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O que rolou no terceiro dia da Campus Party: diversidade de temas domina o evento

Imagem: João Pedro Malar / Jornalismo Júnior O terceiro dia da Campus Party Brasil foi marcado pela diversidade de temas. Nos diversos palcos do evento foram abordados assuntos como as profissões do futuro, o jornalismo no podcast, o que é necessário para ser influente nas redes sociais e o uso de programação para hackear mentes. …

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Imagem: João Pedro Malar / Jornalismo Júnior

O terceiro dia da Campus Party Brasil foi marcado pela diversidade de temas. Nos diversos palcos do evento foram abordados assuntos como as profissões do futuro, o jornalismo no podcast, o que é necessário para ser influente nas redes sociais e o uso de programação para hackear mentes.

O evento conta com dez palcos: Entrepreneurship, Creativity, Feel the Future, Games, Makers, Steam, Coders, Artes Visuais, Academia Creators e Startups. Desses, apenas o palco Startups é aberto ao público, localizado no Open Campus. Os outros estão na Arena, a área paga do evento. Dos dez, o palco principal é o Feel the Future que, como o nome sugere, tem palestras que visam mostrar um pouco do futuro para os campuseiros.

Mapa da Campus Party Brasil/ Imagem: Reprodução/ Campus Party Brasil

As profissões do mundo

Em um dos stands de workshop do evento, dedicado à realidade virtual, ocorreu a palestra As profissões do futuro. Nela, Alexandre Ache, diretor de produção de conteúdo digital no banco BTG Pactual, falou sobre as profissões que irão desaparecer, e como diagnosticar oportunidades de atuação em novas áreas nos próximos 5, 10 e 20 anos.

Os palestrantes deixaram claro que o trabalho vai mudar no futuro, mas não vai sumir. Nos próximos 10 anos, a previsão é que 50% dos empregos que existem hoje irão migrar para outras áreas. O Brasil deve sofrer mais essa mudança devido a especificidades do país. Já em 20 anos, a previsão é que 80% dos empregos que existem hoje irão ter migrado de área. O grande problema é a adaptação às mudanças e migrações que ocorrerão no mercado de trabalho.

O que ocorrerá, para Alexandre Ache, é a obsolescência, não só da tecnologia atual, mas dos próprios trabalhadores. Uma profissão pode deixar de existir por vários fatores, sendo um deles o esgotamento do recurso que sustenta a atividade. Isso ocorre, por exemplo, com a mineração. A mineração do futuro deve ser não apenas de recursos minerais, mas também de criptomoedas, como as bitcoins.

Alexandre Ache, que realizou uma palestra sobre as profissões do futuro/ João Pedro Malar Massa

Ache comenta que a velhice não significa sair do mercado de trabalho, muito pelo contrário. A tendência é que continuemos a trabalhar mesmo com idades avançadas. Os seres humanos irão viver mais e, por isso, surge um desafio: como manter nossa capacidade de trabalho enquanto envelhecemos? Para ele, é essencial nos questionarmos sobre o processo em que estamos inseridos, analisando o que pode mudar e o que pode até deixar de existir.

A área que mais deve sofrer é o trabalho repetitivo pouco qualificado, que está com os seus dias contados, perdendo espaço para a digitalização e robotização do trabalho. Um ponto importante é que, hoje, muitas pessoas estão em áreas que não lhe dão satisfação, motivação ou que as permite se destacar e crescer dentro do ambiente profissional.

Várias tecnologias devem crescer nos próximos anos, ameaçando inúmeras profissões. Uma destas técnicas é a computação cognitiva, que processa informações e toma decisões a partir do aprendizado com experiências anteriores que a máquina tem acesso. Essa tecnologia permitirá, por exemplo, substituir atendentes de telemarketing por robôs. Já o carro elétrico, por exemplo, afetaria empregos na cadeia produtiva e até de abastecimento de veículos.

