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Bem-Vindos à URSS: uma viagem pelo Basquete Soviético

Por André Romani e Bruno Nossig O basquete é um esporte canadense, mas foi popularizado pelos Estados Unidos. São os americanos que tem o histórico domínio do esporte, com alguns rivais em diferentes épocas. O maior deles foi a antiga URSS. Apesar disso, muitos desconhecem os feitos dessa seleção icônica.Com muitos craques e um jogo …

Bem-Vindos à URSS: uma viagem pelo Basquete Soviético Leia mais »

Por André Romani e Bruno Nossig

O basquete é um esporte canadense, mas foi popularizado pelos Estados Unidos. São os americanos que tem o histórico domínio do esporte, com alguns rivais em diferentes épocas. O maior deles foi a antiga URSS. Apesar disso, muitos desconhecem os feitos dessa seleção icônica.Com muitos craques e um jogo mais cadenciado e frio em relação às outras seleções, os soviéticos encantaram muita gente com a bola laranja.

Nesse passeio pelo basquete soviético, o Arquibancada mostrará os jogos históricos da seleção masculina, principalmente em relação a Olimpíada de 1988, o estilo de jogo e os maiores craques do país.

O domínio no feminino

Foram muitos anos de soberania e títulos. A Seleção Feminina Soviética de Basquete, no começo da segunda metade do século passado, simplesmente criou uma dinastia. Foram 6 Mundiais conquistados em 7 disputados entre 1959 e 1983, sendo 5 seguidos, de 1959 a 1975. Entre esses títulos existiram duas gerações espetaculares de jogadoras, que encerram sua participação em uma derrota devastadora para as americanas, no Mundial disputado na URSS em 1986.

O basquete feminino só foi incorporado aos Jogos Olímpicos em 1976,  e, logo na estreia da modalidade, a União Soviética conquistou a medalha de ouro – feito repetido na Olimpíada seguinte, em 1980. A equipe contou com a primeira jogadora não americana a ser hall da fama do basquete, a gigantesca  Uliana Semionova, de 2,13m. Semionova, conhecida também por calçar 58 (na numeração europeia), só perdeu um jogo pela URSS, a final do Mundial contra os EUA.

A gigantesca Semionova usava a camisa 10 (Imagem: Reprodução)

A Final que nunca acabou

Em 1972, as Olimpíadas foram disputadas em Munique. Durante a Guerra Fria, as duas potências mundiais lutavam em todos os esportes. No basquete, não era diferente. A seleção masculina norte-americana nunca havia perdido sequer um jogo olímpico e procurava manter essa sina, mesmo com um time jovem.

A URSS, dona de um time experiente, que contava com Sergei Belov – o primeiro estrangeiro a entrar no Hall da Fama do Basquete -, queria finalmente vencer a seleção americana, algoz em quatro finais olímpicas (entre 1952 e 1964). De acordo com Eduardo Agra, ex-jogador da seleção brasileira, Sergei Belov era considerado um dos melhores armadores do mundo, mesmo sem ter passado pela NBA.  

Dominantes em todo o torneio, ambos os países chegaram a final. Os EUA carregando o peso de um esporte onde o ouro era obrigação. A URSS tentando derrubar finalmente seu maior rival, em um esporte no qual os americanos eram os favoritos. Os soviéticos começaram melhor e venceram o primeiro tempo por 26 a 21. O segundo tempo seguia para o mesmo caminho, com a diferença já em 10 pontos, quando o time americano começou uma reação a quatro minutos do fim. Faltando dez segundos, a diferença era de apenas um ponto, com a União Soviética na frente.

Um erro dos soviéticos permitiu um contra-ataque, no qual Doug Collins, futuro treinador dos Bulls e Wizards, sofreu uma falta a 3 segundos do final. 49 a 48 marcava o placar. O jovem, que foi a primeira escolha do Draft de 1973, tinha uma pressão enorme em suas costas. Histórias contadas mais tarde, mostram que no banco, muitos pediam sua substituição. Esses pedidos foram respondidos pelo treinador da seguinte forma: “Se Collins puder andar, ele vai bater os lances livres’’. E assim ocorreu, o garoto de 21 anos acertou os dois lances livres, que praticamente sacramentariam o título.

