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Por trás da carreira de artista

Reprodução: Lorena Pimenta Sonho de muitos, conquista de poucos: a vida de artista definitivamente não é fácil. Esqueça o fato de que vivemos numa sociedade capitalista na qual o utilitarismo impera e a criatividade é sistematicamente sufocada por anos de ensino que privilegia a memorização em detrimento do livre pensamento – os que sobrevivem a …

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Reprodução: Lorena Pimenta

Sonho de muitos, conquista de poucos: a vida de artista definitivamente não é fácil. Esqueça o fato de que vivemos numa sociedade capitalista na qual o utilitarismo impera e a criatividade é sistematicamente sufocada por anos de ensino que privilegia a memorização em detrimento do livre pensamento – os que sobrevivem a essa experiência com seus dotes artísticos intactos ainda têm muito a enfrentar. Diferentemente do que diz o senso comum, viver da arte não é missão para “vagabundo”: com um mercado de trabalho difícil e multidões de pessoas que se recusam a valorizar (e por vezes, remunerar justamente) esses profissionais, logo percebe-se que a romântica ideia de gastar longos dias no mais puro ócio criativo não passa de uma ilusão.

Para descobrir um pouco mais sobre o que motiva os artistas a trilharem esse caminho espinhoso e como o fazem, o Sala 33 conversou com 4 pessoas de enorme talento: uma estudante de Artes Plásticas da ECA-USP; um aspirante a psicólogo que desbrava o mundo da aquarela; uma professora do Instituto Tomie Ohtake que já marcou as páginas da Folha de S.Paulo; e uma ilustradora estadunidense que também vende joias de porcelana.

A estudante

Reprodução: Lorena Pimenta

Lorena Pimenta nem sempre soube que queria ser artista. Ou melhor – sabia, mas os obstáculos claros à essa carreira a iludiram a pensar que gostaria de ser jornalista e ilustradora, ao mesmo tempo. Não foi até que uma colega de um curso de idiomas a questionasse que a ficha caiu: ela não queria ser jornalista; para atingir seus objetivos enquanto ilustradora, precisaria de dedicação integral às artes. “No fundo, sempre quis muito mais ser ilustradora do que jornalista”, admite, “mas o medo de minha família não aceitar era grande, os desafios seriam grandes”.

Hoje, Lorena cursa seu primeiro ano de Artes Plásticas na ECA-USP, com grande apoio de sua família. Para ela, o caminho acadêmico representa uma forma de conhecer novas ideias e outros artistas. No entanto, quem faz a Universidade é o próprio aluno – não há uma influência direta sobre a produção dos estudantes, e sim “sugestiva”: “O que ajuda mesmo a aprimorar o meu trabalho é minha própria dedicação para isso. A universidade, então, é apenas um incentivo a mais para mim, pois ela não impõe uma técnica para o aluno: se ele a quiser, é justo que ele corra atrás do que mais lhe convier para o seu próprio trabalho”.

Sua especialidade são as pinturas digitais, ainda que tenha começado a experimentar com novos materiais em seu tempo na faculdade. Ela encontra inspiração dos lugares mais diversos: desde outros artistas digitais contemporâneos, como Ruan Jia (seu favorito) e Miles Johnston, às obras impressionistas Monet e Degat, às estátuas marmóreas de Michelangelo. Talvez por isso ache tão difícil definir o seu estilo: “Eu tenho alguns vícios, tipo desenhar garotas de cabelos coloridos; gosto muito de cores. Não acho que isso se defina como estilo, então… Qual a próxima pergunta mesmo? Eu não sei responder esta!”

Reprodução: Lorena Pimenta

A maior aspiração da estudante é de construir uma carreira como ilustradora e concept artist – desenhista que desenvolve o conceito de uma animação ou videogame antes do produto final. Ela não se ilude quanto à dificuldade de conquistar algo assim: “Aqui no Brasil é realmente difícil se erguer numa carreira como a que eu almejo, e os obstáculos são vários: há, primeiramente, uma grande desvalorização do fazer artístico; muitas empresas que poderiam contratar ilustradores para grandes projetos se encontram no exterior; a falta de cursos especializados no assunto para formar esses profissionais no Brasil.” Contudo, para ela, a internet representa um mundo de possibilidades: abre espaço para o estudo, facilitando a busca por cursos, livros e tutoriais; e cria oportunidades de divulgação da arte. Lorena aposta nas redes sociais para criar um público para seu trabalho, e espera conseguir trabalhos e comissões por esse meio em breve.

