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Ensaio | A colorimetria da Saga Crepúsculo: como as cores inserem os telespectadores no universo

Diferentes cores utilizadas na trama são responsáveis por criar um ambiente favorável para cada cena
Por Isabela Slussarek (isabelaslussarek@usp.br)

A Saga Crepúsculo é uma série de cinco filmes ligados à fantasia e ao romance entre vampiros, baseado nos livros de Stephenie Meyer. Estrelado por Kristen Stewart, como Isabella Swan, e Robert Pattinson, Edward Cullen, o primeiro filme — Crepúsculo (Twilight, 2008) — recebeu duras críticas dos especialistas de cinema, em especial pelos seus efeitos especiais e uma trama considerada “rasa”.

Apesar dos comentários, os diretores conseguiram usar as diferentes cores a favor da narrativa e as transformaram em aliados na construção das diferentes histórias e percepções que cada filme busca contar. 

As cores possuem significados — que podem mudar conforme a cultura e a região — e são capazes de influenciar nossas atitudes e percepções. No cinema, os especialistas unem as cores com a luz em busca de transmitir realismo em cena, construir climas e atmosferas, e passar mensagens críticas e psicológicas.

Crepúsculo e seus tons de azul

O primeiro filme, dirigido por Catherine Hardwicke, optou por utilizar o azul e o cinza como as principais cores em cena. A história se passa em Forks, cidade fictícia, de atmosfera “sombria” e cinzenta. As cores utilizadas buscam combinar com a estética da cidade e, ao focar no romance entre Bella e Edward, a trama utiliza aspectos visuais que dialogam com a palidez e frieza do universo dos vampiros. 

Durante o filme, poucos elementos são utilizados como contraste ao cinza e ao azul. O carro de Bella — uma picape laranja — é um dos poucos elementos de maior predominância de cor. Nas cenas em que está presente, o automóvel ocupa grande parte da tela e chama atenção pela sua cor inusitada, como se fosse um coadjuvante da personagem principal. Além de contrastar com o cinza e os tons azulados, o laranja combina com o cabelo castanho de Bella e suas roupas em marrom.

A diretora optou por repetir os objetos de contrato ao longo das cenas, com o objetivo de manter o foco sempre nos personagens principais [Imagem: Reprodução/YouTube/Jefferson de Abreu Araújo]

Nas cenas ao ar livre, diferentes cores predominam e mudam o foco do cenário. O verde musgo presente nas árvores e nas pedras, os diferentes tons de cinza das roupas e das peles de Edward e Bella, e o céu nublado foram aspectos responsáveis pela atmosfera melancólica das cenas. 

Entre as três cores, o verde é o que mais se destaca em relação ao azul. O cinza se mistura e, com o filtro azulado, torna-se menos predominante.. As roupas e o tom de pele dos personagens, principalmente de Edward, torna-se cada vez mais clara e brilhante na luz do sol. Quando a câmera se aproxima, os lábios de Bella e Edward demonstram um tom de roxo que também contrasta com as peles.

As mudanças em Lua Nova

Em Lua Nova (New Moon, 2009), a direção passou a ser de Chris Weitz, o que mudou a estética do filme em relação ao primeiro da saga. No segundo filme, o filtro utilizado é em tons de amarelo e laranja, o que representa uma mudança no foco da história principal. Ao invés da narrativa focar na relação entre Bella e Edward, o personagem Jacob Black (Taylor Lautner) torna-se o personagem principal da história de romance. 

Jacob faz parte do mundo dos lobisomens, ou seja, o oposto do universo do vampiro Edward. Os lobisomens apresentam maior temperatura corporal e cores mais escuras, o que explica o uso dos filtros alaranjados como forma de inserir o público na história e na vivência dessas criaturas místicas. Nas cenas de interação entre Bella e Jacob, cores como marrom, amarelo, laranja e vermelho dominam parte da tela.

O carro de Bella — presente no primeiro filme — aparece na cena e é perceptível a diferença entre os filtros e o contraste deles com o veículo [Imagem: Reprodução/YouTube/Juliana Luiz]

Apesar da história se passar na mesma cidade, a impressão é de que ela ganha mais vida e características que deixam de lado a presença de Edward. Nos últimos três filmes da Saga — Eclipse (Eclipse, 2010), Amanhecer – Parte 1 (Breaking Dawn – Part 1, 2011) e Amanhecer – Parte 2 (Breaking Dawn – Part 2, 2012) — ainda seguem a estética dos outros filmes, ao alternar cenas com filtros amarelos e sem filtros.

O uso das cores nos olhos dos vampiros

Na saga, as cores não são apenas utilizadas como filtros nas cenas. As cores dos olhos dos vampiros também são fatores importantes e que ajudam a contar a narrativa de cada filme. O preto, dourado e vermelho são utilizados em diferentes personagens. Na lenda dos vampiros, esses seres místicos mudam as cores de seus olhos conforme a alimentação. 

Na primeira vez que Bella e Edward se encontram, os olhos dele estão pretos, o que, segundo a mitologia, significa que está com fome e precisa se alimentar. Quanto mais tempo um vampiro passa sem comer, seus olhos ficam cada vez mais escuros e eles ficam cada vez mais perigosos. Como a família de Edward se alimenta de sangue de animais, seus olhos ficam com uma íris dourada. 

O grupo dos vampiros rivais da família Cullen, os Volturi, tem como dieta o sangue de humanos e, por isso, seus olhos são avermelhados. Dentro da saga, a diferença dessas cores é fundamental para o telespectador diferenciar os vampiros de cada grupo, entre os “malvados” e os “bonzinhos”, juntamente às cores de seus olhos, representadas, respectivamente por vermelho e dourado.

Quando Bella é transformada em vampiro por Edward em Amanhecer – Parte 2, ela acorda com os olhos avermelhados. Tal fator acontece pois o “natural” dos vampiros é se alimentar de sangue humano. A partir do momento em que Bella começa a seguir a alimentação da família Cullen, seus olhos também se tornam dourados.

A colorimetria da Saga Crepúsculo revela como escolhas estéticas podem se tornar ferramentas narrativas fundamentais. Ao trabalhar com paletas específicas — especialmente os tons azulados e acinzentados do primeiro filme — a produção não apenas ambienta o espectador no clima melancólico e misterioso de Forks, mas também reforça visualmente a dinâmica entre seus personagens e o universo dos vampiros. Mesmo diante das críticas à trama e aos efeitos especiais, a saga demonstra como a direção de arte e o uso estratégico das cores desempenham papel decisivo na construção de atmosferas, sensações e significados.

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