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Quinteto libanês “Mashrou’ Leila” hipnotiza em primeira vez no Brasil

Ao subir no palco montado na antiga fábrica em que agora está localizado o Sesc Pompeia, bastou um par músicas para ouvir: “tentei aprender português antes do show de hoje, para ser o mais respeitoso possível, mas tudo o que aprendi foi muito básico ou sujo, e esqueci tudo porque estou muito nervoso” por parte …

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Ao subir no palco montado na antiga fábrica em que agora está localizado o Sesc Pompeia, bastou um par músicas para ouvir: “tentei aprender português antes do show de hoje, para ser o mais respeitoso possível, mas tudo o que aprendi foi muito básico ou sujo, e esqueci tudo porque estou muito nervoso” por parte de Hamed Sinno: “vou ter que fazer isso em inglês, tudo ok com todo mundo?”.

A barreira do idioma seria uma das menores questões no show do último sábado. Hamad Sinno é vocalista da banda libanesa Mashrou’ Leila, formada em 2008 como um projeto de faculdade na American University of Beirut, no Líbano. Suas letras críticas à burguesia e ao modo de vida de Beirute os tornaram famosos na cena indie local. Foram evoluíndo para composições cada vez mais engajadas e carregadas de questionamentos ligados ao movimento LGBT e à questão de gênero na sociedade libanesa, entrelaçando-se com a construção de relações amorosas nesse contexto, o desafio à imposição da masculinidade, questões raciais e de identidade, assim como ideias ligadas ao amor e às inquietudes de qualquer estudante universitário.

A banda se tornou um grande nome do alternativo no Oriente Médio, e por tudo o que envolve sua consolidação e ampliação, uma das mais controversas: após bandeiras arco íris serem erguidas durante um show da banda no Cairo, no Egito, uma série de reações violentas se espalharam pelo país após revoltas da população, com prisões e represálias já comuns na sociedade egípcia, mas que vêm piorando nos últimos tempos. A polícia chegou a utilizar aplicativos de relacionamento para atrair e prender cidadãos. “Posso pedir um minuto da atenção de vocês?” disse o cantor ao contextualizar o episódio: “é muito triste que as pessoas estejam sendo presas por amor, basicamente, então peço um favor para vocês: quando chegarem em casa, compartilhem isso, espalhem o que está acontecendo”.

Em 2016, o grupo passou a ser permanentemente banido de se apresentar na Jordânia devido às suas crenças “políticas e religiosas, e por promover igualdade de gênero e liberdade sexual”, provando que são um divisor de águas no seu próprio continente de origem.

Claro que, para um ouvinte brasileiro, isso pode não ser tão perceptível à primeira vista: as canções são cantadas em árabe, embora esse fato tenha se provado pouco importante quando a banda demonstrou, a cada momento, sua versatilidade musical, veracidade e profundidade, que ajudou a potencializar cada vez mais ao longo do encontro as reações do público paulista.

O grupo carrega uma aura cativante, fortalecida por todos os elementos trazidos ao palco: seja pelas projeções vivas e marcantes, com imagens da juventude nas ruas de Beirute e diversas formas de expressão de gênero, pela presença de alusões visuais ao antropozoomorfismo vindas de seu último álbum (“Ibn El Leil”, 2015) ou pela marcante presença do violino de Haig Papazian, instrumento chave na maioria das composições, que ajuda a identificar e potencializar o som do quinteto.

A mistura não deixa a desejar e é incrementada por outros elementos: o uso de sintetizadores em parceria com as cordas de Papazian se juntam aos vários agregados trazidos por Sinno ao longo do show, como um megafone para distorção, escaleta (instrumento semelhante ao funcionamento da harmônica, que possui um teclado análogo ao do piano em sua superfície), pandeiro e até o uso da palma da mão como alteradora da voz. A diversidade se funde com o tom denso e claro de Hamad para construir um ambiente de sonoridade envolvente e intensa, mas ao mesmo tempo dançável e motivadora.

Seu som lembra o de uma banda como The XX, incorporando elementos eletrônicos ou puramente instrumentais, mas que não deve ser erroneamente catalogada como apenas isso, uma vez que o grupo prova ter uma grande versatilidade e uma vasta opção de ritmos, gêneros e construções (chegando a ter inclusive influências de sons latinos como a salsa em suas músicas) para explorar. É como se cada composição liberasse uma ampla gama de cores diferentes ao ser tocada, transformando o local em um ponto de liberação multicolorido.

O sentimento de engajamento foi conquistando o público reunido no grande espaço da comedoria do Sesc ao longo do encontro, com uma participação cada vez mais emotiva e eufórica. Isso, claro, foi motivado pelo grande carisma de seu vocalista e a sua leveza em palco. “A seguinte música é sobre amor não recíproco porque, vocês sabem né, é assim que as músicas pop são”, ele disse ao introduzir uma das canções. O quinteto se mostrou muito alegre e agradecido com a plateia à medida que a euforia aumentava, agradecendo diversas vezes a presença de todos.

Mashrou’ Leila transferiu sua atmosfera hipnotizante, a apresentação provou ser uma experiência enriquecedora em diversos âmbitos: como um banho de diversidade cultural, da importância da reafirmação social na questão identitária ou na simples beleza de suas músicas.

Por Daniel Medina
danieltmedina@gmail.com

 

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