As máquinas seriam mais eficientes, produtivas e eliminariam variáveis e problemas existentes no uso de mão de obra humana. A mudança parece tão óbvia e rápida que, às vezes, as pessoas nem percebem que estão sendo substituídos por elas. Ache ressalta: as máquinas não vão tomar nossos empregos, elas estão os roubando. Isso ocorre devido às mudanças no hábito de vida das pessoas, que exigem cada vez mais eficiência, algo que passa a ser possível apenas com o uso de equipamentos. O desafio é lidar com a relação a força de trabalho humana e automação.

O importante é lembrar que os humanos não são máquinas, nem devem tentar se tornar. Seria impossível para nós vivermos ou trabalharmos como maquinaria, inclusive perderíamos nossa eficiência. Nesse aspecto, não faz sentido tentar competir com a tecnologia. Máquinas não conseguem inovar, mas os humanos sim; esse é o nosso diferencial. O essencial é buscar oportunidades de melhoria, inovações, sempre a partir de um propósito bem definido.

Uma profissão do futuro é a de observador social. Sua tarefa é otimizar e melhorar as relações sociais existentes a partir do uso de tecnologia e observação de comportamentos. O futuro também estará ligado ao big data, coleta de dados de milhares de pessoas e informações, por exemplo, sobre os seus comportamentos. O trabalho deverá estar intrinsecamente ligado à coleta e análise de dados, não com foco na máquina, mas no próprio ser humano e suas interações.

 

Whorkshop(s)

Algo tradicional na Campus Party é a realização de diversos workshops ligados a diversos assuntos. Apenas no terceiro dia do evento foram realizados 75 workshops diferentes. A maioria não ocorreu nos palcos, mas em stands e outras áreas da Arena, fechada ao público pagante.

Diversas oficinas foram sobre um tema que atrai todo campuseiro: programação. Python para iniciantes, programação em blocos, introdução ao Git e GitHub, desenvolvimento de jogos em múltiplas plataformas, Scratch para iniciantes e muitos outros.

Ainda havia outros assuntos: aprender a soldar, estratégias para estimular o aprendizado dos jogos pela criação de apps e jogos e até um curso de como começar no Stand Up Comedy. Os temas parecem muito pé no chão pra você? Também ocorreu workshop de como sobreviver a um apocalipse zumbi, e outro de como transformar um processo de procrastinação em um processo criativo. Respeitando a essência do lado empreendedor do evento, foram realizados várias oficinas de empreendedorismo, incluindo uma de liderança jovem.

Já no palco Creators Academy, Camilo Coutinho, estrategista digital especialista em videos, realizou uma palestra para dar diversas dicas de edição. O objetivo era conseguir dar conselhos para não apenas editar em menos tempo, mas sim editar mais em menos tempo. Ainda na área de produção de conteúdo, também houve workshop de criação de efeitos visuais.

Camilo Coutinho dá dicas de edição de vídeos no palco Creators Academy/ João Pedro Malar

Jornalismo e Podcast

Na Arena Podcast, área voltada para a discussão e ensino da realização de podcasts, houve uma apresentação sobre o papel do Jornalismo dentro desse universo. Estiveram presentes Kelly Stein, mediadora da palestra e jornalista que criou o Coffea, primeiro podcast sobre café no Brasil (primeiro bilíngue do mundo), Rodrigo Vizeu (Folha de S.Paulo), Olivia Fraga (Nexo) e Tiago Barbosa (CBN).

Stein comenta que o jornalismo está descobrindo no podcast uma nova forma de informar, em um contexto de reformulação e crise da profissão, e abarca na existência de diversos estilos jornalísticos

Da esquerda para a direita: Kelly Stein, mediadora da apresentação, Rodrigo Vizeu, da Folha de São Paulo, Olivia Fraga, do Nexo Jornal, e Tiago Barbosa, da Rádio CBN/ João Pedro Malar

Tiago comenta que colocar o podcast em primeiro plano no negócio foi uma novidade. Ele acha que esse arquivo digital de áudio dá uma sensação de mais agilidade na transmissão de informação, tornando-a mais envolvente para o ouvinte. A CBN faz podcasts há dez anos e, com o tempo, foram se tornando mais independentes da programação da rádio, apesar de ainda usarem os comentaristas e o conteúdo produzido. A CBN publica uma grande quantidade de tal produção, de diferentes periodicidades.

