Quando você se interessa muito por alguma paisagem, provavelmente sua primeira reação é logo tirar o celular do bolso, ligar a câmera e fotografar aquele espaço. Tirar fotos, hoje em dia, tornou-se bem mais simples do que era antigamente e, caso a foto saia tremida ou desfocada, um simples toque no ícone apagar resolve o problema e você já está pronto para tirar milhares de outras fotos.
Mas, um coletivo em São Paulo resolveu, dez anos atrás, mostrar para as pessoas que a fotografia era algo muito maior que um mero registro de ambientes e experiências, e que através dela a visão de mundo de uma comunidade inteira poderia ser ampliada e elevada a um nível de engajamento social impressionante. Esse coletivo é o Mundo em Foco, e é sobre o projeto principal deles, que vamos falar aqui.
Um Click surpreendente
O “Click na Lata e Cia” é um projeto iniciado em 2004, pelo cineasta Rodrigo Sousa e Sousa. Rodrigo, que também é um dos sócio-fundadores do coletivo Mundo em Foco, começou a desenvolver o projeto após ter aulas na Organização Image Magica, onde foi incentivado a produzir novas iniciativas que multiplicassem o conhecimento por ele adquirido.
Pensando então em aumentar a percepção que as pessoas tinham sobre o mundo ao seu redor, Rodrigo resolveu levar a fotografia “pinhole” às comunidades de São Paulo. Esse estilo de fotografia consiste em obter fotos a partir das chamadas “câmeras escuras”, ou seja, em outras palavras, com o uso de uma simples lata, as pessoas das comunidades visitadas pelo Click na Lata poderiam fotografar a vida pulsante dos locais onde moravam e ponderar sobre ela.
“Vivemos em uma era muito multimídia e a oficina brinca com isso”, disse Rodrigo enquanto explicava que, durante o projeto, as pessoas ficam curiosas para ver suas fotografias reveladas, mas têm de esperar todo o processo de revelação acontecer. “Acho que o momento mais mágico do projeto é aquele quando as crianças veem suas fotos reveladas”, conta o cineasta.
A ideia do Click na Lata é, segundo Rodrigo, fazer com que quem participa das oficinas passe a “olhar com outros olhos” para a realidade em que está inserido. “Uma criança, por exemplo, tira a foto, mas não a vê. Ela precisa imergir no processo como um todo, refletir sobre isso”. Para ele, essa reflexão social começa nos momentos em que as pessoas escolhem o que será fotografado e continua durante a revelação das fotografias. Os monitores das oficinas do projeto procuram instigar os alunos a descobrir esse novo olhar com questionamentos e, além disso, apoiam os conceitos de fotografia nos componentes curriculares das escolas, citando questões de Química, História e Geografia, por exemplo, para reforçar a conversa sobre Arte que comanda o projeto.
A iniciativa já percorreu diversas comunidades, chegando inclusive a cruzar as fronteiras da cidade de São Paulo em direção a outros estados como o Rio de Janeiro e Alagoas. O engajamento social produzido pelo projeto gerou também frutos financeiros ao coletivo Mundo em Foco, rendendo a este quatro premiações em dinheiro. As premiações, assim como algumas oficinas pagas realizadas pelo coletivo, ajudaram a custear o Click na Lata nas comunidades durante esses dez anos. Rodrigo Sousa e Sousa garante que as premissas sociais não são abaladas pela existência de oficinas pagas: “Com a grana que ganhamos nas oficinas pagas pelo Sesc ou por algumas escolas particulares, nós conseguimos investir no projeto e bancar as oficinas para os mais necessitados”.
“O projeto já evoluiu bastante. Hoje, temos algumas oficinas modulares e damos aulas desde fotografia pinhole até fotografia digital, passando até mesmo por câmeras descartáveis”, explicou Rodrigo. Com dez anos de atividades, o Click na Lata já alcançou mais de 1500 pessoas, principalmente crianças e jovens, estimulando a arte e as discussões sociais em vários locais.
Ficou interessado pelo projeto e quer chamar o Mundo em Foco para realizar oficinas na sua região? Entre na página do Mundo em Foco no Facebook ou mande uma mensagem para contato@mundoemfoco.org . Quem sabe o seu bairro não é o próximo a refletir sobre um mundo melhor através da fotografia artesanal? A Sala 33 apoia 🙂
Por Jessica Bernardo
jessicabmarcelino@gmail.com