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Observatório | O Legado de um Rei: a vida e a obra de Chadwick Boseman

No último dia 28 de agosto, o mundo foi pego de surpresa com a notícia da morte do ator Chadwick Boseman, 43 anos, após quatro anos lutando contra um câncer de cólon. Devido à sua natureza reservada, Boseman manteve a doença em segredo e nunca deixou que ela  impedisse seus projetos. Quatro meses após o …

Observatório | O Legado de um Rei: a vida e a obra de Chadwick Boseman Leia mais »

No último dia 28 de agosto, o mundo foi pego de surpresa com a notícia da morte do ator Chadwick Boseman, 43 anos, após quatro anos lutando contra um câncer de cólon. Devido à sua natureza reservada, Boseman manteve a doença em segredo e nunca deixou que ela  impedisse seus projetos. Quatro meses após o diagnóstico, o ator estrelou o filme que o tornou ícone de empoderamento e representatividade negra, interpretando o Rei T’Challa no filme Pantera Negra (Black Panther, 2018).

Chadwick Boseman reinventou o papel do negro no cinema, de sidekick a protagonista, deixando um legado que inspira muitos a não aceitarem que suas histórias sejam ignorados por conta da sua cor de pele. Para entender o peso do seu legado, é preciso compreender a construção dele em vida.

 

Carreira

Nascido na cidade de Anderson, no interior da Carolina do Sul, Chadwick Boseman era filho de uma enfermeira com um operário de uma fábrica têxtil e o caçula de três irmãos. Ele fez faculdade na Universidade Howard, fundada em 1867, com o intuito de educar em nível superior a população negra dos Estados Unidos, almejando tornar-se diretor e roteirista.

Durante sua estadia, matriculou-se em algumas aulas de atuação para melhorar sua visão de diretor, e nelas, seu talento para as artes cênicas mostrou qual era sua real vocação. Phylicia Rashād, atriz e professora de Boseman, passou a ser sua mentora.Algum tempo depois de concluir sua graduação, Chadwick descobriu que quem custeou seus parte de seus estudos foi o ator Denzel Washington, famoso por seus diversos papéis no cinema e amigo de Phylicia.

Após concluir os estudos, mudou-se para Nova Iorque. Nessa época, seu tempo era dividido entre escrever e dirigir versões reinventadas de clássicos do teatro fortemente influenciado pelo cenário do hip-hop e dar aula de atuação para crianças no Harlem.

Em 2003, conseguiu seu primeiro papel na televisão, uma ponta em um dos episódios da série “Parceiros da Vida”. De 2008 à 2013, Chadwick viu as oportunidades crescerem, indo de papéis de uma linha em séries a personagens regulares em séries e secundários em filmes independentes. Em 2013, teve sua chance de protagonizar sua primeira obra.

O filme em questão era 42 – A História de uma Lenda (42, 2013), uma cinebiografia de Jackie Robinson, o primeiro homem negro a jogar na principal liga de beisebol dos Estados Unidos. O longa foi bastante elogiado, sempre destacando o talento do jovem ator que conseguiu capturar o lado humano e sua luta que se tornou um marco na história do esporte e do país.

Chadwick realizou o primeiro lançamento cerimonial no estádio dos Los Angeles Dodgers, logo após estrelar em 42. [Imagem: Reprodução/Twitter-Los Angeles Dodgers]
Seu próximo grande papel foi em Get on Up – A História de James Brown (Get on Up, 2014), que retrata momentos da vida do cantor e lenda do soul e funk music, James Brown. Ele quase não aceitou esse papel devido à preocupação de Chadwick em interpretar uma lenda. A insistência do diretor foi o que ajudou Boseman a superar suas preocupações, que não cogitou outro ator se não ele para viver Brown.

 

O Rei T’Challa

Até 2016, Chadwick havia emplacado diversas atuações brilhantes, no entanto, nenhuma em um blockbuster. Isso mudou quando a Marvel o escolheu para interpretar um de seus personagens, o rei de uma nação escondida no coração da África: T’Challa, o Pantera Negra, em Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016).

Para Chadwick, uma das coisas mais importantes desse personagem foi a caracterização, da voz ao modo de se portar. Em  entrevista, ele deixou claro que o sotaque do personagem era algo muito importante, pois demonstrava sua origem.

Esse pequeno detalhe, nunca levado em conta nas páginas dos quadrinhos, reforça o quanto o ator era preocupado em evitar estereótipos e empobrecimento cultural dos personagens que interpretava. Hoje, é visto que ele estava certo.

