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Ciclo de encontros Resistir com Arte: um debate necessário

Imagem de destaque: Auditório da Biblioteca Latino-Americana Victor Civita durante o 2º Resistir com Arte. – Tarsila Nakamura – Projeto Atadas Rumo ao terceiro encontro do ciclo, a proposta do Resistir com Arte é buscar refletir, através do debate, o modo como diferentes formas de experiência estética e artística estão pensando o papel, a representatividade e …

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Imagem de destaque: Auditório da Biblioteca Latino-Americana Victor Civita durante o 2º Resistir com Arte. – Tarsila Nakamura – Projeto Atadas

Rumo ao terceiro encontro do ciclo, a proposta do Resistir com Arte é buscar refletir, através do debate, o modo como diferentes formas de experiência estética e artística estão pensando o papel, a representatividade e o protagonismo da mulher, atualmente, na sociedade. Os encontros unem a questão artística, que também serve como ilustração para a discussão, à uma mesa de debates responsável por analisar, principalmente, questões de gênero, arte e política.

Idealizado pelo cientista político da USP, Gustavo Macedo, juntamente com a diretora de cinema Tarsila Nakamura e a professora e coordenadora do Centro Interdisciplinar de Gênero da UNIFESP Ingrid Cyfer, o ciclo é organizado em parceria com o Centro Brasileiro de Estudos da América Latina (CBEAL). Os encontros ocorrem, gratuitamente, na Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, instalação do Memorial da América Latina.

Segundo Gustavo, a ideia do nome do ciclo de eventos nasceu após uma conversa entre os idealizadores sobre o que significava o curta Atadas, produzido por Tarsila, que conta histórias de mulheres vítimas de violência doméstica. Embora não tenha sofrido tal violência, a diretora de cinema produziu um trabalho que é, em si, uma forma de resistência ao gerar denúncia e fomentar conscientização.

De acordo com o idealizador, os convites para a participação na mesa também ocorrem no sentido de tentar empoderar o feminino, de modo que a mesa seja composta, majoritariamente, por mulheres. Entretanto, homens são bem-vindos, inclusive na mesa. Ele ressalta a importância de tê-los nos debates, já que estes também dizem respeito aos homens: “a gente acha que esse debate é muito importante, é um debate sobre inclusão. Então, se é um debate sobre a exclusão de metade da população, você não deveria discuti-lo excluindo a outra metade”, crava, “tanto porque, o empoderamento e a inclusão das mulheres passa muito pela conscientização dos homens”.

Dois encontros já ocorreram. O primeiro deles, realizado no dia 31 de março, foi sobre mulheres e cinema – com foco no documentário Atadas, que embasou uma discussão sobre violência doméstica. O segundo deles, Mulheres e Fotografia, ocorreu no dia 9 de junho. Outros três estão previstos para serem realizados até o fim do ano.

2º Resistir com Arte

O Sala 33 foi conferir o segundo encontro do ciclo, Mulheres e Fotografia, que ocorreu na tarde de 9 de junho, uma quinta feira.. Além do debate, ocorreram exposições fotográficas de trabalhos realizados pelas convidadas.

Seguindo a dinâmica do ciclo de encontros, a proposta foi discutir como diferentes formas de experiência estética no campo da fotografia estão pensando o papel, o protagonismo e a representatividade da mulher na sociedade e também falar sobre fotografia no Brasil e mercado de trabalho.

Para isso, foram convidadas à integrarem a mesa de debates Camila Marques Torres e Jéssica Moreira, representantes, respectivamente, do projeto “Feminicidade” e do coletivo “Nós, mulheres da periferia”; as fotógrafas Vania Toledo e Maureen Bisilliat; e o pesquisador da UNICAMP, Jonas Medeiros. O debate foi mediado por Gustavo Macedo.

A representação e o empoderamento em foco

Como proposto, o discurso de gênero norteou o debate. No entanto, as fotógrafas, que se mantiveram distintas em suas falas, se assemelharam ao não se sentirem representadas por ele, o que, de certa forma, fez com que não dialogassem com a questão da representação da mulher na fotografia, em evidência naquela tarde.

