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Choque entre mundos: quando atletas invadem jogos eletrônicos

Não é novidade para ninguém que a indústria de jogos já ultrapassou setores como os de música e cinema em termos de faturamento. Com constantes evoluções, os consoles ficaram cada vez mais modernos e os jogos ainda mais realistas. Mas seu início, em termos lucrativos, foi justamente com um jogo esportivo: Pong (1972), produzido pela …

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Não é novidade para ninguém que a indústria de jogos já ultrapassou setores como os de música e cinema em termos de faturamento. Com constantes evoluções, os consoles ficaram cada vez mais modernos e os jogos ainda mais realistas. Mas seu início, em termos lucrativos, foi justamente com um jogo esportivo: Pong (1972), produzido pela Atari Inc. 

A partir desse lançamento, o mundo do entretenimento não foi mais o mesmo. As empresas buscaram alternativas para se manterem relevantes e o esporte foi um campo frutífero para as diversas tentativas de fazer um bom jogo, algumas bem-sucedidas, outras nem tanto.

O mundo futebolístico, do automobilismo, dos esportes de quadra, entre outros, foram utilizados de diversas maneiras quando o assunto é videogame influenciando gerações e até despertando o interesse de pessoas para a prática esportiva. Subdivisões foram criadas nas maiores empresas de jogos apenas para pensar e fazer games com a temática esportiva, o que rendeu centenas de jogos e até franquias que saem anualmente para satisfazer os fãs mais ávidos.   

A Electronic Arts, por exemplo, foi a empresa que mais aproveitou os esportes para fazer jogos com temáticas diversas, se especializando e trazendo gráficos e movimentos cada vez mais realistas. O trunfo da empresa foi sempre conseguir as licitações para utilizar nomes reais de atletas, estádios e patrocínios, o que torna a experiência do jogador mais imersiva e fidedigna.

Pong, o jogo que mudaria o rumo do entretenimento e que ditaria como um game deve ser: desafiador na medida certa e prazeroso ao divertir [Imagem: Atari Inc.]
Pong, o jogo que mudaria o rumo do entretenimento e que ditaria como um game deve ser: desafiador na medida certa e prazeroso ao divertir [Imagem: Atari Inc.]
As narrativas também alcançaram a esfera dos esportes radicais, trazendo jogos mais focados em manobras e com uma abordagem que tenta recriar os movimentos dos atletas, geralmente envolvendo uma boa trilha sonora para aumentar ainda mais a adrenalina. O maior representante dessa temática esportiva, e que conseguiu unir essas características de forma exemplar, é Tony Hawk’s Pro Skater, jogo lançado para o Playstation 1 e que completou duas décadas em 2019.


Duas décadas de nostalgia: o legado de Tony Hawk e a revolução do jogo esportivo eletrônico

Muitas pessoas podem perguntar: quem é Tony Hawk? Anthony Frank Hawk nasceu em 12 de maio de 1968, estado de San Diego, EUA e com nove anos ganhou seu primeiro skate, presente dado por seu irmão mais velho. Não demorou muito para que o jovem Tony Hawk ganhasse destaque e aos quatorze, já ser um profissional. Quando completou vinte e cinco anos, o atleta já tinha mais de setenta troféus dos mais diversos tipos de campeonato. 

Mestre do skate vertical (uma das modalidades do skate), o atleta aproveitou a primeira edição dos X-Games (1995) para se manter em relevância, já que a modalidade não vivia seus melhores momentos. Após ter ganhado tudo que disputou entre os anos de 1995 e 1996, as empresas resolveram investir novamente em Tony Hawk e em 1999, o skatista fechou uma parceria com a Activision, empresa bem-sucedida no ramo dos jogos eletrônicos. 

Nas mãos da Neversoft, uma das subsidiárias da Activision, o game ganhou vida e fez com que o skatista Tony Hawk se tornasse não apenas alguém relevante no skateboarding, mas também uma das maiores celebridades da época, influenciando gerações de skatistas e despertando o interesse pelo skate em pessoas que não conheciam o esporte.    

“Mudou sim, completamente e significou muito. Lembro que a sensação de jogar Tony Hawk pela primeira vez em meados de 2002, com meus 12 anos de idade, me aproximou mais do skate. A partir dali, o desejo por conseguir meu primeiro skate só aumentou”, comenta Paulo Aquino, amante do skate, ao ser perguntado sobre como Tony Hawk’s Pro Skater influenciou e mudou sua vida.

