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O doce aprendizado de “Amoras” para as crianças. E aos adultos também

Ilustração:Aldo Fabrini / Divulgação Por Pedro Ezequiel (pedroezequiel36@gmail.com) Curtinha, feliz e pura. Assim são as crianças; assim é Amoras (Companhia das Letras, 2018), livro de autoria de Emicida e ilustrações de Aldo Fabrini. Mas ambas nunca são sem conteúdo. Os pequeninos, segundo o autor, representam uma fonte de conhecimento aos adultos. As crianças mostram a …

O doce aprendizado de “Amoras” para as crianças. E aos adultos também Leia mais »

Ilustração:Aldo Fabrini / Divulgação

Por Pedro Ezequiel (pedroezequiel36@gmail.com)

Curtinha, feliz e pura. Assim são as crianças; assim é Amoras (Companhia das Letras, 2018), livro de autoria de Emicida e ilustrações de Aldo Fabrini. Mas ambas nunca são sem conteúdo. Os pequeninos, segundo o autor, representam uma fonte de conhecimento aos adultos. As crianças mostram a beleza de ser como é. Elas aprendem e ensinam, desde pequenas, que nem fruta no pé. E para regá-las, o Mc traz um livro de linguagem poética e desenhos vivos que passam a visão de respeito para as mudas e para os grandes troncos,  fortalecendo suas raízes.

A ideia do livro vêm de uma faixa do  mesmo nome – Amoras – presente no seu álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (2015), onde os versos, inspirados por sua filha, contam a admiração pelas crianças. São nelas que os pensamentos parecem ter espaço para dançarem ao som da pureza e rimarem com a realidade. Nas páginas iniciais, há uma analogia com Obatalá, o orixá que criou o mundo segundo a religião Yoruba. Mas antes das crianças serem serelepes com suas ideias fervilhando, elas nascem. E chorando. Por quê? Emicida afirma que é porque elas se separam de Deus, conhecido como Alá. Com toda a pureza que as perninhas curtas podem oferecer para inspirar alguém, ele escreve:

“Nesse planeta, Deus tem tanto nome diferente que, pra facilitar, decidiu morar dentro dos olhos da gente.”

Amoras, Emicida.

O rapper fala de várias crenças em um único contexto. Em um único trecho. Simples e sem problemas, que nem crianças. É como elas são: não se conhecem, talvez nunca se viram, mas ainda sim, brincam. Não há motivos para brigarem. Além disso, é ilustrado várias figuras que remetem às religiões, sempre de forma colorida. Por sinal, Aldo Fabrini faz traçados suaves que lembram giz de cera, o que ajuda a construir o universo infantil. Quem nunca pintou com um giz?

Na página seguinte, um questionamento quase impossível para um adulto entender. Mas quando se é pivete, a resposta é fácil. Da onde é que vem o pensamento das crianças? Platão sabe? A menina, neste momento do livro, aparece com seu cabelo crespo e seus olhos escuros, pensativa e com um leve sorriso. E a cabeça dela é um arco-íris, de tanta coisa boa surgindo. Será esta a resposta? Bobinho Aristóteles de tentar desvendar. A gente sabe que nada sabe. Agora, os que têm “olhos de jabuticaba e os cabelos de nuvem” sabem muito bem.

Algumas frases ganham destaque e são repetidas na página posterior com letras grandes, dando a sensação de repercussão — que de fato acontece — na mente de quem está lendo. Emicida também traz personalidades importantes: Marthin Luther King e Zumbi dos Palmares. Mas a astuta menina, figura de todos os pequenos, até mesmo num passeio pelo pomar, ensina. Seu pai lhe fala que as amoras — pretinhas! — são as melhores que existem. O sorriso se estampa no rosto dela. E com muito gosto, diz de forma açucarada, o que mais encanta nessa obra de Emicida:

“Papai, que bom, porque eu sou pretinha também.”

Amoras, Emicida.

Exatamente neste estilo de simplicidade e melodia que o livro consegue cativar todas as idades. Para os grandalhões, é uma leitura rápida. Mas seu efeito é bem duradouro. Em entrevista ao seu próprio canal no Youtube, em setembro de 2018, o fenômeno das batalhas de rima explica os motivos que o levaram a escrever, coisa que ele sempre fez, porém, agora para crianças. “Se a gente acredita no que está falando, a gente precisa encontrar meios pra chegar mais cedo na vida das pessoas. A gente não pode aceitar que o nosso discurso seja compreensível na adolescência pra frente, tá ligado? Quando a gente conversa com um moleque de 15 anos, os traumas chegaram mais cedo. A ideia do livro é justamente essa: correr e chegar primeiro.”

 

Amoras, antes de fruta e livro, é semente. “É um incentivo para que, quando essas crianças olharem no espelho — e elas vão se deparar com o racismo na prática antes da teoria —, quando este racismo prático bater na porta, elas vão tá um um pouco mais fortalecidas”, diz Emicida. E que terra boa para se germinar: os pequenos! Em tempos de invernos rigorosos, mais duradouros que 4 anos, ler Amoras é um plantio de ideias. E o sabor deste fruto é a esperança em forma de criança.

(Ilustração:Aldo Fabrini / Divulgação)

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