Para ele, o podcast permite que o ouvinte consiga se aprofundar nos temas. O difícil é convencer os grandes veículos a criar uma dedicação e mão de obra específica para a produção, mas com o tempo é natural que as empresas de comunicação se voltem cada vez mais para esse universo. Além de informar, essa nova maneira de fazer jornalismo é um bom caminho para encantar o ouvinte, até para o rádio.

Olivia comenta que ela não surgiu no rádio, mas no meio impresso. Como editora executiva de contemporaneidades, no Nexo Jornal, ela notou que o veículo já tinha uma vocação natural para podcasts, algo que ela decidiu aproveitar e se envolver com. A principal criação nesse período foi o Durma com Essa, que busca apresentar assuntos pertinentes que não apareceriam nos textos e gráficos do jornal, mas que poderiam ser resumidos e contextualizados em dez minutos.

Ela observa que, hoje, o impresso olha com carinho para os podcasts. Um desafio em relação a essa implementação é a ideia de que eles são mais descontraídos e juvenis.

Rodrigo conta que sempre havia trabalhado com política e entrou em contato com o mundo dos podcasts ao perceber a ausência destes na Folha de São Paulo. Inicialmente, o jornal teve uma resistência, até que ele apresentou a ideia de realizar um podcast sobre os presidentes do Brasil, do primeiro até o último eleito, o podcast Presidente da Semana. Para Vizeu, “metade do sucesso do Presidente da Semana foi a edição de som.” Ele toma como principal referência os podcasts narrativos norte americanos.

Klein apontou que um programa enfrentado por ela foi a questão de aprender a editar e se portar em um podcast, em especial em relação à dicção. Tiago destaca que, no rádio, a implementação de podcasts é algo muito mais fácil que no meio impresso, o que geralmente falta é um olhar específico para essa produção. A edição, para os palestrantes, tem se tornado cada vez mais natural e fácil de se aprender, o mais difícil é escolher o formato, abordagem e tema. O essencial, porém, é ir testando.

Olivia comenta que os jornalistas mais jovens já apresentam temas mais interessantes e uma melhor capacidade para edição. No caso do Durma com Essa, a edição é mais simples e a ideia é passar uma informação precisa, sem improvisos e se prendendo ao roteiro. Já a do Politiquês, por exemplo, é mais complexa, pois a periodicidade é semanal.

Rodrigo fala que aprendeu muito, uma vez que nunca havia entrado em contato com o rádio ou outros podcasts. Ele notou que, com o tempo, o jeito de falar vai se alterando e melhorando naturalmente. Assim, o podcast vai se tornando mais complexo e bem produzido. Para isso, é essencial ouvir muitos podcasts. Hoje, o interesse no meio jornalístico tem crescido muito, mas a maioria não sabe direito o que fazer.

Ressalta que é importante para o jornalista participar do processo de edição, produção e outros elementos, para garantir uma maior qualidade e inovações na área. Para Rodrigo, deve-se explorar novos formatos dentro do meio. Naturalmente, o podcast vai melhorando a partir da adaptação do profissional ao formato, e comenta que o uso de externas é algo interessante nesses casos de exploração.

Para Klein, o jornalista deveria usar mais um podcast para passar informações, já que é uma importante ferramenta. Tiago ressalta: assim como em qualquer produto do jornalismo, o podcast deve seguir os princípios jornalísticos, respeitando a transmissão da verdade. Mesmo assim, ele comenta que há espaço para uma produção mais descontraída e leve. Olivia comenta que o podcast abre margem para testar e trabalhar muito com a questão do áudio. Ela acha, porém, que existem notícias que sempre irão combinar mais ou menos com o formato, e isso é algo normal e que deve ser considerado.

O uso de podcasts é algo que traz os jovens para perto do produto jornalístico, exatamente pelo estilo mais livre e até descontraído. Esse formato consegue penetrar em novas audiências e aproximar o leitor de todas as publicações do veículo, não só a de áudio. Para Tiago, isso mostra que o podcast é um caminho, mesmo que não a solução total, para a crise de financiamento pela qual o jornalismo passa hoje em dia.