Jéssica Moreira do “Nós, mulheres da periferia” abriu o debate falando sobre o processo criativo da exposição audiovisual Quem somos [POR NÓS], realizada pelo coletivo em 2015. A mostra, que, além de entrevistas em vídeo realizadas pelo coletivo, contou com autorretratos e fotografias produzidas pelas próprias mulheres retratadas, foi resultado do projeto Desconstruindo Estereótipos, anteriormente realizado pelo grupo, que levou oficinas de comunicação para mulheres em seis bairros das periferias de São Paulo. A representante do coletivo trouxe para a mesa a mesma problemática que norteou o projeto: a [falta de] representatividade da mulher periférica na grande mídia, sobretudo da mulher negra periférica – como se viam retratadas e como gostariam de se ver. Com isso, colocou em discussão o significado que a ação do coletivo teve ao mostrar para essas mulheres que elas também podem se apropriar da comunicação, da fotografia, e, dessa forma, preencher, por elas próprias, o espaço vazio existente na grande mídia que lhes foi negado, histórica e sistematicamente.

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Algumas das fotografias expostas, produzidas durante o projeto Desconstruindo Estereótipos, do coletivo “Nós, mulheres da periferia”. Imagem: Mayara Paixão

Camila Marques Torres do “Feminicidade” falou sobre a ação de lambes realizada pelo projeto, em 2015, na cidade de São Paulo, e esse ano, não só em São Paulo, mas também em Brasília e no Rio de Janeiro. Os lambes estampavam fotografias de mulheres contendo histórias contadas por elas em primeira pessoa. O objetivo das fotografias espalhadas foi inspirar pessoas a comemorar o Dia Internacional da Mulher pelo seu real significado.

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Versão para download disponibilizada no site da campanha “Feminicidade” de dois dos lambes em exposição. Imagens: Divulgação

As ações tanto do projeto quanto do coletivo – que, profissionalmente falando, não têm como foco a fotografia em si (e, talvez, justamente por isso) – chamaram a atenção para as novas experiências estéticas surgidas no campo da fotografia e evidenciaram a importância da apropriação da comunicação como ferramenta transformadora de inclusão e de empoderamento feminino.

Outra forma de expressão do campo fotográfico analisada foi o compartilhamento de fotografias na internet como forma de denúncia. A análise foi feita pelo pesquisador Jonas Medeiros, que desenvolve estudos sobre coletivos feministas nas periferias da Zona Leste de São Paulo. O exemplo trazido à mesa foi a #nãopoetizeomachismo que, dentre as diferentes formas em que foi expressa, usou do compartilhamento de fotografias de mulheres com o nome da campanha escrito no corpo como forma de denúncia aos casos de abusos e assédios sofridos por elas nos espaços dos saraus. A hashtag também serviu de pano de fundo para o pesquisador analisar as diferentes ressonâncias que as campanhas surgidas no contexto da primavera feminista tiveram. Isso, para ele, evidencia a importância de falar sempre no plural: “ ‘os feminismos’, ‘as periferias’, ‘as esquerdas’, ‘as direitas’ ”. Analisou, também, que isso tem a ver com a mobilização social, hoje em dia, ser perpassada pela internet, o que “pluraliza e diversifica as possibilidades tanto artísticas quanto políticas”.

Após o fim do debate tornou-se nítido a necessidade de reconhecer que, mesmo a arte não precisando de razão para existir, considerando ser improvável  sua dissociação dos valores éticos e morais que estruturam a sociedade, é fundamental percebê-la, também, como uma ferramenta tanto de manutenção de uma realidade desigual e excludente – quando reforça estigmas e estereótipos, por exemplo –  quanto de mudança dessa realidade, podendo ser em si uma forma de resistência e uma arma poderosa e necessária na luta pelo empoderamento de minorias sociais.

Serviço

Ciclo de encontros Resistir com Arte

Previsão para os próximos encontros:

Mulheres e Cinema 2, cujos filmes, longas ou curtas, foram produzidos por mulheres ou por equipes formadas, majoritariamente, por mulheres: ainda sem data preestabelecida, está previsto para ocorrer na primeira semana de agosto (entre 01 a 05)

Mulheres e Dança: 06 de outubro

Mulheres e Mídias Digitais: 08 de dezembro

Local: auditório do prédio da Biblioteca Latino-Americana Victor Civita – Memorial da América Latina

Endereço: Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 – Barra Funda, São Paulo – SP

A entrada é gratuita e as vagas são limitadas, sendo necessário se inscrever, previamente, para cada encontro do ciclo em página a ser divulgada pelo Memorial.

Por Marcella Affonso
mm-affonso@live.com

 

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