[Imagem: Neversoft]
Além de Tony Hawk, o game contava com mais nove skatistas, entre eles, o brasileiro Bob Burnquist. Bob, inclusive, ajudou Tony Hawk quando o game estava em seu estágio inicial de produção, dando opiniões sobre a jogabilidade e sobre os detalhes da roupa de seu avatar. Jogabilidade essa que impressionou a crítica na época, permitindo que o jogador se aventurasse em pistas de skate com total liberdade e controle. 

Para um amante do skate, ver essa representação fiel em tela era uma sensação incrível: “além de passar a entender e aprender cada vez mais as manobras, no jogo ainda havia a possibilidade de criar meu próprio personagem e executar as manobras que passei a desenvolver com o tempo”, exemplifica Paulo Aquino. 

Essa liberdade no controle do skate e na criação de personagens fez com que o jogo ganhasse cada vez mais adeptos, tornando-se um marco na cultura pop por tirar o skate de um nicho mais fechado e colocando-o em evidência para milhares de pessoas, permitindo o crescimento de uma indústria rica e milionária.  

O que falar da trilha sonora do game? Além de servir como porta de entrada para o mundo do skate, muitas bandas conseguiram ter seu lugar ao sol por fazer parte da trilha do jogo, o que fez com que diversos jogadores entrassem no mundo do rock e hip-hop. Bandas como Public Enemy, Rage Against The Machine, Bad Religion, Millencolin, entre outras foram ouvidas ao longo da franquia, o que deu um outro aspecto ao nome Tony Hawk: o jogo conseguia ser intermidiático, influenciando não apenas os videogames, mas também a música.    

“Me senti tão influenciado que anos após começar andar de skate, montei uma banda com amigos e passamos a criar músicas próprias e tocar alguns covers, tais como No Cygar, da banda Millencolin”, diz Paulo Aquino, ao se referir às músicas de Tony Hawk Pro Skater I e II.

Trecho do jogo esportivo protagonizado pelo astro Tony Hawk
[Imagem: Neversoft]
Com o sucesso do jogo no Playstation 1, mais consoles ganharam suas versões, saindo também para Nintendo 64, Game Boy Color e Dreamcast, sempre se mantendo entre os Top 10 mais vendidos dos consoles em que fez parte. O game foi o primeiro grande representante, em termos lucrativos, da fusão entre esportes e videogames, o que abriu portas para outros esportes radicais chegarem ao mundo dos jogos. O maior exemplo é Mat Hoffman’s Pro BMX (2001), jogo lançado pela própria Activision e que apresentou aos jogadores o mundo do BMX, modalidade praticada com bicicletas especiais. 

Dezesseis jogos depois, a franquia Tony Hawk se tornou uma das mais lucrativas da indústria de games, totalizando aproximadamente R$5,75 bilhões em vendas. Em 2015, o acordo de licenciamento entre Tony Hawk e Activision acabou e desde aquela época, não houve mais nenhum jogo da franquia. Essa ausência no mercado deu espaço para que concorrentes ganhassem mais relevância e até espaço entre skatistas e jogadores. 

A Electronic Arts lançou sua própria franquia de Skate, intitulada “Skate.”, que contou com três jogos mais focados no realismo e que agradou os jogadores mais exigentes: “Skate veio com uma nova proposta, tentando trazer mais realidade ao game, sem tantas improbabilidades como em Tony Hawk. A sensação que o jogo Skate traz é mais próxima do realismo, onde a dificuldade de realizar uma manobra se mostra mais evidente”, explica Paulo Aquino.

Mesmo que os últimos jogos da franquia Tony Hawk não agradem os críticos e jogadores, as memórias envolvendo a série, especialmente o primeiro jogo do Playstation 1, são muitas e sempre trazem um lado emotivo de nostalgia: “Acredito que a memória mais intensa que sinto é da proximidade que o jogo me fez ter com o skate, as amizades que o skate me trouxe, as vivências de rua, as manobras que aprendi. Sem dúvida, Tony Hawk foi a maior inspiração para me tornar um skatista desde 2004, até os dias de hoje e sempre”, relata Paulo Aquino.

Tony Hawk, a lenda do skate que arrastou diversas gerações para o esporte e videogames [Imagem: Stringer]
Tony Hawk, a lenda do skate que arrastou diversas gerações para o esporte e videogames [Imagem: Stringer]

Atletas invadem o mundo dos games: a união rentável entre o ídolo e o videogame 

Mesmo Tony Hawk sendo um dos principais atletas envolvidos em jogos, a indústria de games já havia utilizado outros esportistas no intuito de agradar o público e vender bem. 

