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Adoção: ato de amor que transforma vidas

Conheça melhor o processo e a história de famílias que viveram a experiência Por Caroline Dias Menezes (cdiasmenezes@gmail.com) e Marina Davis (marinadavis1810@gmail.com) “Sempre quis ser mãe, mas nunca pensei em gerar”. Se para muitas mulheres a gravidez é um sonho, para Neide Ferreira Cursio Ramos, mãe adotiva de Tainá, de 7 anos, o que importava …

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Conheça melhor o processo e a história de famílias que viveram a experiência

Por Caroline Dias Menezes (cdiasmenezes@gmail.com) e Marina Davis (marinadavis1810@gmail.com)

“Sempre quis ser mãe, mas nunca pensei em gerar”. Se para muitas mulheres a gravidez é um sonho, para Neide Ferreira Cursio Ramos, mãe adotiva de Tainá, de 7 anos, o que importava era exercer o papel materno. Seja por um desejo de infância, como Neide, ou por qualquer impossibilidade de gerar, muitas pessoas recorrem à adoção para realizar o sonho de ter um filho.

Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), em 2012 havia aproximadamente 27 mil pessoas interessadas em adotar no Brasil, sendo que pouco menos de cinco mil crianças esperavam por uma família. A fila é grande e pode levar um bom tempo entre a decisão de adotar e o momento em que se leva uma criança para casa.

Além da disputa – são mais de cinco interessados por criança disponível – e da burocracia, há outro fator determinante no tempo de espera: o perfil que os pais costumam exigir. É comum que, na entrada do processo, as pessoas que desejam adotar queiram crianças brancas, menores de quatro anos e sem nenhum tipo de problema de saúde.

Renê Jorge Ramos, marido de Neide, conta que quando se dirigiu à Vara da Infância e da Juventude da cidade de Guarulhos, onde vive o casal, procurou fazer o mínimo de exigências possível. “Eu queria uma menina que tivesse de 0 a 1 ano. Tirando isso, não importava cor, pequenas deficiências, nada”. Ele só diz ter pedido para que a criança não tivesse problemas mentais, pois não acreditava que ele e a esposa tivessem estrutura para viver esse tipo de experiência. “Hoje eu já não sei se diria o mesmo”, afirma. Por conta disso o processo durou um tempo bastante curto em relação à média: 6 meses.

Renê, Neide, Tainá e Danilo: adoção
Renê, Neide, Tainá e Danilo. Foto: Arquivo Pessoal

O casal não faz parte da maioria. Cerca de nove a cada dez interessados em adotar manifestam preferências por crianças brancas, sendo que, das disponíveis, mais da metade são pardas ou negras. Há também falta de interesse em adotar mais de uma criança, ainda que a legislação priorize a adoção de irmãos pela mesma família.

É importante ressaltar que as crianças que estão disponíveis para a adoção costumam vir de situações familiares complicadas, podendo ter sido fruto ou vítimas de estupro, ter sofrido maus-tratos ou possuir problemas de saúde com os quais os pais biológicos não quiseram ou souberam lidar. “O que muita gente não entende é que a criança não é um objeto que você compra e tem que vir perfeito”, lembra Neide.

O que fazer para adotar?

Antes de tudo, é importante saber que, para poder se candidatar à adoção, é necessário ter no mínimo 18 anos, e a diferença mínima dos pais para a criança deve ser de 16 anos. Com exceção desse requisito, qualquer um é apto a adotar, não importando se o futuro pai é solteiro, viúvo ou tem uma união estável. A lei não prevê a adoção por casais homoafetivos, mas juízes já decidiram favoravelmente nesses casos. Feitas tais observações, o primeiro passo é se dirigir à Vara da Infância e Juventude da região e se informar quanto aos documentos necessários para o início do petição, feita por um defensor público ou advogado particular. Após aceita, o nome do requerente é computado nos cadastros locais e nacionais de pretendentes à adoção.

Porém, isso não quer dizer que a pessoa ou casal já está na fila de adoção. Antes disso, ainda há a obrigatoriedade de um curso de preparação psicossocial e jurídica, seguido por entrevistas e visitas com o intuito de avaliar a situação socioeconômica e psicoemocional dos futuros pais. “Participamos de uma palestra com uma psicóloga do juizado que explicava todo o processo e frisava que a adoção era uma decisão sem volta, para a vida toda”, conta Karla Barreira, que se submeteu ao processo há oito anos, quando o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) nem ao menos havia sido criado. Mesmo com a diferença do processo em relação aos dias atuais, ela acredita na importância dessa preparação psicológica. “Foi uma espécie de teste da firmeza do propósito de cada casal e tenho certeza que muitos desistiram. Para nós, aumentou a certeza da decisão e seguimos todos os passos que nos eram exigidos até sermos considerados aptos”.

