Por Isabel Sampaio (isabel.sampaio@usp.br)
Novo ranking desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem) e pelo Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB) aponta que a presença de mulheres em cargos de poder na Câmara dos Deputados permanece restrita.
Conduzido por Maiane Bittencourt (UFPR), Júlio Canello (IESP-UERJ) e Mayara Martins (UFPR), a pesquisa “O Índice de Influência Parlamentar (IFI): quem tem potencial na Câmara dos Deputados?” foi divulgada na última quinta-feira (14). Em entrevista ao Laboratório, Maiane Bittencourt afirmou que o principal objetivo do estudo foi identificar quais parlamentares detêm potencial de influência nas decisões legislativas.
A Mesa Diretora — responsável pela organização legislativa e administração da Câmara dos Deputados — tem seus membros alterados a cada dois anos, e a análise do IFI foca no atual biênio da 57ª Legislatura (2025-2026). A eleição para definir seus integrantes é feita de forma interna, onde são disputados os cargos de presidente, 1º. vice-presidente, 2º. vice-presidente, 1º. secretário, 2º. secretário, 3º. secretário e 4º. secretário.
Segundo os dados levantados, entre os 100 parlamentares mais influentes do atual biênio, apenas 12 são mulheres. Para Maiane, o quantitativo feminino que compõe a bancada da Casa afeta o resultado. “Ao dividir os 513 deputados em dois grupos, vemos que tem quase 420 homens frente a 91 mulheres. Quando você coloca esses dois grupos para concorrer, um é quatro vezes maior que o outro”, explica. Entre os classificados no Top 10, 8 são homens.


Apesar do número absoluto de deputadas ser significativo — esta é a maior bancada feminina da história do país —, a ocupação em porcentagem segue pequena. Segundo dados da União Interparlamentar (UIP) e da ONU Mulheres, o Brasil possui a menor representatividade feminina no Legislativo da América Latina e ocupa a 133ª colocação no ranking global de representação parlamentar de mulheres.
Maiane aponta que as estratégias partidárias também são responsáveis por influenciar a representação dentro da Câmara. Segundo a pesquisadora, estudos revelam que quando mulheres entram na legislação, é comum que sejam designadas a pautas de cuidado, enquanto homens ocupam-se das pautas de estratégias e orçamento: “Pode ter esse preconceito lá dentro, pois mesmo quando elas vão para o parlamento, elas podem ser tratadas como ‘café com leite’”, descreve.
Como o IFI funciona
Para realizar o ranking, os pesquisadores utilizaram três critérios principais: concentração de poder (cargos que permitem ao parlamentar ter influência nas decisões), liderança unitária (funções que só podem ser ocupadas por uma pessoa por vez) e duração (cargos não temporários). A partir da atribuição de notas aos cargos — incluindo as ocupações desde 1999 —, são feitos cálculos que utilizam pesos previamente definidos para produzir uma média que varia de 0 a 10.

[Imagem: Reprodução do artigo]
As principais fontes usadas pelos pesquisadores foram os Dados Abertos da Câmara dos Deputados e o Acervo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), além de consultas diretas ao Portal da Câmara.
De acordo com Maiane, a base de dados da pesquisa levantou um conjunto de seis grupos de informações que podem ser divididos em três eixos: “As identificações dos parlamentares, tanto pessoais como data de nascimento, quanto dados sociodemográficos, como raça, sexo, escolaridade, quanto o histórico que essa pessoa teve na câmara e sua atuação legislativa atual”, descreve.
Para a pesquisadora, o IFI é um ranking capaz de ajudar a sociedade civil a fazer mais pressão sobre a esfera política. “Sabemos que existem muitas ferramentas [de pressão], mas elas estão mais alocadas nas relações governamentais privadas, em foco do setor da sociedade civil produtiva”, ressalta. Maiane explica que o terceiro setor sofre com a ausência de instrumentos de fiscalização e análise de equidade. O principal intuito do trabalho foi quebrar essa barreira. “No desenvolvimento, vimos que o IFI também pode ser uma fotografia da desigualdade”, conclui.
*Imagem de capa: Reprodução/Pablo Valadares/Agência Câmara de Notícias