Sergei Belov arremessa com marcação forte durante a final de 1972 (Imagem: Reprodução)

Na tentativa de passe do fundo quadra, o pedido de tempo dos soviéticos ocorreu, faltando apenas um segundo. A União Soviética, entretanto, afirmou que o pedido já tinha sido feito durante os lances livres de Collins, e, logo, o relógio deveria regredir para 3 segundos. O árbitro brasileiro Renato Righetto atendeu. Novamente do fundo quadra, uma tentativa de passe longo, e dessa vez o estouro do cronômetro marcou o título americano. Comemorações. Todo o banco de reserva já em quadra, quando o árbitro geral do jogo, afirmou que o lance não valeu, pois o relógio ainda estava sendo arrumado.

Novamente, volta-se ao fundo da quadra. Os norte-americanos sabiam que com três segundos seria difícil o placar ser alterado. Porém os soviéticos colocaram em quadra Ivan Edeshko, que fez um longo passe para Aleksandr Belov, o qual ganhou de dois marcadores e fez a cesta, dando o título inédito aos soviéticos, 51 a 50.

Os EUA, não aceitaram o resultado. Uma confusão começou, gerando um pedido de anulação da partida. Depois de nove horas de discussões dos árbitros, o resultado foi mantido. Os norte-americanos nunca aceitaram a decisão e a medalha de prata. Kenny Davis, um dos jogadores em quadra, deixou em seu testamento que nem ele, nem nenhum familiar futuro iria aceitar aquela medalha. Os lances e esse jogo ainda são discutidos até hoje.

Um jogo histórico para o Brasil

Nas Olimpíadas de 1988, o Brasil se encontrou nas quartas de finais com a União Soviética, um time que possuía grandes craques, como Arvydas Sabonis e Sarunas Marciulionis – que viriam a jogar, anos depois, na NBA. Do outro lado, o Brasil também não era um time qualquer. Era a geração que havia derrotado os Estados Unidos nos jogos Pan-Americanos de 1987. As esperanças eram altíssimas para a equipe liderada pelo maior pontuador em Jogos Olímpicos, Oscar Schmidt.

As duas equipes tinham características de jogo diferentes. O Brasil jogava em um modo run and gun, um jogo corrido em que a finalização era feita normalmente com mais de 15 segundos restando no cronômetro. O estilo do Brasil dependia de seus grandes chutadores, como Oscar e Marcel. Cadum, armador brasileiro que participou do jogo, conta como a mentalidade da equipe era oportunista. “Se a oportunidade aparecesse com um segundo de posse de bola, iríamos aproveitá-la, porque poderia ser que ela não aparecesse depois, e, às vezes, no basquete, por ser muito dinâmico, as oportunidades aparecem rápido’’ relatou o jogador.

A seleção também tinha influência do basquete americano, porque via na defesa forte uma forma de conseguir contra-ataques para arremessos fáceis. O estilo run and gun da seleção viria a ser aperfeiçoado pelo técnico Steve Kerr para criar o vitorioso elenco do Golden State Warriors, que conquistou seu segundo título da NBA em 2017.

A União Soviética jogava segundo o modo europeu de basquete, com um tempo de jogo mais lento, muitas vezes usando os trinta segundos para achar o melhor arremesso possível. A equipe possuía uma defesa forte e buscava contra-ataques principalmente com a velocidade de Sarunas Marciulionis.

De acordo com Cadum, a equipe brasileira era mais agressiva que a soviética. “A URSS tinha um pouco mais de controle de bola, apesar de ter alguns jogadores, principalmente os lituanos, mais agressivo para cesta, mas que em relação ao nosso jogo ainda era um jogo mais controlado’’ afirmou Cadum em entrevista ao Arquibancada.

O jogo intenso foi disputado em um tempo acelerado, o que era normal em jogos da seleção brasileira. A União Soviética chegou a entrar nesse ritmo, o que serviu como uma vantagem para o Brasil. No final do primeiro tempo, o Brasil chegou a vantagem de cinco pontos, com o placar de 58 a 53.

