Taylor Swift construiu sua carreira balanceando vulnerabilidade, música e visibilidade, o que nem sempre foi uma relação proveitosa e equilibrada, marcada por infindáveis rivalidades públicas e pela declarada busca por validação — expressa, por exemplo, pela sonoridade comercial pop que adotou em reputation (2017) e Lover (2019) e por sua relação com premiações. Quatorze anos após seu início, no entanto, Taylor parece enfim suspender-se de si e de pressões externas e submergir-se por completo no espaço de cantora-compositora, que sempre dominou com delicadeza e meditação, em folklore.
O álbum, lançado de surpresa no dia 24 de julho, se estende por 16 músicas nascidas do folk, pop, country e alternativo. Nelas, Swift navega pela memória, ansiedade, frustrações, insegurança e doçura presentes no encontro entre enredos construídos e sensibilidade pessoal. Seja pela pandemia que destruiu qualquer possibilidade de divulgação tradicional, ou pelo amadurecimento e estabelecimento de seu nome, Taylor faz de folklore sua gravação mais crua e genuína, longe de ganchos e refrões repetitivos feitos para a rádio e construída pela escrita ímpar que havia estabelecido canções prévias de sua autoria, como All Too Well, no panteão das melhores do século.
Não há desconexão entre melodia, composição e entrega a ser vista. Seus agudos localizados, como em illicit affairs, são extremamente potentes e emotivos. O vocal devaneante de epiphany — entre a expressão de uma canção de ninar e um lamento — colore o melhor esforço da carreira de Taylor em infundir sua obra com temáticas contemporâneas e comentário político-social. Já seven é absurdamente arrebatadora e a leva a espaços nunca antes explorados, moldando a voz da cantora à imagem de um relato vagaroso sobre lembrança, nostalgia e eternidade.
O efeito da obra é penetrante, prolongado e até mesmo físico. Taylor entrega seu álbum mais coeso e cimenta o acesso direto à sensibilidade do ouvinte que sempre cultivou. Desde a revisitação sábia de antigos temas, como o amor adolescente de betty, até a compreensão madura da complexidade de relacionamentos em peace e hoax, a cantora se fixa no espaço digno de gigantesca compositora. Ao lado de Aaron Dessner e Jack Antonoff, atinge as produções mais ricas de sua carreira em anos, longe da exclusividade dos sintetizadores que a fascinavam desde 1989 (2014). As camadas de violoncelo, viola, violino e até mesmo uma gaita extremamente satisfatória criam a textura que complementa, engrandece e nunca ofusca qualquer outro elemento do trabalho.
O oitavo álbum da cantora emociona como poucos. É o melhor realizado projeto de Swift, e não cansa em proporcionar experiências completas que estimulam os sentidos e aproveitam a narratividade musical. Na canção cardigan, ao relatar um amor perdido, Taylor afirma que seu amado permaneceria como um beijo tatuado, que a marcaria como uma mancha de sangue e assombraria sua imaginação. É uma bela síntese do disco. Folklore é um soco no estômago — da melhor forma possível. De fato, como é cantado em seu encerramento, não há outra tristeza capaz deste efeito.
Análise incrível! Deu até vontade de escutar o album novamente. Parabéns ao jornalista.