Das situações mais absurdas até tentativas mais práticas, as empresas aventuraram-se em diversos tipos de jogos e esportes, mostrando que a união entre esses dois mundos pode ser vantajosa para ambos os lados: indústria de games e jogadores. Os mais relevantes são:

 

Ayrton Senna’s Super Monaco GP II (1992) (Sega)

O ano de 1991 marcou o tricampeonato mundial de F1 para Ayrton Senna (inclusive, sua última grande conquista). Sendo assim, em uma tacada de mestre, a Tectoy, empresa brasileira de equipamentos eletrônicos, teve a iniciativa de fazer um jogo com base na popularidade do campeão brasileiro. Com a ideia pronta, os funcionários da empresa partiram para o Japão no intuito de convencer a Sega. 

Não demorou para os executivos da empresa aceitarem a oferta. No dia 17 de julho de 1992, o game Ayrton Senna’s Super Monaco GP II chegava ao Mega Drive (console produzido pela Sega). O desenvolvimento do jogo teve a participação do próprio Ayrton Senna, que, além de ter seu rosto em formato virtual aparecendo durante as telas de carregamento e menu, ajudou na construção das pistas, tornando-o complexo e mais maduro. 

O jogo consistia no campeonato de 1991, sendo disputado desde o início por um corredor desconhecido e novato. Ayrton Senna é piloto da “Madonna”, a melhor escuderia do game e seu rival. O jogador pode mudar de equipe e de carros até conseguir enfrentar o piloto brasileiro. Os nomes de pilotos, carros e equipes foram alterados no produto final, pois a Sega não tinha a licença para usá-los, com a já citada “Madonna” representando a McLaren, “Millions” sendo a Williams, entre outras modificações. 

“Eu tentei passar para o jogo a emoção de uma corrida: o desafio de competir, vencer, ser o número 1 e se divertir ao mesmo tempo”, comenta o próprio piloto em um dos pôsteres promocionais da época. O resultado não poderia ser diferente e a sensação que fica ao terminar o jogo é exatamente essa: superação, felicidade e êxtase.

Trecho do jogo esportivo protagonizado por Ayrton Senna
[Imagem: Sega]

Tiger Woods PGA Tour (1998-2013) (Electronic Arts)

No começo da década de 1990, a Electronic Arts começava seu domínio nos jogos de esporte. Com sua divisão EA Sports (alguém lembra dessa frase icônica? EA Sports, it’s in the game!), ela não perdeu tempo e iniciou sua série de golfe PGA Tour Golf. PGA Tour é a organização que cuida dos jogadores profissionais de golfe nos Estados Unidos. 

Envolto em polêmicas, Tiger Woods é considerado uma lenda viva do golfe e é um dos atletas mais conhecidos do mundo. Sua carreira como profissional foi inaugurada em 1996, com acordos de patrocínio nunca antes vistos no mundo do golfe. Dois anos depois , seu nome já estampava o título de um jogo: Tiger Woods PGA Tour.

As mecânicas dos antigos jogos PGA Tour foram mantidas, mas com algumas modificações na interface e nas mecânicas. Os jogadores poderiam escolher Tiger Woods e mais sete golfistas, além de poder criar seu próprio personagem. 

A série com Tiger Woods durou até 2013, quando ocorreu o fim do contrato entre a EA e o atleta. De acordo com a própria empresa, a decisão pelo término foi mútua. Estranhamente, dois anos após o encerramento do contrato, em 2015, a Electronic Arts lançou mais um jogo em associação com a PGA Tour: Rory Mcllroy PGA Tour.

O atleta Rory Mcllroy era o número um no momento de lançamento do jogo e apesar do maior realismo em torno do game, as vendas não chegaram nem perto daquelas encontradas na época em que Woods estampava a capa, o que fez com que a EA parasse de desenvolver jogos virtuais com a temática de golfe.

Jogo esportivo da lenda do golfe Tiger Woods
[Imagem: Electronic Arts]

Michael Jordan: Chaos in the Windy City (1994) (Electronic Arts)

Dos jogos citados até aqui, Michael Jordan: Chaos in the Windy City é o mais diverso. Em uma mistura de jogo plataforma e esporte, vemos o atleta salvando outras estrelas do basquete. Durante uma partida All-star (aquela que reúne os melhores jogadores do ano, divididos em conferências, leste e oeste), os atletas são sequestrados, e a missão daquele que controla o jogo é utilizar as habilidades de Jordan com a bola de basquete para salvar os companheiros de esporte.  

