A convidada da VII Semana de Fotojornalismo ela se dedica ao fotojornalismo há 24 anos. Neste período, fotografou o massacre do Carandiru, campanhas presidenciais, o enterro do ex-governador de São Paulo Mário Covas, a Seleção Brasileira de futebol, o caso Nardoni e a vinda dos últimos dois Papas ao Brasil, incluindo a recente passagem de Francisco pelo solo brasileiro. Estes são apenas alguns dos vários fatos históricos que participou retratando em sua carreira. Trata-se de Eliária Andrade, repórter fotográfica que atualmente trabalha para o jornal O Globo, mas também possui passagem no Diário de São Paulo, inclusive quando o periódico ainda levava o nome de Diário Popular.
Jornalista formada pela Fundação Cásper Líbero e com pós graduação em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Eliária sempre gostou de fotografia e não teve muitas dúvidas sobre que área seguir dentro do jornalismo. “No decorrer do curso percebi que ser fotojornalista era o que eu mais queria, pois você pode aproveitar a experiência de nunca repetir a mesma situação. Até porque as cenas não se repetem”, afirma. Ter sempre novos desafios e presenciar, além de retratar, sempre novas cenas é uma das características valorosas do trabalho do repórter fotográfico para ela. “O interessante de ser fotojornalista é não cair na rotina. Todo dia é um novo assunto. Mesmo que o assunto se repita a foto terá um novo enfoque”, continua a jornalista.
Após ter registrado tantos acontecimentos marcantes da história brasileira e visto diversos assuntos entrarem em discussão e logo serem esquecidos para dar lugar a novos cenários, Eliária Andrade destaca, de forma até filosófica, como tudo é muito efêmero no mundo jornalismo: “A notícia se renova a cada momento. E o que ontem era intenso hoje se esvai.”
Poética e precisa não só nas palavras, mas também em sua forma de expressão mais conhecida, a fotografia, Eliária Andrade teve seu trabalho reconhecido ao ser indicada para a final do 9º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Repórter Fotográfica de Jornal ou Revista”, ao lado de outros grandes nomes do fotojornalismo brasileiro. “O fato de estar entre as cinco finalistas deixou-me lisonjeada, até envaidecida, mas todas concorrentes são ótimas fotógrafas”, agradece a repórter que terminou em terceiro lugar na votação do prêmio idealizado pela revista e Portal IMPRENSA e nomeou seus vencedores em fevereiro deste ano.
Um ponto importante comentado por Eliária foi exatamente sobre a desmistificação de possíveis barreiras entre o que pode ser denominado “fotografia artística” e “fotografia jornalística”. “Fotografia artística é uma foto na qual o fotógrafo consegue passar toda sua sensibilidade, mas isso não quer dizer que uma foto jornalística não possa ser artística”, pontua a jornalista, que vê esta mudança como uma evolução dos novos tempos: “Antigamente o fotojornalismo era apresentado apenas por um registro do fato. Hoje o fotojornalista deixou aflorar mais a sua sensibilidade e transformou em muitos casos a foto jornalística em artística”. Ela possui inclusive dois projetos fotográficos paralelos ao seu trabalho n’O Globo em andamento. São eles “As donas da bola”, projeto ligado ao futebol, e “Religião e Fé”.
Mulher de opinião forte, Eliária Andrade não se esquiva quando o assunto é o machismo. Para ela, a mulher ainda não tem as mesmas oportunidades que o homem no fotojornalismo. “Apesar de estarmos em 2013, século XXI, a mulher tem pouco espaço, pois ainda vivemos em uma sociedade machista, só que de maneira velada”, afirma a jornalista, que continua de forma categórica: “Tanto que a mulher tem que provar muito mais o seu valor do que os homens, mas não é uma coisa só do jornalismo, mas de toda a sociedade”.
Para terminar, Eliária comenta como ela vê a crise que o jornalismo vem passando e como isso atinge os repórteres fotográficos. “Os fotojornalistas estão sendo atingidos não especificamente pela crise financeira, mas também pela crise tecnológica. Hoje todos fotografam com celular ou compram uma câmera amadora que produz fotos com qualidade”, comenta a jornalista que continua sua análise de forma lúcida e contundente, como lhe é característico: “Como esta pessoa quer entrar no mercado, inúmeras vezes ela oferece sua força de trabalho bem barata ou até de graça. Com o passar do tempo quando ela percebe, seu custo foi tão irrisório que não pagou o equipamento utilizado e sua mão de obra. Na outra ponta temos os empresários que só querem ganhar. Então o mercado fica pobre”. Mas Eliária Andrade termina de forma esperançosa e acredita que o bom profissional consegue superar esta crise, afirmando que “nas manifestações, 80% das publicações foram fotos de profissionais. E tinha muito amador e celular na rua”.
por Murilo Carnelosso
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