O placar era altíssimo para um jogo FIBA, já que com a adição da linha de três pela FIBA em 1984, Ary Vidal, técnico da Seleção Brasileira, tornou-a uma arma. Com grandes arremessadores, o plano de Ary era bem executado e aumentava o a pontuação nos jogos do Brasil.

O jogo era cativante, exatamente, porque os dois times estavam “metendo muita bola”, como dizem os comentaristas de basquete. No segundo tempo, a partida permaneceu apertada, com as duas seleções tendo oportunidade de passar a frente no placar.

Faltando 1 minuto e 50 segundos para o jogo acabar, o Brasil estava perdendo por quatro pontos, 107 a 103. Num ataque dos soviéticos, Sabonis, próximo ao garrafão, arremessou e sofreu um toco incrível do ala pivô Gerson. A partir deste lance, o contra-ataque foi iniciado e Oscar Schmidt colocou o Brasil a dois pontos de diferença, 107 a 105.

Tempo pedido pela União Soviética.

A União Soviética voltou a atacar, mas com uma grande defesa da  equipe brasileira perdeu a cesta. O rebote ficou com o pivô Israel (107 a 105). O relógio marcava 59 segundos, e o ataque brasileiro foi iniciado. Faltando 50 segundos, Oscar tinha a bola nas mãos. O melhor jogador da equipe, tinha a bola nas mãos (107 a 105). Era a chance para o empate. Oscar cortou para zona morta e fez seu arremesso tradicional, faltando 46 segundos para o final do jogo (107 a 105). O relógio correu mais um segundo, 45 segundos (107 a 105). O grandalhão Sabonis – que tinha feito um jogo apático – pegou o rebote (107 a 105). Oscar errou o arremesso. Cadum conta que “era uma jogada característica do Oscar, que ele fazia bem’’.

A seleção brasileira fez uma falta que atrasou o contra-ataque soviético. 33 segundos. A URSS bateu o lateral (107 a 105). A bola foi bem rodada e caiu faltando sete segundos na mão do ala-armador Sarunas Marciulionis. Ele cortou para o garrafão atraindo a marcação brasileira. O camisa 10, Rimas Kurtinaitis, ficou livre na linha de três da zona morta. Marciulionis viu. O passe veio. Rimas Kurtinaitis, chutou faltando quatro segundos. 110 a 105.

Acabou a esperança da Seleção Brasileira de medalha na Olimpíada. E os gigantes soviéticos sobreviveram. Mesmo com a partida ruim de Sabonis, o Brasil estava eliminado. Para Cadum, o gigante soviético pode não ter aparecido nos números, mas tinha uma “presença incrível dentro de quadra, que se fazia notar’’. Eles enfrentariam os norte-americanos nas semifinais dos Jogos Olímpicos.

Revista Super Basquete comenta participação Olímpica Brasileira. Na capa, armador Guerrinha faz marcação dura em Sarunas Marciulionis (Imagem: Reprodução)

Semifinal: o último embate entre URSS x EUA

Sem se encontrar em Olimpíadas desde a fatídica final de 1972, as duas superpotências da época tiveram seu último embate, nas semifinais de 1988, em Seul. A URSS viria a se dissolver em 1991, e o Mundial de 1990 acabou não tendo o encontro das duas seleções. Diferentemente de 1972, as duas equipes agora tinham a companhia da Iugoslávia de Petrovic como candidata ao título também, seleção que viria a eliminar os americanos no mundial seguinte.

Os EUA levavam para os jogos atletas universitários. Porém, esse time contava com David Robinson, que no futuro faria parte do lendário Dream Team americano. A seleção soviética repetiu a receita do jogo do Brasil e tirou pela primeira vez os norte-americanos de uma final olímpica na modalidade.

A derrota foi dolorida para os norte-americanos. Em um contexto de final de Guerra Fria, uma derrota desse impacto, para o maior rival, em um esporte em que eles eram mais dominantes, não ficou barato. Logo em seguida, os EUA mudaram a tradição e começaram a levar os astros da NBA para as Olimpíadas (Leia como isso ocorreu).

Essa foi a última grande conquista do basquete soviético, que perdeu a final do Mundial de 1990 para a Iugoslávia. Depois de se dissolver, nenhum dos países que formaram a URSS foram capazes de bater de frente com a seleção norte-americana no basquete, mesmo a geração da Lituânia de 1990, que contava com Sabonis e Marciulionis, sina que segue até hoje.

