Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
A estreia de The Man Who Killed Don Quixote (2018) é uma vitória do diretor Terry Gilliam. Não em relação à qualidade do filme — porque se aproxima mais de um fracasso — mas por sua concretização após 20 anos de produção. Quando o material de origem é tão conhecido como a obra de Cervantes, fazer um filme pode se tornar um território perigoso. The Man Who Killed Don Quixote, mesmo cansativo e excessivamente bagunçado, acerta nas referências que traz.
O longa conta a história de Toby (Adam Driver), um diretor de comerciais de TV, que está na Espanha para a gravação de uma superprodução baseada na história de Miguel de Cervantes. Em meio a crises criativas, Toby se recorda do filme que gravou para concluir sua faculdade 12 anos atrás e que era… uma adaptação de Dom Quixote também.
Em busca de inspiração, Toby retorna ao vilarejo que foi cenário de seu primeiro filme e tenta encontrar os habitantes locais que atuaram nele. Descobre, para sua surpresa, que o velho sapateiro que fez o papel de Dom Quixote não só está vivo, mas acredita ser o próprio fidalgo. Em um total desequilíbrio mental — que também dá ao sapateiro uma paixão e energia nunca antes experimentadas, o novo Dom Quixote (Jonathan Pryce) carrega Toby para suas aventuras e o transforma em seu fiel escudeiro, Sancho Pança.
A idealização do longa teve início nos anos 80 e sua pré-produção começou em 1998. O elenco inicial era composto por Johnny Depp no papel de Toby e Jean Rochefort interpretando Dom Quixote. Por problemas de saúde, esse último depois seria substituído por John Hurt, que, por sua vez, também lidaria com um câncer e precisaria deixar as gravações.
Era como se a produção estivesse amaldiçoada. Além das dificuldades com os atores, o set de filmagens foi inundado e os equipamentos, destruídos. O financiamento do filme também não foi fácil e a falta de recursos estendeu a produção. O diretor de fotografia, Nicola Pecorini, disse nunca ter visto tanto azar em um filme durante sua carreira.
Infelizmente, a extensão não se restringe ao tempo de produção, mas também à duração do longa. São 132 minutos que cansam, porque o filme é agitado e bagunçado. De início, é difícil se situar em uma linha do tempo, já que são muitos flashbacks de quando Toby era um jovem cineasta. Mesmo com a linha do tempo estabilizada na atualidade, os delírios de Dom Quixote são alongados e deixam o espectador ansiando por um desfecho rápido.
O diálogo entre The Man Who Killed Don Quixote e a obra original é feito com maestria. O longa respeita premissas importantes e valoriza o sentimentalismo do clássico, ao mesmo tempo que modifica um fator interessante: o protagonismo da história. No filme de Terry Gilliam, Sancho Pança, representado por Toby, é o personagem principal, que à mercê das loucuras de Dom Quixote, vai sendo induzido a um mundo de devaneios e heroísmo.
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por Gabriela Bonin
gabibonin@usp.br