de PC das Paralimpíadas de Tóquio, não apenas pelo fato de não poder participar de um evento de tamanho porte mas também pela influência que isso tem nos patrocínios e verbas das federações.

Por fim, ele ainda comenta sobre a dificuldade que os atletas têm para viver apenas do esporte: “Não está fácil, aliás nunca foi. A maioria dos atletas tem um trabalho secundário, o que é bem triste. Meu maior sonho é ter uma vida estabilizada pelo futebol, conseguir tirar o pão pelo futebol”. O problema é que o futuro do Futebol de PC não parece ser muito promissor: pouco veiculado na grande mídia e fora da próxima Paralimpíada, a tendência é de que o esporte, assim como outras modalidades paralímpicas, continue desconhecido por grande parte da população.

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