por Jasmine Olga
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Muitos já tentaram por meio da ficção ou do retrato da vida cotidiana capturar a essência do que é existir no planeta Terra e dar vazão a esse sentimento por meio da sétima arte. O clamor por união, paz, tolerância e paixão sempre estiveram presentes na maior parte das obras que tentam explicar a complexidade humana. Todos os clichês da nossa existência, como o apelo ao choro fácil, a metáfora da igualdade entre todos os povos e a “benção” em ser considerado humano. Por negar tantos desses clichês, é difícil definir a intenção de Yann Arthus-Bertrand ao viajar 60 países e ouvir milhares de histórias para nos entregar Humano – Uma Viagem pela vida (Humans, 2015).
O documentário consiste em uma série de entrevistas curtas com pessoas dos mais diversos lugares do mundo que falam sobre temas essencialmente humanos, como o amor, a vida, guerra, miséria e a morte. A diversidade de personagens é uma das coisas mais marcantes da obra. Depoimentos de condenados à prisão perpétua, sionistas, pacifistas, refugiados, soldados americanos, palestinos, ex-presidentes e tantas outras figuras que nos ajudam a refletir sobre a diversidade e complexidade dos pensamentos e vidas ao dar voz a pessoas que não costumam ser vistas ou ouvidas por um público.
O que poderia ser simplesmente mais um documentário de caráter confessional sobre as dores e singularidades, já nos mostra em seus primeiros minutos qual a sua diferença. Humanos que não se encaixa no hall dos clichês que procuram explicar a humanidade. Arthur-Bertrand não utiliza somente a experiência pessoal de seus entrevistados para nos fazer refletir sobre a jornada pela vida. Suas famosas fotografias aéreas se apresentam em longas cenas de atividades cotidianas (em grupo ou solitárias) e imagens esplendorosas de montanhas, mares revoltos e outras atividades da mãe-natureza para talvez nos levar a contemplar a variedade da vida humana no planeta em seus mais diferentes aspectos em comparação à grandiosidade da natureza.
As entrevistas, filmadas de modo a nos colocar no lugar do entrevistador, são intimistas e dispostas em blocos de temas que transcorrem como um ciclo de vida. A reação aos depoimentos nem sempre se dão pelo teor do depoimento em si, mas pela forma como são apresentados aos espectadores. É o caso de um pai israelense e um pai palestino que contam suas experiências com a morte de suas filhas pelo grupo rival.
A fotografia apresentada é composta por elementos ricos em cores vívidas, detalhes de elementos secundários da paisagem e da natureza que, aliada as histórias de vida dos entrevistados, emociona. A trilha sonora, composta por Armand Amar, acompanha todas as passagens do filme e é tão culturalmente diversa quanto os personagens e paisagens trabalhados. Assim como as cenas aéreas, as músicas ajudam a condução da narrativa, abordando diversas culturas e estilos, nos envolvendo ao decorrer das entrevistas, amplificando a mensagem exposta e o sentimento de cumplicidade.
Humano – Uma viagem pela vida é um filme que merece ser visto por todos aqueles que acreditam que o ser humano é constituído não só de defeitos e qualidades, mas também de experiências, dores e amores.
A obra estreia no dia 6 de outubro. Assista ao trailer: