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Câmara durante governo Bolsonaro agravou crise climática, aponta estudo

Pesquisa divulgada pelo INCT-ReDem analisou como os deputados contribuíram para a emissão de gases poluentes entre 2019 e 2022.
Por Marcella Zwicker (marcellazwicker@usp.br)

Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem) conduziu, em abril de 2025, uma pesquisa acerca das emissões carbônicas provenientes da Câmara. Nela, foram analisados os projetos dos deputados da 56ª legislatura, durante o governo Bolsonaro, a fim de calcular quanto CO2 cada proposta pode gerar.  

A pesquisa, conduzida pelo pós-doutorando Mateus Albuquerque, foi realizada em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). O estudo informa que o Congresso é mais emissor do que mitigador e apresenta os políticos de direita como maiores contribuidores nesse cenário poluente. De todos os setores, os projetos voltados para o agronegócio apresentaram maior propensão à emissão.

A metodologia adotada foi a criação de um índice, o CO2-Index. Para construí-lo, os pesquisadores avaliaram 617 votações nominais, 370 proposições legislativas e 2.453 projetos de lei. A cada um desses fatores foi atribuído o peso correspondente às emissões de CO2 no ano em que ocorreram. 

Assim, os pesquisadores categorizaram as ações em relação ao meio ambiente: quanto mais positiva a média de um deputado nos pontos do índice, mais emissora ela é. Já para a classificação ideológica, se o político é de direita ou de esquerda, o índice considera os partidos aos quais os deputados estão filiados. 

“Se o sujeito fez um discurso favorável a um projeto de lei emissor, ou seja, que aumenta a emissão de gases e está associado ao setor da agropecuária, ele pontuou o equivalente ao que setor de agropecuária emitiu de gases no ano em que ele fez o discurso. A gente faz isso para votos, discursos e projetos propostos.” afirma Mateus Albuquerque em entrevista ao Laboratório.

Com esses dados, é possível extrair as seguintes hipóteses: a Câmara é mais emissora do que mitigadora; partidos de esquerda apresentam melhores pontuações; e o agronegócio é a temática predominante nos projetos que são mais emissores. 

Para elaborar a última tese, os pesquisadores consideraram qual setor estava mais relacionado às votações nominais avaliadas; identificaram quais temas eram mais recorrentes nos projetos propostos e, por fim, realizaram um teste chamado regressão linear multivariada, que analisa se a participação em determinadas frentes parlamentares impacta na emissão de carbono.

A mediana dos valores no CO2-Index foi de aproximadamente 0,75%. [Imagem: Mateus Albuquerque/ Acervo Pessoal]
gráfico das emissões
O segundo partido menos emissor é o PSOL, com 10 deputados, e o partido mais emissor é o Novo, com 8. [Imagem: Mateus Albuquerque/ Acervo Pessoal]

Esse cenário pode ser explicado pelo crescimento da ideologia anti-ambiental dentro da direita, segundo o artigo. Tal movimento, antinatureza, surge associado aos interesses essencialmente econômicos dessa corrente ideológica, principalmente no contexto brasileiro, no qual o agronegócio é o setor mais forte economicamente. Além dele, o setor da mineração soma uma grande quantidade de emissões.

Segundo o pesquisador Albuquerque, a direita tem afinidade com esses projetos, que são mais emissores, devido à proximidade material desses deputados liberais com suas pautas, já que muitos são proprietários de terras ou empresas. Além disso, ele acrescenta que há um certo fascínio pela degradação ambiental e pela defesa das economias, como traços característicos desses políticos aliados ao extremismo.

 “O parlamento tem um contato muito mais próximo com os setores que poluem do que com os setores que enfrentam a poluição; isso é, sobretudo, um problema democrático.” O pesquisador afirma que esse viés dos políticos limita as ações da população, que é a que mais sofre as consequências.

 O estudo foi pensado com o objetivo de analisar o impacto desses comportamentos emissores nas ações da sociedade. “Nossa preocupação principal é a questão da representatividade, ou seja, dos desafios da representação parlamentar em relação à população e como isso culmina na atual crise democrática em que vivemos”, conta Matheus.

 “Politização. É importante que se comece a disputar na sociedade, para que as pessoas consigam associar a crise climática à política.  É necessário enxergar a tragédia como parte da ação humana.”
Matheus Albuquerque

*Imagem de capa: Freepik

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