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Novos formadores de opinião: O fenômeno Youtuber

Imagem de destaque: Ingrid Luisa Aguiar/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior Milhares de inscritos, visualizações, curtidas e comentários. O fenômeno dos chamados Youtubers surgiu como uma expressão desta crescente democratização da informação que a internet proporcionou, tomando este espaço que, sem dúvidas, é muito importante para a livre expressão e para a disseminação de ideias. Porém, como …

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Imagem de destaque: Ingrid Luisa Aguiar/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior

Milhares de inscritos, visualizações, curtidas e comentários. O fenômeno dos chamados Youtubers surgiu como uma expressão desta crescente democratização da informação que a internet proporcionou, tomando este espaço que, sem dúvidas, é muito importante para a livre expressão e para a disseminação de ideias. Porém, como em qualquer outra situação, há um preço que inevitavelmente acaba se pagando por toda esta liberdade e os episódios frequentes de racismo, homofobia, machismo, entre outros não tardam nem cessam de aparecer no Youtube. Não levando em conta seus papéis como formadores de opinião, alguns youtubers propagam ideais e discursos de ódio, demonstrando por vezes ignorância em lidar com determinados assuntos. Exemplo claro disto são youtubers que recentemente utilizaram Black faces, prática racista que consiste em pintar-se de preto e que reproduz uma imagem caricata de negros.

Ainda assim, nem tudo está perdido. Há muito mais aspectos positivos da liberdade de expressão, e surgem diversos outros canais que se valem de sua visibilidade para entreter de forma consciente, abordando e problematizando importantes temas de relevância social. Um destes é o canal de Julia Tolezano, mais conhecida como Jout Jout, que com boas doses de humor tornou-se uma especialista na quebra de tabus. Desde vídeos sobre relacionamentos abusivos e violência sexual, até aqueles que desmistificam o corpo da mulher ao tratá-lo com a naturalidade que lhe cabe, Jout Jout fortalece através do seu canal a luta feminista.

O canal de Nátaly Neri, Afros e Afins, tem ganhado também uma visibilidade cada vez maior. Como ela mesma define, seu canal é lugar de Autonomização. Ela fala de moda, de cultura, de maquiagem, entre diversos outros assuntos, mas sempre buscando vinculá-los de alguma forma a questão da autonomia da mulher negra e a luta contra o racismo. Em vídeos de poucos minutos, Nátaly leciona verdadeiras aulas sobre apropriação cultural, empoderamento e estética da mulher negra.

Há ainda canais que não são especificamente direcionados a uma causa, mas que abordam de forma eximia diversos assuntos de impacto social. É o caso do Nerdologia, canal de Atila Iamarino, que conta hoje com mais de um milhão de inscritos. Os vídeos de cunho social costumam atingir um grande número de visualizações, diferenciando-se da abordagem geralmente feita por outros canais ao analisar estas questões sob a perspectiva da ciência. Em conversa com o Sala33, Atila afirmou que procura evitar embutir juízos de valor em seus vídeos e que assim a recepção pelo seu público costuma ser mais favorável. Embora os vídeos geralmente sejam apresentados por ele próprio, no vídeo sobre sexismo postado a cerca de um mês Atila deu voz a sua esposa, Paloma. Embora a recepção do público não tenha sido tão positiva quanto em outros vídeos, isto demonstra a real necessidade da problematização do papel da mulher dentro do universo da ciência e dos games, e a iniciativa do canal foi de extrema importância.

E é assim, pensando no alcance e importância de todos estes canais, que o Sala33 traz uma entrevista com Jessica Tauane, fundadora do Canal das Bee.

“A gente não vai ser hétero normativo, a gente não vai beijar só entre quatro paredes, não vamos “não dar pinta” entendeu?”

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Vídeo Pergunte as Bee 118. Imagem: Reprodução Canal das Bee

 

Em uma conversa de pouco mais de quinze minutos, Jessica mostrou que o Canal das Bee, apesar de toda a leveza dos vídeos e das risadas a todo o momento, é também lugar de seriedade. Com a responsabilidade de quem tem consciência de seu impacto, a equipe faz um incrível trabalho e atua como verdadeiros transformadores sociais.

Sala33: Como surgiu a ideia de criar algo que colocasse as questões LGBT em pauta?

Jessica: Quando eu entendi minha sexualidade, com treze, quatorze anos, que é quando você começa a reparar nos amiguinhos na escola, eu me apaixonei por uma menina. Eu frequentava a Igreja e um grupo de jovens, e foi uma questão muito difícil na minha vida. Na igreja eu escutava que aquilo era um pecado e uma abominação. Foi uma fase tensa em que eu entrei em depressão e tive síndrome do pânico. Foi só durante a faculdade que eu consegui aceitar finalmente minha sexualidade. Quando chegou a época de fazer meu TCC eu queria fazer alguma coisa que realmente eu botasse amor, tivesse orgulho. Fiquei muito com isso na cabeça, e me desesperava um pouco saber que mais gente ia passar por isso, ia ter depressão e escutaria que era uma abominação. Pensei “cara, se eu tivesse uma pessoa comum, como eu, falando sobre o dia a dia dela teria me ajudado muito”. Ai eu tive a ideia de criar o canal, para focar nestes jovens que pudessem estar sofrendo de alguma forma com a sexualidade. Acabou que tomou uma proporção muito maior do que eu esperava. Hoje em dia a gente de fato conversa com milhares de jovens LGBT no Brasil que estão passando por uma situação de vulnerabilidade, depressão, tentativa de suicídio ou até mesmo agressão. Eles confiam na gente, se sentem nossos amigos para desabafar. Nós temos inclusive uma psicóloga na equipe para cuidar dos casos mais complicados. É um canal importante para mostrar que ser LGBT é uma coisa normal, mas a gente não se adequar a normas, então a gente não vai ser hétero normativo, a gente não vai beijar só entre quatro paredes, não vamos “não dar pinta”, entendeu?