De acordo com a evolução do jogador na narrativa, é possível encontrar tipos de bolas com cores especiais, o que indica seu efeito e poder: gelo, fogo, entre outros efeitos explosivos. A variedade não fica apenas restrita à munição usada por Jordan, mas também engloba fases diversas, cheias de segredos e com itens a serem descobertos. 

Jordan não está aqui à toa e ele utiliza diversas jogadas, tais como arremessos, enterradas e dribles, mostrando todo seu leque de técnicas e deixando o jogo, no mínimo, mais interessante, afinal, quem pensaria que algum dia veríamos a lenda das quadras em um jogo de ação/plataforma?

O game fez sucesso na época, mas nunca teve uma continuação oficial. Mesmo assim, a Electronic Arts aproveitou o sucesso de Chaos in the Windy City e chamou outra lenda das quadras para protagonizar um jogo de luta: Shaquille O’Neal. Infelizmente, Shaq Fu (1994), não deixou boas lembranças em quem teve a oportunidade de jogá-lo e é motivo de brincadeiras até hoje. 

Outro game que serve como sucessor espiritual de Chaos in the Windy City é Go! Go! Beckham. O jogo de Game Boy Advance mostra uma versão mirim do jogador David Beckham usando de suas habilidades futebolísticas para derrotar diversos inimigos em fases que lembram muito Super Mario Bros.

Jogo esportivo da lenda Michael Jordan
[Imagem: Electronic Arts]

Michael Phelps: Push The Limit (2011) (505 Games)

Os consoles evoluíram a um ponto que jogadores podiam simular situações através de sensores de movimento e o item mais famoso relacionado a isso foi o Kinect, produto da Microsoft. Algumas empresas tentaram aproveitar a novidade e não foi diferente com a produtora 505 Games

Michael Phelps: Push The Limit é um game que utiliza as funções do controle Kinect e coloca o jogador no papel de um nadador desconhecido, com a difícil tarefa de superar Phelps, multicampeão e um dos maiores atletas vivos com mais de 25 medalhas olímpicas. Como visto em outros casos dessa lista, o game também contou com a ajuda do próprio atleta em seu desenvolvimento. 

Nele, encontramos um modo Carreira que simula eventos e modalidades a serem praticadas. Entretanto, o jogador não ficará restrito a competições, tendo também que treinar alguns aspectos da natação e executar os movimentos de diferentes tipos de nado, tais como Crowl, costa e borboleta em uma ambientação bem realista com cenários inusitados. 

Push the Limit é um divertido, inovador e saudável jogo com elementos que desafiam tanto os jogadores sérios e os nadadores, quanto os fãs casuais”, comentou o nadador, na época de divulgação do jogo. Para a crítica, o jogo falhou justamente nas mecânicas de movimentação e sua precisão, com algumas limitações e bugs. 

Ainda assim, Push The Limit continua sendo um dos poucos representantes em questão de jogos com temática esportiva envolvendo a Natação e deixa aquele gostinho de que, se melhor desenvolvido, seria uma bela introdução para qualquer interessado em aprender como esse mundo funciona.

Jogo esportivo do nadador Michael Phelps
[Imagem: 505 Games]
Muitos outros jogos poderiam entrar nessa lista, mas para maior variação entre os esportes, os escolhidos foram esses citados acima. A união entre esporte e videogame é algo que está longe de ser encerrada e ela, inclusive, influencia no modo que vivemos atualmente. Ter tantos torcedores de times europeus no Brasil, por exemplo, é também devido ao sucesso de jogos como FIFA e Pro Evolution Soccer.

A possibilidade de ter atletas representados em jogos eletrônicos é um caminho sem volta e, atualmente, até os contratos de jogadores já envolvem cláusulas de participação em games. Além do lado comercial, jogos como Tony Hawk’s Pro Skater atraem novos adeptos à prática do esporte, popularizando esportes que talvez não tivessem tanta visibilidade em um primeiro momento, mas que merecem tanta atenção quanto os mais procurados. No final, todo mundo sai ganhando: o atleta, a empresa que faz o jogo e os jogadores de videogame que potencialmente podem ser os novos esportistas, se assim quiserem.

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