Final com a Iugoslávia

A Iugoslávia possuía um time fortíssimo de basquete. No mundial de 1978, disputado nas Filipinas, a seleção já tinha batido a União Soviética na prorrogação, por apenas um ponto. A Iugoslávia também tinha sido medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1980, competição que não teve participação do Estados Unidos.

Em retrospecto do período, a União Soviética era a favorita. Tinha conquistado o Mundial de 1982 e eliminado a Iugoslávia nas semifinais do Mundial de 1986. Mas na Olimpíada de 1988, apesar da força soviética, os rivais contavam com o armador Drazen Petrovic, o ala-pivô Toni Kukoc e o pivô Vlade Divac – os quais jogariam, anos depois, na NBA.

A URSS estava embalada por ter batido o Brasil e os Estados Unidos. A Iugoslávia mantinha-se confiante por já ter batido os soviéticos nas mesmas Olímpiadas durante a fase de grupo.

O jogo começou nervoso. A Iugoslávia iniciou em uma marcação fechada, buscando diminuir a pontuação soviética dentro do garrafão e permitindo chutes de longa distância. A URSS manteve-se na marcação individual, pressionando os jogadores nas linhas dos três. Ofensivamente, a Iugoslávia era mais paciente e usava quase todo o relógio para achar o “arremesso perfeito”. Petrovic dominava o tempo do jogo, armando sua equipe de forma esplêndida.

No primeiro tempo, Vlade Divac aproveitou a marcação individual e foi a principal arma ofensiva, jogando no 1-contra-1 dentro do garrafão. A União Soviética estava apática, não conseguindo pressionar defensivamente seu rival e não obtendo sucesso no ataque. Com isso, os iugoslavos estavam na frente por 24 a 12, faltando oito minutos para acabar o primeiro tempo.

A partir desse momento, a União Soviética entrou na partida, liderada pelas grandes jogadas do astro Arvydas Sabonis. A defesa soviética conseguiu com que os europeus não fizessem nenhum ponto durante 7 minutos. Com isso, após uma sequência de 19 a 4 para a União Soviética nos minutos finais,  os soviéticos viraram o placar e terminaram o primeiro tempo com uma vantagem de três pontos, 31 a 28.

No segundo tempo, a União Soviética continuou a dominar e, apesar do esforço de Petrovic e Divac (que haviam feito 5 pontos e 2 pontos, respectivamente, nos quatro minutos iniciais do segundo tempo), os soviéticos conseguiram abrir dez pontos de vantagem. Os iugoslavos não desistiram e, por meio de contra ataques velozes, encostaram no placar, ficando cinco pontos atrás, com dez minutos restantes.

A partir desse momento, a vitória soviética começou a tomar forma. Sarunas Marciulionis começou a jogar o basquete que fazia dele um dos grandes no circuito da FIBA. Arvydas Sabonis passou a dominar o garrafão tanto na defesa quanto no ataque. Os iugoslavos não conseguiram mais encostar no placar. Inevitavelmente, o nervosismo afetou os jogadores, que perderam a linha tática de ataque inicial. Nos últimos minutos, os soviéticos abriram dez pontos e mantiveram essa margem até o final do jogo, quando ganharam de 76 a 63.

O Fim da URSS

A medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul de 1998 foi o último título da União Soviética no basquete. No mundial de 1990, disputado na Argentina, o país  ficou na segunda colocação, quando a Iugoslávia teve sua revanche derrotando os soviéticos na final, por um placar de 92 a 75.

Em 26 de dezembro de 1991, a União Soviética foi dissolvida e deu origem a vários países. No basquete, isso não significou que os países tenham perdido força. Nos Jogos Olímpicos de 1992, a Lituânia, por exemplo, eliminou o Brasil nas quartas de final e conquistou a medalha de bronze.

Craques

Imagem: André Romani e Bruno Nossig / Jornalismo Júnior
Imagem: André Romani e Bruno Nossig / Jornalismo Júnior
Imagem: André Romani e Bruno Nossig / Jornalismo Júnior

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