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46ª Mostra Internacional de SP | ‘Além de Nós’ é um filme bonito, mas que não emociona

O roteiro não explora a fundo as questões que tenta abordar, o filme entretém, mas não impressiona

Além de Nós (2022) acompanha a jornada de Leo (Miguel Coelho) e de seu tio Artur (Thiago Lacerda), que juntos partem em uma longa viagem até o Rio de Janeiro para realizar o último pedido do pai de Leo e, para isso, precisam superar algumas diferenças e conflitos familiares. Apesar da boa premissa e das belas paisagens que compõem o filme, o roteiro não consegue transmitir toda a dramaticidade que a história pede. 

O filme de Rogério Rodrigues iniciou sua produção em 2010 e após todas as dificuldades que envolvem trabalhar com audiovisual no Brasil, foi produzido em 2019 e chegou à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2022. 

Além de Nós inicia com a personagem de Leo tendo toda a sua vida desestruturada. Logo nas primeiras cenas, o rapaz que trabalha como peão de gado nos pampas gaúchos, perde o seu emprego. Ao contar a notícia para o seu pai, Leo recebe duras críticas e chega a ser comparado ao seu tio Artur, o qual é apresentado como um homem de vida boêmia, mulherengo e com uma certa dependência alcoólica. Neste momento, percebe-seque esta família enfrenta alguns conflitos, porém esses dilemas não são aprofundados pela trama, não é possível saber exatamenteos motivos domau relacionamento entre os irmãos e também não há uma construção da relação de Leo com seus pais, o que torna a cena da morte do pai quase irrelevante do ponto de vista da conexão emocional com a história. 

Essa introdução é bem rápida e rasa, porém é nela que todo o resto da trama se pauta. Após encontrar uma foto antiga do seu pai junto com o presidente Getúlio Vargas e uma carta em que o pai do rapaz relatava a vontade de conhecer o Palácio do Catete no Rio de Janeiro, Leo sentiu a necessidade de realizar o último pedido do pai. Ele nunca havia saído de Dos Passos, uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, e ainda assim é relutante com a ideia de ser acompanhado por seu tio na viagem. 

O trajeto é extremamente complicado, com muitos contratempos que em certo momento começam a ser previsíveis e repetitivos. O grande discurso por trás do filme é de que “a vida precisa ser uma viagem e não um destino”, mas de que também é necessário saber aonde se quer chegar, se não ficamos presos na mesma posição. Isto é refletido pelo desenvolvimento das personagens centrais: Leo passa a ser mais mente aberta, a enxergar outras possibilidades para a sua vida que vão além de ser peão em Dos Passos, enquanto  Artur percebe que não é possível ser um aventureiro para sempre e que atitudes irresponsáveis têm consequências negativas.

Visualmente, Além de Nós transmite muito bem esta mensagem com o figurino. As personagens iniciam a trama com vestimentas gaúchas bem características, além de utilizar o cavalo como meio de transporte principal. Ao longo da narrativa há uma mudança gradativa das roupas tradicionais por peças mais comuns no meio urbano e a troca do cavalo por uma moto. 

Além de Nós (2022) [imagem: reprodução/ Freddy Paz]

O roteiro não ousa muito, os diálogos e os acontecimentos são um reconto de tantos outros filmes de viagem. O luto dos protagonistas não é muito abordado, mesmo este sendo a força motriz do filme. As outras personagens com quem Leo e Artur trombam no meio da estrada não possuem grande relevância na história e estão lá, muitas vezes, para ajudá-los a prosseguir com a viagem. Além disso, Além de Nós utiliza de estruturas muito clichês e, em certo ponto, antiquadas para mostrar a evolução dos personagens, especialmente de Leo. Um exemplo disso é a insinuação de que ele teria tido sua iniciação sexual com uma mulher mais velha, reforçando a ideia de que a sua ingenuidade vem da falta de experiências amorosas.

O ponto forte do filme está na fotografia e na ambientação que são extremamente bonitas e colocam o espectador dentro da atmosfera dos pampas. No mais, é um filme sobre crescimento e amadurecimento, que entretém, mas não entrega nada muito além disso, falta emoção e carisma nas personagens, o que enfraquece os momentos dramáticos. No final, fica uma mensagem de esperança por dias melhores que irá dialogar bem com pessoas que estão passando por uma fase conturbada em suas vidas, assim como Leo, ou que estão buscando mudanças como Artur.

Esse filme faz parte da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. 

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