Ouvir música é um dos passatempos preferidos de muitos de nós, mas ao longo dos anos, a forma como isso é feito mudou bastante: do som ao vivo à vitrola, do vinil ao CD, do rádio ao toca-discos e do toca-discos ao iPod. Foi-se o tempo em que ligávamos para rádios pedindo a música do momento, ou comprávamos o CD de uma banda. Com o advento dos computadores pessoais e da internet, ficou mais fácil baixar (muitas vezes de graça) qualquer canção imaginável.
Porém, num mundo onde as conexões de internet são cada vez mais estáveis, os sistemas em nuvem se tornaram nosso segundo HD, e assim, o velho esquema de baixar músicas também vem ficando obsoleto e perdendo espaço. Tudo indica que estamos diante de mais uma mudança em nosso jeito de ouvir música: o streaming.
Antes de tudo, vale esclarecer o que é streaming. Segundo o site significado.com, streaming é “uma tecnologia que envia informações multimídia através de transferência de dados, utilizando redes de computadores, especialmente a internet”. Embora a definição pareça confusa, fica mais fácil quando eu te contar que você usa o streaming sempre que assiste a uma transmissão do Oscar ao vivo pela internet, ou quando faz uma chamada pelo Skype. Não é à toa que, em inglês, stream significa “córrego”, já que o streaming é justamente essa corrente de dados que fluem via internet e carregam os dados instantaneamente, sem que o usuário tenha que esperar. É quase como a TV ou o rádio, porém, usando a internet.
E é assim que funcionam softwares como Spotify, Rdio e Deezer, que disponibilizam milhões (sim, milhões) de músicas em suas plataformas para serem ouvidas via streaming. Estando conectado à internet, basta escolher uma canção entre as disponíveis e você poderá ouvi-la instantaneamente, além de poder fazer suas próprias playlists (ou simplesmente ouvir alguma sugerida pelos programas). É quase como o análogo musical do Netflix.
Mas o que diferencia os softwares de streaming dos demais players de música? Antes de tudo, a praticidade. Afinal, é muito mais cômodo ter o mundo musical à distância de um click, sem precisar baixar ou comprar cada música (embora também seja possível ouvir música sem baixar utilizando o Youtube, ou rádios online como a Kboing).
Além disso, ouvir uma canção via streaming é de graça. A exceção fica por conta do Rdio, cuja versão gratuita dura apenas 06 meses. Nos demais, o usuário só paga se quiser algum dos planos “Premium” oferecidos, que variam dependendo do software, mas no geral, permitem também ouvir músicas offline, baixar os áudios, aumentar o acervo disponível e eliminar anúncios.
O streaming também ganha pontos pela variedade: diante de um acervo musical tão vasto, e com milhares de playlists já prontas, as pessoas acabam conhecendo novos artistas e ouvindo coisas diferentes. A interatividade dos softwares de streaming permite ao usuário não apenas criar e editar playlists com facilidade, mas também se conectar com amigos e ver o que eles estão ouvindo. O Rdio, por exemplo, apresenta os sons populares entre seus amigos: abaixo de cada álbum, aparecem fotos dos contatos que o ouviram. Muitos programas também dão sugestões de acordo com o perfil de cada usuário: o Spotify, por exemplo, possui uma aba chamada “Descobrir”, que sugere músicas por meio de um algoritmo (isto é, músicas semelhantes aos gêneros que você costuma ouvir). Já o Stereomood tem um serviço peculiar, que indica músicas que acompanham seu humor do momento.
Por fim, vale lembrar que ouvir música por streaming é 100% legal. Os programas de streaming fazem um acordo com grandes gravadoras para poderem disponibilizar, legalmente, suas músicas. Artistas independentes também podem ter seu trabalho nestas plataformas, mas desde que busquem intermédio de algum distribuidor licenciado (já que não é possível fazer upload direto de áudios).
Porém, como tudo na vida, o streaming também tem suas controvérsias: a principal delas é a necessidade de internet 24h, o que é inviável em celulares com pequenos pacotes 3G ou em áreas onde o provedor de internet ainda é instável. Além disso, alguns especialistas argumentam que a qualidade em algumas músicas é inferior a dos arquivos em mp3, embora a diferença não seja algo perceptível ao ouvido menos treinado do usuário comum.
O fato é que, a cada dia, o streaming musical conquista uma fatia maior do mercado, embora seja ainda um serviço relativamente novo. O Spotify, líder mundial no segmento, foi lançado na Europa em 2008 (e no Brasil apenas em maio deste ano), e já possui mais de 40 milhões de usuários, divididos entre as versões desktop e mobile. Entretanto, no Brasil, o streaming ainda não caiu no gosto do povo: segundo pesquisa da Opinon Box (em parceria com a Mobile Time), cerca de metade dos brasileiros nem sequer conhece os serviços de música via streaming, e mesmo entre aqueles que conhecem, a maioria (53%) prefere ter as músicas armazenadas no celular ou computador. Tais números podem ser reflexo de dois fatores: a cultura do usuário brasileiro e a fragilidade de nossas conexões de internet, sobretudo nas redes móveis. Afinal, diante de pacotes 3G pequenos e bastante instáveis, é difícil depender totalmente de um serviço online para ouvir música. Portanto, o que se vê é que, em terras tupiniquins, o streaming ainda tem um grande caminho a percorrer antes de chegar à glória.
Por Carolina Oliveira
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