Sala33: Além da causa LGBT e da sexualidade, que são mais comuns no canal, vocês já abordaram também temas relacionados ao feminismo e ao combate ao racismo. Qual você acredita ser a importância de tratar destes outros temas também de impacto social? De alguma forma eles se relacionam com a causa LGBT?

Jessica: Com certeza, porque não da para você pegar uma pessoa e fragmentar o que ela é. Por exemplo: um homem trans e negro, ele é tudo isso numa pessoa só. Então se você vai falar sobre comunidade LGBT, você inevitavelmente vai falar sobre racismo, sobre luta de classes, sobre feminismo, tudo dialoga. Estamos sob uma mesma estrutura de opressão e não há pauta mais importante que a outra. Acho que é importante que tenham projetos focados para cada luta, cada segmento, mas é impossível um projeto não falar sobre outro. Por exemplo, eu enquanto lésbica e branca eu sei que eu não passo por coisas que uma lésbica negra passa, então eu não vou deixar de convidar as pessoas para falar sobre isso. Isso é algo legal no Canal das Bee, a gente sempre chama alguém para falar sobre si mesmo. Então foi isso, começou mais com o feminismo, e hoje o Canal das Bee é LGBT e feminista. São mulheres que estão à frente do projeto, tanto a Fernanda administrando quanto eu e a Débora como a cara do canal das Bee.

Sala33: Devido à grande visibilidade que os youtubers têm hoje, acabaram se tornando verdadeiros formadores de opinião. Você acredita que é preciso estar mais atento aquilo que é dito nos vídeos devido a esta influencia exercida na vida dos que acompanham o canal?

Jessica: Com certeza. Uma das coisas legais do Canal das Bee é a responsabilidade com que a gente toca o projeto. Realmente pensamos e nos preocupamos com o que estamos falando. A gente faz reunião de pauta, pensa num roteiro, pesquisa informações. Não falamos sobre “achismos”. E para além da teoria eu acho legal essa responsabilidade com a vida das pessoas. Por exemplo, eu poderia fazer um vídeo falando “gente, vamos sair todo mundo do armário, assim vai ser mais fácil porque todo mundo vai conhecer algum LGBT”.  Seria uma ótima estratégia, mas eu não posso porque eu não sei o que as pessoas vão sofrer saindo do armário entendeu? Às vezes um menino de 18 anos escuta, e mora lá no interior do Amapá, e ele sai e apanha do pai. É um assunto muito delicado, ele envolve sentimento, ele envolve família, ele envolve violência. Temos muito peso em nossas mãos, porque quando a gente fala as pessoas levam como verdade. No caso de sair do armário nossa dica é “saia do armário só quando sua coragem e sua vontade forem maiores que seu medo”. Tem isso de pensar não só no contexto em que vivemos. A gente tem muito cuidado tanto nas questões das informações, quando é alguma pauta mais política ou jornalística, para não falar besteira, quanto na parte com o cuidado com o espectador que esta passando por esta linha tênue das questões pessoais.

Sala33: Em relação ao Canal das Bee em algum momento você teve a percepção dele como um transformador social? Alguém já foi até vocês relatando que o canal o ajudou de alguma forma ou influenciou sua maneira de pensar?

Jessica: Já perdi as contas e toda vez eu me emociono. Já ouvi história de gente que assistiu aos vídeos com os pais, ou mostrou o canal para a mãe e hoje em dia a mãe aceita. Nossa psicóloga já fez o atendimento de varias pessoas que estavam prestes a cometer suicídio e hoje em dia estão bem e conversam com ela até hoje. Lidamos com vidas, então sabemos do peso que a gente tem. É interessante quando encontramos alguém na rua e as pessoas vem agradecer. Eu costumo responder que não precisa agradecer, porque não é um favor, é de coração. Outra coisa é que fazemos para nós também, aquilo que falamos lá não é só para quem ta ouvindo, é para a gente também. Também precisamos de empoderamento. Então é um ajudando o outro, a coisa mais bonita é isso, nossa comunidade que chamamos de colméia. Se um não tiver o outro não da, ninguém aguenta.

“Essa sempre é uma questão para quem é LGBT, a gente fala e pensa muito sobre isso. Eu até brinco com meus amigos que a única coisa que eu tenho inveja dos héteros é fato deles não precisarem falar sobre serem héteros o tempo todo, eles têm tempo para discutir outros assuntos. Nós focamos muito nisso porque é algo que a gente precisa conversar, tem impacto em muita coisa”

Por Taís Ilhéu
taisilheusouza@gmail.com

 

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