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Para começar a falar de F.r.i.e.n.d.s

Décadas se passaram e os seis amigos nova iorquinos ainda conquistam novos fãs ao redor de todo o mundo. Além, é claro, de fazerem os antigos se deliciarem ao assisti-los pela milésima vez em qualquer episódio que seja. Criada por David Crane e Marta Kauffman, a série Friends foi ao ar pela primeira vez há …

Para começar a falar de F.r.i.e.n.d.s Leia mais »

Décadas se passaram e os seis amigos nova iorquinos ainda conquistam novos fãs ao redor de todo o mundo. Além, é claro, de fazerem os antigos se deliciarem ao assisti-los pela milésima vez em qualquer episódio que seja. Criada por David Crane e Marta Kauffman, a série Friends foi ao ar pela primeira vez há exatos 22 anos, em 22 de setembro de 1994 e embora na primeira temporada tenha dividido opiniões quanto ao enredo e atuação, mostrou uma clara evolução ao longo dos anos e ocupou um importante espaço na televisão não apenas estadunidense, mas mundial ao levantar temas que foram muito além de seu tempo. Embora não possamos deixar de reconhecer que algumas destas questões não vieram a tona de modo proposital e pensado, mas através do reforço de estereótipos e intolerâncias, o legado de Friends não pode ser ignorado e a série dos anos 90 consegue refletir, ou ao menos provocar a reflexão, sobre muitos dilemas nossos de cada dia.

E para falar sobre avanços e progressos da série, nada como falar das mulheres de Friends. O trio protagonista formado por Rachel, Phoebe e Monica mostra que não há regras que definam o que as tornam mais ou menos empoderadas e seguras de si. Embora a série não aborde a questão feminista tão abertamente, as personagens acabam em diversos momentos trazendo à tona assuntos que sem dúvidas são caros à causa.

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Interpretada por Jennifer Aniston, Rachel entra na série no papel estereotipado da mulher rica, linda e fútil que para se manter recorre sempre a um homem – senão o marido, o pai. Entretanto, aos poucos Rachel mostra que não cabe nestes padrões: forte e independente acaba por conquistar a carreira que sempre sonhou. É claro que em determinados momentos da série a personagem se vê confrontada por difíceis situações, em especial por causa de seu relacionamento com Ross (David Schwimmer). Entretanto, apesar de acabarem juntos no final, Rachel questiona diversas atitudes machistas do namorado, em especial quando este tenta atrapalhar sua carreira e diminuir suas conquistas. Além disso, Rachel é uma das personagens que mais questiona algumas “convenções” impostas às mulheres e que tem certa força ainda hoje, como o silêncio acerca da sexualidade feminina. Na sétima temporada ela deixa os meninos do grupo, em especial Joey (Matt LeBlanc), chocados ao descobrirem que ela lia livros pornográficos.

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Já com Monica, personagem de Courteney Cox, o assunto ganha outra abordagem. A personagem, embora seja retratada como a mulher que sempre detêm o controle da situação e nunca deixa-se intimidar, surpreende por ser também aquela que sonha com o casamento e com filhos. É exatamente neste ponto que seja talvez uma das mais ricas representações de mulher na série. Monica não precisa ser fraca e submissa para ser mãe e esposa, e não precisa abdicar de tudo isso em nome de sua independência. Monica nos mostra que ser mulher quer dizer que você pode ser absolutamente quem quiser. Assim como Rachel, ela também questiona diversos conceitos machistas, como no episódio em que surpreende Chandler, seu namorado, ao dizer que, assim como ele, também flertava com outras pessoas.

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E, é claro, não podemos deixar de falar de Phoebe Buffay. Lisa Kudrow dá vida a esta personagem que muitas vezes parece estar na contramão de todos os ideais da época e do seu próprio grupo de amigos, sempre surpreendendo com algum comentário ou raciocínio inesperado. É ela quem apresenta para Rachel e Monica, na segunda temporada, um livro sobre feminismo chamado Be your own windkeeper. Foi também barriga de aluguel do próprio irmão, dando a luz a trigêmeos por inseminação artificial, situação sem dúvida muito além do tempo da série. São inúmeras as curiosidades acerca da personagem, mas uma especulação frequente entre os fãs é sobre sua orientação sexual. Em alguns episódios Phoebe dá vários indícios de que é bissexual, embora nunca tenha abertamente se declarado, como por exemplo o episódio em que se sente atraída pela prima de Ross e Monica e pensa em convidá-la para sair. Além disso, há um episódio também na sétima temporada em que ela beija Rachel. É claro que são suposições que se baseiam livremente em cenas como estas, mas é um bom ponto para se começar a falar sobre representatividade LGBT no núcleo protagonista de Friends.

Apesar da série apresentar sérios problemas relacionados a homofobia. Nada impede que a série seja assistida agora com um olhar muito mais crítico neste aspecto, mas é incontestável que, ainda que de forma problemática de acordo com a perspectiva atual, ela consegue de alguma forma colocar estes assuntos em pauta. O casamento de Carol e Susan, ex mulher de Ross, logo na segunda temporada é um exemplo disso. Ainda hoje o casamento de homossexuais é tratado de maneira problemática e muitos países sequer reconhecem legalmente esta união. Friends mostrou este casamento há 20 anos atrás.

Uma outra abordagem que a série faz sobre a questão LGBT é trazer uma personagem que questiona padrões de gênero: Charles Bing, o pai de Chandler. Embora Chandler muitas vezes expresse preconceito e surjam piadas sobre o assunto, em um dos episódios mais emocionantes e engraçados da série Monica o mostra que o fato de seu pai assumir esta expressão de gênero não tem nenhuma relação com seu caráter e não deve ser encarado como um empecilho na relação entre pai e filho. Diferente de muitos pais ausentes, o pai de Chandler sempre o apoiou na sua infância e continuou tentando ser presente na vida do filho depois que este se tornou adulto. A série deu um grande passo contra a estigmatização e os estereótipos que rondam esta questão.

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Análogo a tudo isso, essas dez temporadas têm muito a ensinar aos velhos e novos fãs, tanto com seus acertos quanto com os erros. O fato é que, além de haver muito do real e do atemporal na série, é possível  enxergar na ficção dilemas que aqueles seis amigos enfrentavam há 22 anos e que ainda estão incrivelmente presentes hoje. Que venham mais gerações que riam, reflitam e aprendam com Friends.

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Por Tais Ilhéu
taisilheusouza@gmail.com

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