Facebook: https://www.facebook.com/piloreta/?fref=ts

DeviantArt:http://piloreta.deviantart.com/

Instagram: https://www.instagram.com/_piloreta_/

O psicólogo

Reprodução: Bentinho

Lucas Bento, mais conhecido como “Bentinho”, tem uma trajetória que atesta à essa capacidade da internet de contribuir para a divulgação do trabalho de artistas e para formação de nichos. Ele já fez um pouco de tudo: dois meses de Arquitetura e Urbanismo, dois meses de Animação – mas parece que é na Psicologia que ele realmente se encontrou. “Ué, psicologia?”, você pode estar se perguntando. Sim: Lucas estuda Psicologia na UNESP, ainda que seja mais reconhecido por seus retratos em aquarela de cenas de filmes populares. Na sua opinião, as artes e a psicologia podem se complementar – seu sonho é escrever uma HQ contando o processo de um menino que decide frequentar à terapia: “Quero conectar com o papo do porquê uma pessoa deve fazer terapia e porque ela deve acabar a terapia também. Muita gente começa a terapia e larga.

Seu projeto de desenhar cenas de filmes e séries começou quando ele presenteou um de seus amigos com uma aquarela de um momento de Friends. “Quando eu terminei eu pensei ‘Já que eu comecei e ele gosta de Friends, eu vou fazer de tudo o que eu gosto’”. Hoje sua página no Facebook já tem mais de 1000 curtidas, e ganhou visibilidade em veículos como o Catraca Livre. Através dela, Lucas também recebe comissões e vende cartazes de seus desenhos. As comissões por vezes se provam um desafio para ele: devido à desvalorização do trabalho do artista, não raro seus clientes preferem que o negócio seja puramente informal, e ele já encontrou o seu trabalho sendo reproduzido em outros contextos sem a sua autorização.

Reprodução: Bentinho

Apesar do sucesso atingido, Bentinho descreve seu traço como “bem, bem basicão” – e não se interessa por torná-lo mais realista. Suas principais inspirações estéticas são dos cartuns de jornal: “Laerte, gosto bastante do desenho dela, que é bem simples”. E ainda se surpreende com a repercussão de seu trabalho: “Meus amigos acham o máximo que eu apareci em um monte de lugar, e eu não entendo.”

Facebook: https://www.facebook.com/ohbentinho/?fref=ts

A professora

Reprodução: Deborah Paiva – “Prainha”

Demorar um pouco para descobrir ou explorar um talento não é nada raro e, há alguns anos, era ainda mais comum.  Deborah Paiva que o diga: a pintora de 66 anos sempre gostou de desenhar, mas foi estudar História na USP e tentar ser professora, influenciada por sua família, por achar que arte “não é profissão”. Uma vez formada, abriu uma escola infantil com suas amigas, e nela lecionou por 10 anos antes de sair e finalmente se dedicar à sua verdadeira paixão: a arte. Já casada e com filhos, encontrou grande apoio por parte de seu marido, o cineasta Jerê Moreira.

Deborah frequentou alguns cursos de pintura; entretanto, se considera uma autodidata. Não que encontre algum mérito nisso: ela lamenta não ter cursado uma faculdade de artes, e acredita que teria descoberto “saídas” para o seu trabalho mais rapidamente se o tivesse feito – isso porque vê a apreciação do trabalho de outros artistas como parte importante do aprendizado. Suas maiores influências vêm do Expressionismo Abstrato de Jackson Pollock e Anselm Kiefer, e de artistas mais contemporâneos, como Tim Eitel e Elizabeth Peyton. Ainda assim, rejeita a ideia dos tradicionais movimentos artísticos: “Atualmente não existem mais as chamadas ‘escolas de arte’ que direcionam o estilo de um artista. O meu interesse atual é acompanhar uma nova geração de novos artistas brasileiros que fazem uma pintura muito pessoal, as vezes figurativa, às vezes abstrata, sem dar bola para estilos.