Sobre a monetização, Klein comenta que o Coffea é um podcast independente, e o financiamento vem dos chamados padrinhos, ouvintes que contribuem com a produção. Em mídias tradicionais, a maior dificuldade é convencer os superiores a comprar a ideia inicial. Hoje, em especial com a presença do Spotify, por exemplo, os veículos têm cada vez buscado mais entrar em contato com esse formato, o que deve aumentar a produção de podcasts ao longo dos anos.

 

Dados e YouTube

Já no palco Feel the Future, o famoso youtuber Mat Pat realizou uma palestra sobre a importância dos dados para a produção de conteúdo e relação com a mídia. Mat tem o canal The Game Theorists, que conta com 20 milhões de inscritos e 60 milhões de visualizações, com mais de um bilhão de visualizações em três canais.

O foco da palestra foi a necessidade de se usar os dois lados do cérebro para vencer em uma nova mídia. Para ele, enquanto os dados são restritivos, a criatividade é uma aposta. O youtuber busca misturar esses dois lados, tanto um aspecto artístico quanto uma base científica. Mat também teve um passado que se assemelha a essa estranha aliança. Ele notou que as pessoas sempre têm medo do face que não usam: os racionais têm medo dos artísticos e vice-versa.

O youtuber Mat Pat subiu no palco Feel the Future para comentar a importância da análise de dados na produção de conteúdo/ João Pedro Malar

Mas Mat conseguiu, em sua visão, unir tais ambas partes, em especial na criação dos seus canais e na navegação da nova mídia. Ele comenta que os dados são essenciais para conhecer seu conteúdo, tanto os defeitos quanto as qualidades, e o que pode ser melhorado de modo a satisfazer o público. Foi a partir dessa estratégia que o youtuber conseguiu melhorar seus vídeos, não só manter o seu público, como expandi-lo.

“Os dados podem ser poderosos”. Essa é a síntese que Mat faz. Ele lembra que as empresas competem pela atenção das pessoas. Nesse sentido, os dados conseguem incentivar a criatividade, e produção com criatividade consegue atrair e manter os seus espectadores.

Mat comenta que um aspecto essencial do seu trabalho envolve a aplicação dos seus conhecimentos de psicologia nas estratégias de comunicação com o público, em especial nas tentativas de manter a atenção deste. E isso também entra em outro elemento essencial na produção de conteúdo: conhecer sua audiência.

Segundo o youtuber, quando se conquista um público fiel, é importante saber seus os gostos e, acima de tudo, quem ele é e como ele se comporta. Pat comenta ser essencial manter-se conectado com sua audiência e entender com quem se está falando. E foi isso que ele fez. A partir disso, ele conseguiu produzir seu conteúdo que conseguisse dialogar perfeitamente com o seu público, levando em consideração pensamentos e personalidades.

Por fim, é importante conhecer não apenas seus negócios, mas o dos outros também. Entender o que está sendo discutido, o que tem ou não feito sucesso e o que não está sendo discutido são essenciais para a produção de conteúdo. Para ele, é importante evitar rótulos e generalizações. Quanto mais específico o conhecimento, melhor.

Mat ressalta ser necessário saber como falhar e aprender com essas falhas, já que elas sempre ensinam bastante. Para ele, aprender apenas com o sucesso é ter acesso a uma história incompleta. Os erros são excelentes oportunidades de aprendizado e melhoria para o futuro. Falhar não deve ser algo assustador ou que deve ser evitado. Deve-se criar uma resistência, e ter consciência de que, pelo erro, você terá uma excelente oportunidade para evoluir. Afinal, os dados nem sempre mostrarão coisas positivas ou o esperado e, por isso, é muito importante aprender a lidar com o fracasso. A moral, no fim, é que os dados sempre deverão estar na mente de qualquer pessoa criativa, e vice-versa.

 

por João Pedro Malar
joaopedromalar@gmail.com

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