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Maria do Socorro Braga: “Se o PT quiser renovação, terá que focar em outros grupos partidários”

A três dias das eleições de 2018, uma das mais polarizadas da história, a J.Press entrevistou quatro cientistas políticos: dois pró-Haddad e dois pró-Bolsonaro. Confira a terceira entrevista: Por Bianca Muniz (biancamuniz@usp.br) Em entrevista à J.Press, a cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos, Maria do Socorro Braga, comenta os aspectos negativos da campanha …

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A três dias das eleições de 2018, uma das mais polarizadas da história, a J.Press entrevistou quatro cientistas políticos: dois pró-Haddad e dois pró-Bolsonaro. Confira a terceira entrevista:

Por Bianca Muniz (biancamuniz@usp.br)

Em entrevista à J.Press, a cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos, Maria do Socorro Braga, comenta os aspectos negativos da campanha e os principais desafios enfrentados pelo candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad.

Na última pesquisa Ibope, Bolsonaro apresentou 59% dos votos válidos enquanto Haddad tem 41%. Paralelo a essa constatação, a rejeição de Haddad aumentou. Como você avalia esse desempenho de Haddad nas últimas pesquisas eleitorais, mesmo com as mudanças da campanha?

Ainda estamos sob o impacto desse resultado. O que pode estar ocorrendo é que os apoios dos candidatos que ficaram de fora da disputa não vieram em grande quantidade conforme o esperado. Então, um primeiro aspecto importante é a baixa adesão do eleitorado dos outros candidatos. Um outro elemento é a intensidade da campanha de Bolsonaro, em usar as redes sociais de uma forma muito mais efetiva que o próprio Haddad, similar à do pessoal que fez a campanha nos Estados Unidos. A campanha do Bolsonaro tem uma capacidade de ampliação muito forte, com mensagens relâmpago, usando robôs. Isso tem mudado muito a opinião do eleitorado. O último fator é a questão do conteúdo que está sendo divulgado sobre campanhas e propostas. Se está mudando votos do eleitorado, eles estão indo para Bolsonaro, não para o candidato petista. A reviravolta acontece no primeiro turno, quando o PSDB fica de fora do segundo turno e entra um partido nanico, inexpressivo.

Caso aconteça uma reviravolta no segundo turno, qual seria o maior desafio do Haddad na presidência?

Seja um candidato ou outro, a primeira coisa que eles irão precisar é criar elementos para aumentar a confiabilidade da classe política, que sai muito desgastada do primeiro turno. A derrota de vários políticos para cargos tão importantes, como a Presidência da República, sinaliza essa desconfiança. Para isso, o PT vai precisar manter as medidas sociais realizadas que parte de seu eleitorado acredita que só continuarão em um governo petista. Além disso, terá que criar uma base de apoio necessária para a governabilidade, trazendo partidos do centro e centro-direita. O PT saiu muito enfraquecido do primeiro turno, não tem 20% da Câmara. Nem mesmo o Bolsonaro tem bancada suficiente.

Há outros desafios, porque estamos em uma grande crise econômica. É preciso equilibrar as contas públicas, fazer reformas estruturais tributárias e fiscais que até hoje os governos não tiveram coragem de perguntar. Eles também falam da Previdência, porém ainda há muita controvérsia de como mudar. Não descobriram uma forma de se fazer isso, sem atingir setores que já contam com os proventos.

Uma possível eleição de Bolsonaro vem apresentando boa aceitação por parte do mercado, enquanto uma eleição de Haddad tem o efeito contrário. Quais efeitos isso terá em uma eleição do petista?

O que vai acontecer é isso que o segundo turno vem mostrando: Haddad terá um discurso mais moderado. Ele está desde o primeiro turno defendendo o imposto em cima das grandes fortunas, ação que a esquerda defende a muito tempo, mas ninguém teve a coragem de fazer. Eu penso que as mudanças mais radicais – como a ideia de estatizar várias empresas – serão moderadas ou tiradas da pauta, porque isso ajuda o mercado a ficar mais tranquilo. Nessa moderação ele acaba atraindo setores do mercado – não todos, porque isso também pode fazer ele perder votos também com segmentos contrários.

Você considera um erro o PT ter lançado um candidato que perdeu inclusive a prefeitura durante o seu mandato?

Não considero. A maior parte dos nossos partidos mais antigos precisa renovar sua liderança. A parte da crítica dentro e fora dos partidos é a ausência de lideranças alternativas. Eu vejo o Haddad como uma nova liderança, uma pessoa preparada que ainda não mostrou toda sua capacidade, no ponto de vista da arena executiva.

A cidade de São Paulo é complexa, há vários interesses e requer vários elementos importantes não só na liderança, mas no próprio partido, ou na base de apoio do governante. Mas apesar dessa inexperiência aqui, ele tem experiência nos ministérios, tem uma visão mais social dos problemas do país

Muita gente diz que foi irresponsabilidade o PT ter lançado um candidato, considerando os riscos para a democracia e a polarização, e defendem que ele deveria ter apoiado outra pessoa. Você acredita nisso?

Eu penso que não. A outra pessoa possível era Jaques Wagner, ex-governador da Bahia. Ele é uma liderança mais antiga, muito restrita ao nordeste e pouco conhecida a nível nacional. Enquanto o Haddad teve uma projeção muito maior como ministro e os programas sociais para a educação foram muito importantes para o país. O problema do PT hoje não está no candidato, está numa questão muito maior: o crescente anti-petismo, especialmente nos mandatos de Dilma. O outro possível candidato petista seria a atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que embora seja mulher e isso seja importante, também não tem essa experiência de gestão. Tem mais experiência no sul, onde o PT não tem tido bons resultados nas últimas eleições. Além disso, é de um grupo dentro do partido ligado ao ex-presidente Lula, e parece que esse grupo é o que mais sofre com anti-petismo. Se o PT quiser renovação, terá que focar em outros grupos partidários. Com Haddad, há outro grupo tentando uma preponderância dentro do partido que é importante para a renovação da liderança, o que possibilita maior visibilidade nacional.

Tem chance de acontecer o que ocorreu com a Dilma?

O argumento para a retirada da Dilma foram as pedaladas fiscais, e até o momento, não houve tempo para o Haddad ter algo dessa natureza. A saída da Dilma foi política. Para mim, o que mais pesou nisso é o que está encoberto até hoje. Aquelas delações de políticos deixaram muito claro que Dilma queria apuração a fundo, e por envolvimento de políticos nas várias fases da operação Lava Jato. Se a Dilma continuasse a maior parte estaria presa hoje

A senhora acha que a esquerda é muito dependente do partido dos trabalhadores?

O PT continua sendo a maior força desse campo, o que acaba fazendo dele o partido de atração da esquerda. Mas as outras forças têm sua independência, alguns foram oposição ao PT pois se originaram de rachas no seu interior.

Muita gente defende que a campanha que o PT fez foi desonesta, alegando para a população que o Lula seria candidato mesmo sabendo que não. O que você diz sobre isso?
Essa é uma questão bem controversa visto o imbróglio jurídico que a prisão do ex-presidente suscitou e ainda vai se desenrolar. Não vejo como desonesta uma campanha tendo em vista o complô armado pelos setores envolvidos.

O que você diz sobre as propostas de Haddad para a educação? Você não acha que há esforços para a educação superior e pouca visibilidade para a educação básica?
Sobre a educação há maior preocupação com a educação superior no seu projeto, mas tendo em vista os problemas que os demais níveis enfrenta ele terá que mexer em toda a grade pra dar conta do projeto maior e abrangente que o PT defende há algum tempo.

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