Reprodução: Deborah Paiva – “Mergulho”

Fez sua primeira exposição já com seus 40 anos, na década de 90. Desde então, realizou muitas exposições individuais, e hoje é parte do rol de artistas da terceira galeria de sua carreira. Suas obras já passaram pelas paredes de museus como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, e os Museus de Arte Contemporânea de São Paulo e de Campinas. Atualmente, dá aulas de arte no Instituto Tomie Ohtake, e vez por outra faz comissões de ilustração para capas de livros e para a Ilustríssima da Folha de S.Paulo, e é por aí que encontra maior divulgação de seu trabalho.

Quanto ao futuro, Deborah continua sonhando, mas com os pés no chão: “É lógico que gostaria de ser mais conhecida, viver de arte, ganhar milhões. Mas já fico feliz em pensar que para arte não há idade, a gente não se aposenta, mesmo porque é ela que dá grande parte do condimento que a gente precisa pra viver.

A joalheira

Reprodução: JM Tolman – “Freaknik Ghoul”

Nos Estados Unidos, a ilustradora JM Tolman consegue viver de sua arte, que também se expressa em formatos mais utilitários, como a joalheria. Na verdade, Tolman é uma espécie de faz-tudo do meio artístico: desenvolvimento visual, ilustração, joalheria, pintura, quadrinhos, bonecas de papel – ela é a mulher para o trabalho.

Desde seus 13 anos, ela enxergava a carreira artística com grande seriedade, e isso foi o que acalmou seus pais quanto a sua decisão. A estadunidense optou pelo caminho acadêmico, sendo formada em Artes Plásticas pela Art Center College of Design, em Pasadena: “Eu precisava de estrutura e direção – sem isso, eu sabia que nunca sairia da minha zona de conforto. Eu fico muito feliz por ter feito isso,  porque minhas produções de antes e depois de sair da faculdade são completamente diferentes! Eu nunca teria desenvolvido o estilo que eu tenho hoje se eu não tivesse ido para a faculdade, nem teria conseguido me inserir no mercado de trabalho com a mesma facilidade. [A faculdade] foi, sem dúvida, uma das grandes razões pelo meu sucesso.

Suas obras são tão resistentes à classificação quanto ela própria resiste a se restringir a apenas um campo da atuação artística. Seu estilo característico vem de uma miscigenação de influências: de Edward Gorey, à art deco; da ilustração de moda dos anos 60, à art nouveau, aos desenhos animados da Warner Brothers. “Quanto ao meu estilo, eu nunca sinto que consigo descrevê-lo adequadamente – é meio que um pouco de tudo, como são meus interesses. O melhor termo que eu já ouvi pro meu trabalho, no entanto, é Pop Gótico.

Reprodução: JM Tolman – “The Ladies Grey”

Mesmo com sua formação acadêmica, JM conta que sua inserção no mercado de trabalho não foi nenhum passeio: “Você tem que ser forçoso – oportunidades raramente aparecem para você, especialmente quando você está começando! Como artista, você tem que se autopromover, a menos que você seja um dos poucos extremamente sortudos que são contratados por um estúdio logo de cara. Você tem que criar conexões!” Ela recomenda que artistas novatos corram atrás de festivais e feiras; entrem em contato com donos de galeria e lojas que vendem arte local; busquem workshops ou clubes de desenho, para continuarem sempre aprimorando sua técnica. No entanto, também não vê vergonha em precisar de trabalhos à parte enquanto se está começando: é uma forma de sobrevivência, e é possível continuar se dedicando à arte nas horas vagas.

No futuro, Tolman se imagina explorando ainda mais uma área do mundo artístico: a curadoria. “Ainda vou estar desenhando, mas em algum momento eu gostaria de me tornar uma curadora de uma galeria. Bem diferente da ilustração, sim, mas quanto mais velha eu fico, mais eu percebo o quanto eu gosto de ajudar pessoas a descobrirem artistas que elas podem amar.”

Tumblr: http://candyacidart.tumblr.com/

Etsy: https://www.etsy.com/people/JMTolman

DeviantArt: http://sapphirekat.deviantart.com/

Por Fredy Alexandrakis
fredy.alexandrakis@gmail.com

1 comentário em “Por trás da carreira de artista”

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