Com o dever de finalizar a tão polêmica fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel, Pantera Negra 2: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, 2022) trás umA belíssima homenagem ao ator Chadwick Boseman, que faleceu em 2020 vítima de um câncer, e, ao mesmo tempo, nos apresenta a um novo universo com a cidade submarina de Talokan. Entre o luto, o recomeço e a guerra, Pantera Negra 2 mostra novamente porque não é apenas mais um filme de super herói.
Dentre todos os filmes que o estúdio lançou após Vingadores: Ultimato (Endgame, 2019), este sem dúvida era o mais difícil de ser feito. Como fazer um filme sem o seu protagonista? Como substituir esse herói tão importante? Chadwick Boseman foi a primeira pessoa negra a protagonizar um filme no UCM, ele incorporou a missão de ser um herói dentro e fora das telas, escolheu sofrer em silêncio e teve a morte digna de um guerreiro. O estúdio poderia ter colocado outro ator no lugar, esta não seria a primeira vez que uma substituição ocorreria dentro da Marvel, há casos em que o personagem é mais forte que o ator: Hulk foi interpretado por dois atores, Homem Aranha teve três versões diferentes em menos de 20 anos, mas esse não era o caso, pois Chadwick não era apenas um intérprete, ele era o Rei T’Challa. Para todas as crianças que foram ao cinema em 2018 ver o primeiro longa e para todos os adultos que cresceram sem referências, Pantera Negra não é apenas um filme da Marvel, é a projeção de um sonho nas telas.
O roteiro passou por mais de três versões até que o produto final fosse exibido no cinema. O primeiro escrito de Ryan Coogler e Joe Robert Cole foi feito ainda antes da morte de Chadwick. Além das mudanças na história, atrasos nas filmagens por conta da pandemia também prejudicaram o filme. As personagens precisam lidar simultaneamente com um reino em luto e uma ameaça externa desconhecida, e, apesar dos contratempos na produção, as 2 horas e 40 minutos acabam passando despercebidas devido ao volume de assuntos abordados.
O roteiro aproveita o fato de Wakanda ser uma nação recém descoberta pelo resto do mundo e detentora do minério mais poderoso da terra, vibranium, para explorar uma narrativa sobre colonialismo e imperialismo. Grandes nações estão a todo custo tentando encontrar o metal e enxergam a morte do Rei-defensor como um momento de fragilidade de Wakanda. Algo que o filme exprime muito bem é mostrar que o Rei T’Challa pode ter morrido, mas o legado e a essência do Pantera Negra permanecem.
O ponto alto do filme são as personagens femininas que dividem o protagonismo do filme: Rainha Ramona (Angela Bassett), Princesa Shuri (Letitia Wright), Okoye (Danai Guria) e Nakia (Lupita Nyong’o). Todas as atrizes atuam de forma excelente e é perceptível toda a dor que elas estão passando e o modo como T’Challa as inspiravam. O destaque maior está nas personagens da Rainha Ramonda e da Princesa Shuri. Angela Bassett é responsável por segurar a maior parte do arco dramático do filme, uma mulher dividida entre ser a rainha responsável por governar um país que está sob ataque constante e uma mãe em luto. Enquanto que Letitia Wright interpreta uma personagem que precisa se encontrar no seu papel de princesa, deixar de ser a irmã mais nova que fica trancada em seu laboratório e passar a ser uma líder.
O filme também introduz personagens novos, como Riri Williams (Dominique Thorne), uma jovem e brilhante cientistas que conseguiu criar uma máquina capaz de detectar vibranium e um velho conhecido dos leitores de quadrinhos, o príncipe Namor (Tenoch Huerta), que teve suas origens levemente ajustadas para integrar ao universo dos cinemas. Diferentemente das HQs em que Namor é um Atlantis, a cidade perdida grega, nos filmes, o personagem é introduzido como o rei de Talokan, uma cidade submersa que tem suas origens ligadas aos povos que habitavam o atual território do México, antes da colonização.
Talokan, assim como Wakanda, é uma civilização escondida, que resistiu à invasão europeia, e é justamente o fato de Wakanda ter se aberto ao restante do mundo e revelado a existência do vibranium, que gera o principal conflito do filme. São duas populações que viram seus semelhantes serem explorados, escravizados e devastados pela colonização e que naturalmente deveriam unir forças para lutar contra as novas investidas imperialistas dos Estados Unidos e das nações europeias. Entretanto, justamente esse medo da invasão e as formas distintas de querer solucionar o problema que provocam uma guerra entre os dois povos.
Toda a construção de universo de Talokan, a origem do Namor e as estruturas bases dessa civilização são bem apresentadas para o público. As imagens submersas em alguns momentos são um pouco escuras, mas nada que estrague a experiência.
Outro ponto que merece destaque é a caracterização das personagens, em especial os figurinos, que seguem espetaculares. Há um cuidado muito grande ao representar a cultura de Wakanda e de Talokan, são nos pequenos detalhes, como usar um batuque para abrir as barreiras que cercam a nação africana ou no uso de pedrarias típicas dos povos originários da mesoamérica, nas vestimentas do povo de Talokan que o filme consegue se afastar de um típico filme da Marvel. A fórmula está lá, as piadas não são frequentes, mas existem, as conexões com o resto do universo são feitas, mas Pantera Negra 2 tem uma “erva coração” dentro de si.
O filme não é perfeito, mas ele foi o que poderia ter sido dentro das circunstâncias. É impossível não se emocionar do começo ao final, aguardem até o final! O filme tem uma cena pós-créditos que faz até os mais durões chorarem. É um filme difícil de assistir, porque doí lembrar que a morte do Rei não é mera ficção, mas a trama faz questão de reafirmar que, para Wakanda, a morte é o fim da matéria e não do espírito. Os legados de Chadwick Boseman e do Rei T’Challa permanecem mais vivos do que nunca, neste momento ele deve estar junto aos ancestrais dizendo: Wakanda Para Sempre!
O filme está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer: