Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.
Shirley (2020) nos convida a apertar os cintos e acompanhar os ventos da mudança. A diretora Sarah Gubbins propõe um drama biográfico sobre a vida da escritora Shirley Jackson e seu marido, Stanley Hill, professor universitário e crítico literário, baseado no romance de mesmo nome escrito por Susan Scarf.
Sim, essa é a Shirley que escreveu o livro A Assombração da Casa da Colina (1959), que inspirou a aclamada série da Netflix, A Maldição da Residência Hill (The Haunting of Hill House, 2018). A autora é um dos grandes nomes das histórias de horror e é citada, inclusive, como uma grande influência para o autor Stephen King.
Shirley Jackson morreu jovem e sofria de problemas cardíacos, ansiedade associada a quadros de agorafobia (medo mórbido de se achar sozinho em grandes espaços abertos ou de atravessar lugares públicos) e obesidade. Essa outra faceta da autora também é trabalhada no longa.
A trilha sonora compõe com excelência o suspense tão presente em sua obra. Mas, a atuação que Elisabeth Moss reservou à protagonista Shirley é o aspecto que mais brilha. Só com os olhos, a atriz já diz muito e transpassa os dilemas vividos em meio àquele universo.
No outono de 1964, Rose (Odessa Young) e Fred Nemser (Logan Lerman) partem para uma nova cidade almejando construir suas vidas com os sonhos e euforia de todo casal recém formado.
Aos poucos o jovem casal vai se envolvendo cada vez mais com Shirley e Stanley. Não por vontade própria, na maioria das vezes, mas por influência do professor, que sabe bem controlar as situações em seu favor. Mas, ninguém, e isso inclui nós, os espectadores, esperava pela aproximação entre Rose e a autora. O que intriga é pensar sobre a sinceridade do vínculo entre as duas. Estaria a jovem moça sendo apenas manipulada?
Ao fim, o que nota-se é que Shirley era uma força tão grande que ninguém passava ileso a sua presença. Sua personalidade era instigante e Rose, a esposinha, bem soube. Mas Shirley não estava alheia às coisas ao seu redor. Pelo contrário, era muito observadora, sensível e vê na moça a inspiração que lhe faltava para escrever.
Mesmo que, por vezes, o filme perca a linha biográfica e foque apenas no mistério, o espectador ganha envolvimento com o estilo de criação e mente da autora. É o que essa outra perspectiva de representação permite.
Como alguém que já havia sentido toda a dor da experiência, Shirley apresenta Rose à dura realidade do casamento e da vida de uma mulher e efetivamente lhe comunica, pois amplia sua percepção do mundo e também a nossa.
Confira o trailer em inglês, sem legendas:
*Capa: [Imagem: Divulgação/Killer Films/Los Angeles Media Fund]