Por André Romani
No último domingo, 18, ocorreu o Jogo das Estrelas do Novo Basquete Brasil (a NBB) no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O evento contou com astros da música, da internet e, claro, do basquete. Quem esteve no local conseguiu rever, divididas em variados torneios, velhas estrelas do esporte que estavam há muito tempo na Europa ou na NBA. Além disso, passados dez anos da criação do campeonato nacional, também esteve em pauta a reformulação pela qual o basquete vem passando no país.
Torneios de habilidade, três pontos e enterradas
Inspirado no jogo das estrelas da NBA, o evento contava inicialmente com três atrações: os torneios de habilidade, de três pontos e de enterradas. O primeiro seleciona os oito jogadores mais técnicos da liga para um pequeno desafio, dividido em quatro partes:
- O jogador deve driblar e passar por uma série de obstáculos;
- Em seguida, tem três chances para acertar um passe;
- Faz uma tabela no outro lado da quadra;
- Atravessa a quadra novamente e faz uma cesta de três pontos.
Os competidores se dividem em quatro duplas, que formam as quartas de final. Quem completa primeiro o percurso, passa de fase. Normalmente, os armadores, conhecidos pela sua menor estatura, dominam esse desafio. No entanto, não foi isso que ocorreu. Com 2,08 metros, o pivô do Vitória, Murilo Becker, foi o vencedor da competição ao bater o ala Cauê Borges, do Caxias Basquete, na final. Ele conta que ”o segredo é ter calma para não errar as etapas iniciais, porque a maioria erra o primeiro arremesso de três pontos”.
Os pivôs habilidosos também foram, por muito tempo, conhecidos pela deficiência em bolas de média e longa distância. Shaquille O’Neal foi um dos principais nomes que mantinham essa fama. Na NBA, esse estigma já vem sendo modificado por jogadores como Kristaps Porzingis, do New York Knicks, ou Karl-Anthony Towns, do Minnesota Timberwolves. E a NBB não fica para trás. No desafio de três pontos, o vencedor foi Rafael Hettsheimeir, pivô do Bauru, de 2,08m.
O mais irônico é que os gigantes não dominaram no desafio em que tradicionalmente se destacam: o de enterradas. Quem levou o torneio mais famoso do evento foi Gui Bento, ala do Pinheiros, de 1,95m. A disputa contou com poucos momentos marcantes, e alguma falta de criatividade dos atletas na hora de montarem a jogada.
Desafio das Celebridades
Tradicionalmente, a Liga Nacional de Basquete (LNB) convida famosos de diversas áreas – cinema, esportes, TV, moda, etc. – para um jogo festivo antes da atração principal. O evento sofria algumas críticas, pois o confronto muitas vezes se mostrava monótono e tedioso. Pensando nisso, a NBB mudou o formato e esse ano propôs que as celebridades participassem de pequenos desafios que envolviam percursos, como torneio de habilidades, jogo da velha, entre outros. Se, por um lado, o tempo gasto foi menor, por outro a atividade se mostrou tão ou mais sem graça quanto a antiga. Entre os participantes estavam a cantora MC Soffia, o comediante Robson Nunes, o ex-jogador Cadum e a modelo Flávia Vianna.
O Jogo
Depois de dois anos sendo derrotados pelo Time Mundo, os brasileiros voltaram a vencer o confronto por 130 a 121. Com lances típicos de jogos festivos, como inúmeras enterradas, um show de bolas de três – 36 pontos no total – e defesas não tão empenhadas, o duelo proporcionou muitas jogadas plásticas para a plateia.
Pelo Time Mundo, os destaques ficaram por conta de Malcolm Jaleel Rhett, ala-pivô do Flamengo, e Shamell, ala do Mogi das Cruzes, que juntos foram responsáveis por 44 pontos e 12 assistências. Além deles, o queridinho da torcida, Tyrone, ala-pivô do Mogi, flertou com um triplo-duplo, contabilizando 11 pontos, nove rebotes e sete assistências.