É possível, durante esse processo, que o pretendete descreva o perfil da criança desejada. Quanto mais exigências, é provável que maior seja o tempo de espera. Sendo aprovado pelo ministério público e juiz da Vara de Infância, o pretendente entrará na fila de adoção do seu estado e será avisado quando houver uma criança compatível.

Preparação

Uma gestação dura cerca de nove meses, e os pais tem uma noção bastante precisa do tempo que possuem para fazer os preparativos para receber o bebê. Quando se adota, no entanto, a situação é muito mais imprevisível. Tanto Karla quanto Neide contam que receberam a notícia de que o bebê estava pronto para ser levado na última. “Como nós escolhemos um intervalo relativamente grande de idade, a própria assistente social disse que era melhor não comprar roupinha nem nada porque a gente não tinha como saber o tamanho da criança – além disso o processo podia levar muito tempo”, conta Neide, “quando recebemos a notícia de que podíamos buscá-la, foi uma correria!”.

Neide lembra que logo na primeira noite, Tainá, então com quatro meses, chorava sem parar e ela não conseguia identificar o motivo. “Pensei em levá-la para o hospital, mas depois descobri que era só sede!”, conta rindo. A falta de prática que assusta muitos pais de primeira viagem também é algo a a ser superado pelos pais adotivos. “Como ela não tomava o leite materno, só a fórmula, ela sentia sede. Eu não tinha pensado nisso, demorei pra entender, foi despreparo.”

Karla também teve que lidar com o mesmo problema. Avisada repentinamente sobre a criança, o desespero foi grande. “Estava dirigindo, indo trabalhar, quando recebi a ligação da assistente social dizendo que Amanda estava lá com ela e que se não chegássemos até determinado horário, ela ligaria para o casal seguinte. Eu e o Francisco ficamos malucos, eu só chorava”, conta, dizendo que contou com um esforço conjunto de sua família para se organizar a tempo. “Movimentamos a família toda. No final do prazo estávamos lá, eu, Francisco, mais três pessoas da família, babando naquele serzinho que tinha apenas 2 dias de vida e que já trazia tanta alegria para os nossos corações”.

Passado o susto inicial, Francisco e Karla ainda sofreram com o despraparo gerado pela urgência da ligação. “Nos primeiros dias foi uma loucura. Eu não tinha passado pela gestação e por isso não tive tempo de me organizar para a chegada da Amanda. Mesmo assim, arrumamos o quartinho dela rapidamente e tudo foi se ajeitando. O mais importante era tê-la em nossos braços”, conta.

Karla, Amanda e Francisco: adoção
Karla, Amanda e Francisco. Foto: Arquivo pessoal

Quando contar?

Segundo a cartilha sobre adoção da Associação dos Magistrados Brasileiros, apesar de não haver um momento perfeito ou uma idade ideal para se contar à criança a respeito de sua origem, é imprescindível não esperar até que a criança pergunte. Quanto mais cedo, melhor, para que se estabeleça uma relação de confiança e que soe natural. As crianças são diferentes e, por isso, cada pai deve encontrar o seu modo de narrar a história sobre a origem de seu filho. É interessante ir contando conforme a capacidade de compreensão da criança, para que não seja um choque muito grande.

Renê e Neide optaram por dizer para Tainá que ela era “filha do coração”, para que o assunto fosse o mais natural possível. A menina hoje é bem familiarizada com o assunto e fala naturalmente sobre isso. A cartilha do ministério público explica, no entanto, que essa expressão deve ser usada com cautela. É importante que a criança tenha consciência de que embora seja “filha do coração” dos seus pais, por conta do amor que eles tem por ela, foi gerada na barriga de outra pessoa. Quando a criança faz perguntas sobre sua origem, é importante que, se ela estiver em idade oportuna, os pais expliquem isso no âmbito da sexualidade humana e não se aproveitem da adoção para se esquivar do assunto.

“Amanda sabe, desde os três anos de idade, que não nasceu da minha barriga. Não gosta de falar muito sobre este assunto e a gente respeita. Sabemos que ela sente a dimensão do amor que temos por ela e que isso é o que realmente importa”, diz Karla, que afirma saber que há a possibilidade de, no futuro, a filha querer conhecer seus pais biológicos e até mesmo possíveis irmãos. “Se for seu desejo, vamos ajudá-la a reconstruir esse pedaço de sua vida, afinal, todos temos o direito de conhecer nossa história”.

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