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Monótono, ‘Retrato de Um Certo Oriente’ mostra irmãos libaneses em busca de refúgio na Amazônia 

História de libaneses rumo à Floresta Amazônica traz preconceito religioso, ciúmes doentio e adaptação cultural para as telonas
Por Daniela Gonçalves (danielagsilva@usp.br)

O filme Retrato de Um Certo Oriente (2024) é baseado no livro “Relato de um certo oriente” (Companhia das Letras, 1989) de Milton Hatoum, que ganhou o Prêmio Jabuti em 1990. As obras contam a história de dois irmãos libaneses, Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour), que embarcam com destino ao Brasil, para fugir da guerra e buscar uma nova vida em um território desconhecido. A história se passa em 1949, momento em que o Líbano passava por um conflito devido à fundação do Estado de Israel no ano anterior. 

Os dois irmãos católicos embarcam nessa aventura por motivos distintos: Emir quer sair do Líbano por receio de ser convocado para a guerra e, também, por um ciúmes descabido e talvez incestuoso da irmã. Já Emilie é uma moça doce que ama o irmão incondicionalmente e, pelo bem dele, aceita ser levada para o Brasil contra a própria vontade. No entanto, a mocinha se anima com a viagem após conhecer Omar (Charbel Kamel), um comerciante muçulmano que se encanta por ela à primeira vista. 

Omar vive em Manaus com o tio e está voltando do Líbano, onde foi comprar tecidos para revender no Brasil [Imagem: Divulgação/ O2 Filmes]

O romance começa às escondidas, já que Emilie sabe do ciúme do irmão, que usa das diferenças religiosas para tentar afastá-los. O novo romance também traz aprendizados para Emilie, já que é Omar quem a ensina o básico do português, para que a libanesa consiga se comunicar no novo país. Durante a viagem rumo à Manaus, a tensão entre os dois homens aumenta quando Emir acaba baleado. Emilie e Omar acabam se aventurando em uma aldeia indígena dentro da Floresta Amazônica com Anastácia (Rosa Peixoto), filha de um curandeiro capaz de salvar Emir.

A fotografia preto e branco acentua o intuito do filme, que é ser sobre memórias. A palavra “retrato” presente no título do filme faz referência às lembranças de uma trajetória de refúgio, de uma busca por uma vida melhor, além de se referir às fotos tiradas por um fotógrafo durante o longa. A direção de fotografia nesse aspecto foi estratégica: transportar o público para dentro da história, no fim da década de 1940, na região Norte do Brasil. Entretanto, o fato do filme ser gravado na Floresta Amazônica, lugar com cenários coloridos e extravagantes e não ter essas cores é no mínimo, decepcionante. 

É um filme que estimula através da grande presença de sons ambientes. Por ser legendado, há também uma grande mistura de idiomas durante o longa: português, árabe, francês, italiano e até mesmo Nheengatu — língua desenvolvida a partir do tupinambá e praticada no vale amazônico — fazem parte da trama. Com essa diversidade de idiomas, o público assiste como é a experiência de adaptação a uma nova língua, uma nova cultura. Apesar de incomum, é perceptível como a forma de se comunicar se adapta ao longo de uma mudança repentina de país como essa. Os atores, que são libaneses, também tiveram a oportunidade de aprender a língua portuguesa do Brasil durante a produção do filme. 

Com os aspectos familiares das histórias de Hatoum, fica em aberto se o ciúmes de Emir é inofensivo ou se há algum sentimento a mais por Emilie. De toda forma, não é saudável e torna o personagem mais profundo que os demais. Apesar de tudo, quando o final se aproxima e eles desembarcam em Manaus, a mocinha toma uma atitude que tornará tudo irreversível. 

É um filme sobre memórias, paixão e preconceito e faz jus a essa perspectiva. A história interessante leva o público a querer saber o que vai acontecer, mas não arrebata. É uma obra monótona, sem um clímax eminente.


O filme, que já foi exibido em diversos festivais, como o de Curitiba, o do Rio e o de Rotterdam, está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

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