Pelo time da casa, Hettsheimeir e Marquinhos somaram 54 pontos e 16 rebotes. Apesar disso, Anderson Varejão, em seu primeiro Jogo das Estrelas do NBB, foi o grande destaque e MVP (melhor jogador) do confronto. Foram 18 pontos, 15 rebotes e três assistências.
O intervalo do jogo contou ainda com um show do cantor Thiaguinho, que, inclusive, interpretou sua última canção ao lado de seu ex-colega Péricles. Ambos pertenciam ao grupo de pagode Exaltasamba.
Homenagem
O dia também foi de despedidas. O armador Marcelinho, do Flamengo, vai se aposentar no fim desta temporada. Em seu último Jogo das Estrelas, ele acabou sendo eliminado no concurso de bolas de três logo na primeira fase. Mas isso não atrapalhou as festas e as homenagens. Dois vídeos, um de Kobe Bryant, atleta que conheceu há alguns anos em uma visita do Black Mamba ao Brasil, e outro da própria liga, mostraram a importância do ala-armador para toda uma geração. Para Varejão, ”ele (Marcelinho) é um cara diferenciado, fez muito pelo basquete e pelo esporte brasileiro. Não é à toa que ele conseguiu jogar até 42 anos. Um monstro. Foi o líder dentro e fora de quadra na seleção brasileira por muitos anos”. O pivô espera conquistar o título desse ano junto com o colega pelo Flamengo.
O homenageado da noite falou sobre seu futuro e as possibilidades de continuar no basquete: ”Agora vou descansar. Eu acho que virar treinador vai ser difícil, porque é a mesma vida de atleta”. No entanto, esclareceu que o foco, agora, é outro. ”Estou focado no Flamengo agora. Não quero tirar o foco agora do objetivo principal, que é conquistar o título pelo Flamengo”, explica ele. O ala-armador já tem seis títulos nacionais, foi duas vezes eleito MVP da competição e já conquistou três Pan-Americanos e duas Copas América pela Seleção Brasileira, entre muitos outros feitos.
Importância
A NBB foi criada há exatos dez anos e se mostra como o principal fator de reorganização do basquete brasileiro. Um evento desse porte como o Jogo das Estrelas reflete em que patamar a liga está. Hoje, ela atrai jogadores estrangeiros e até mesmo brasileiros já consagrados como Varejão, que conta: ”A liga está em um momento bacana, crescendo a cada ano que passa, por isso que eu tomei minha decisão de voltar para o Brasil. Tinham algumas ofertas de Europa e até NBA, que não eram tão atrativas para mim.” Ele relata que acredita na NBB e que sentia saudades de jogar no país, perto do torcedor brasileiro.
O ala Leandrinho, do Franca, e campeão da NBA pelo Golden State Warriors em 2015, reitera que ”o basquete está sendo muito valorizado aqui no Brasil. Muitos amigos meus perguntam sobre, e muitos jogadores querem vir para viver esse momento, jogar aqui. A organização é fundamental.” Apesar desse sucesso, a Seleção Brasileira não mostra ainda resultados condizentes. Para o ala, o que falta é ”continuidade do trabalho” e afirma: ”se essa evolução continuar, tenho certeza que os resultados virão”.
O campeonato está em sua reta final da primeira fase e, a partir de abril, começam os playoffs. Paulistano, Flamengo, Franca e Mogi já estão classificados diretamente para as quartas de final. Já Bauru, Vitória, Caxias do Sul, Pinheiros, Minas, Basquete Cearense e Vasco disputarão as oitavas de final. A última vaga vai ser definida entre Botafogo e Joinville. O time de Santa Catarina também está ameaçado de rebaixamento para a Liga Ouro – neste momento, Liga Sorocabana e Campo Mourão ocupam as ingratas duas últimas posições da NBB.