O elenco de Pantera Negra no SAG Awards [Imagem: Reprodução/TNT]
O filme solo do herói é um marco em todos os sentidos, sendo o primeiro grande blockbuster com um elenco majoritariamente negro, e colocando Wakanda, país síntese do afrofuturismo, como uma das nações mais desenvolvidas do mundo. “O que [o filme] mostrou é que histórias podem explorar uma África que não é só miséria, não é só tristeza, violência”, conta Caio Gomes, criador do canal Físico Turista. “Wakanda é a nação mais desenvolvida, e sem nenhuma ajuda, sem nenhuma ação do homem branco eles foram capazes de formar um país ultra desenvolvido e a gente quer ver ele, torce por ele, fica feliz por ele”, completa.

O último filme do ator lançado em vida foi Destacamento Blood (Da 5 Bloods, 2020), do diretor Spike Lee, lendário por seus filmes que falam sobre o racismo sofrido pelos afro-americanos. O longa acompanha a história de um esquadrão negro durante a Guerra do Vietnã em busca do corpo do seu líder, também uma espécie de mentor espiritual, interpretado por Chadwick Boseman.

 

Homenagens e legado

Lee foi um dos primeiros a prestar suas homenagens ao ator. Em seu Instagram, o diretor postou uma cena excluída do filme, na qual Boseman canta a música “God is Love”, de Marvin Gaye, acompanhada da legenda “Deus é amor. Amor é Chadwick”.

Viola Davis, atriz que trabalhou com o ator em Get On Up e Ma Rainey’s Black Bottom — o último filme de Chadwick, que será lançado na Netflix — publicou uma mensagem no Twitter. “Chadwick… estou sem palavras para expressar minha devastação por ter te perdido. Seu talento, seu espírito, seu coração, sua autenticidade… foi uma honra poder ter trabalhado ao seu lado, ter te conhecido…  Descanse bem, Príncipe”, escreveu.

Os Estúdios Marvel publicaram um tributo contendo diversas cenas e depoimentos de atores, diretores e produtores que trabalharam com Chadwick. Entre eles, Nate Moore, produtor executivo do universo cinematográfico da Marvel, falou sobre o processo de seleção de Chadwick para o papel do Pantera Negra. “Foi a performance de Chadwick em ‘42’ que nos fez realmente prestar mais atenção. Existe uma honra e dignidade no jeito que ele interpretou Jackie Robinson que nós sabíamos que precisávamos para o personagem de T’Challa, o príncipe de Wakanda”, contou.

Michael B. Jordan, que deu vida ao antagonista de Pantera Negra, escreveu um texto para Boseman lembrando de suas últimas conversas. “Uma das últimas vezes que conversamos você disse que nós estaríamos para sempre ligados um ao outro, e agora a verdade disso importa mais do que nunca”, disse. “Eu dedico o resto dos meus dias a viver do jeito que você viveu. Com graça, coragem, e sem arrependimentos. ‘Esse é o seu rei?!’ Sim. Ele. É! Descanse no Poder, Irmão”.

Ryan Coogler, diretor de Pantera Negra escreveu uma carta contando como o ator costumava dizer que “eles não estão prontos para isso que estamos fazendo…  Isso é Star Wars, isso é Senhor dos Anéis, mas para nós… e é maior!”. “Eu tive o privilégio de dirigir cenas nas quais o personagem de Chad, T’Challa, comunicava-se com seus ancestrais de Wakanda”, continua Coogler. “A performance dele tornava aquilo real. Eu acho que foi porque, desde quando o conheci, os ancestrais falavam através dele (…) é com o coração pesado e uma sensação de gratidão profunda por ter estado com sua presença que eu preciso aceitar o fato de que Chad é um ancestral agora”.

Ryan Coogler e Chadwick Boseman no set de Pantera Negra [Imagem: Divulgação/Disney-Marvel]
Uma das criadoras da PerifaCon e colunista no Uol, Andreza Delgado, conta que sentiu muito a morte do ator e que ele teve uma importância muito grande para a comunidade negra. “Ele abriu um universo de possibilidades dentro da representatividade”, diz. “Quando você cresce se vendo o tempo todo e sendo representado é óbvio que isso não vai ser uma grande questão para você. Mas se você não se vê, você não ‘existe’”.

Em vida, Chadwick Boseman interpretou uma série de ícones: o primeiro homem negro a jogar beisebol profissionalmente nos Estados Unidos; o primeiro juiz negro da Suprema Corte americana; a maior lenda do Soul e do Funk; e o mais notório super-herói negro já criado. Mas ele foi além, transcendeu todos esses papéis: tornou-se o próprio ícone.

*Capa: [Imagem: Gareth Cattermole/IMDB]

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