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A coluna de estreia de uma ombudswoman

Quando fui convidada para ser ombudsman (sei que o termo é masculino, mas me dou a liberdade de optar por uma representação feminina) da Jornalismo Júnior fiquei feliz pela confiança a mim depositada, mas também apreensiva, afinal, como olhar criticamente para a produção jornalística da Jota e contribuir para a formação dessa galerinha?! Cabe aqui …

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Quando fui convidada para ser ombudsman (sei que o termo é masculino, mas me dou a liberdade de optar por uma representação feminina) da Jornalismo Júnior fiquei feliz pela confiança a mim depositada, mas também apreensiva, afinal, como olhar criticamente para a produção jornalística da Jota e contribuir para a formação dessa galerinha?!

Cabe aqui o papel da professora? Da jornalista mais experiente? Da amiga mais velha? Da leitora atenta? Bem, uma mistura de tudo isso permeada por honestidade, puxão de orelha, conselhos, mas também de carinho.

Ao receber a lista das 5 matérias mais acessadas para produzir esta coluna me chama a atenção, em primeiro lugar, a escolha dos temas. Temos três textos que olham para a atualidade, a chamada notícia quente: 40 anos de Zlatan Ibrahimović; “A Menina que Matou os Pais”: quando o filme não acompanha a complexidade do caso; Você suportaria ficar sem trabalho? E outros dois que procuram “sair da caixinha” em suas respectivas editorias (Ciências e Cultura) ao trazer temas pouco abordados: Ciência no automobilismo: a engenharia dos veículos de Fórmula SAE; Dentro de uma xícara de chá cabem história e cultura.

Jornalismo não é correr atrás apenas da hard news, dos acontecimentos do momento, é também apresentar para o público novos olhares, experiências. Talvez isso já justifique o número de cliques que cada um dos textos teve para colocá-los na lista dos top 5.

Mas como cada texto tem suas particularidades (tema, linguagem, escrita) e já que, o jornalismo é feito por pessoas e pessoas tem acertos e erros, gostaria de comentar a experiência de leitura que tive com cada um.

Meus parâmetros foram: o trabalho de apuração, a adequação ao gênero/formato jornalístico e a escrita.

Em Arquibancada, os repórteres Pedro Fagundes e Leonardo Vieira, com o texto 40 anos de Zlatan Ibrahimović, demonstram conhecer do riscado, ou seja, domínio sobre a vida do atleta. Trata-se de um texto apaixonado e, talvez por isso, algumas coisas tenham escapado. Li como um perfil, mas vejo que para tal formato, a escrita ainda ficou um tanto “amarrada”, descritiva demais. Sei, são muitos detalhes… mas fica a dica de procurar brincar mais com a linguagem. Lançar mão de um estilo mais literário, ou mais informal, que mexa com a imaginação do leitor. Esse seria o diferencial da Jota: tratar a pauta esportiva de uma maneira diferente da maioria dos veículos ditos tradicionais.

Uma outra observação é a apresentação das duas fontes. Elas são institucionais, digo, no sentido de que representam contas do twitter. Ok, o problema não são as fontes, mas o fato é que existe um humano ali atrás. O público gosta de saber quem são as pessoas por trás das histórias. Algo do tipo “o fulano, um dos criadores” ou “cicrano”, um fã apaixonado que criou a página”…isso traz personalização e consequentemente mais empatia com o leitor.

No quesito resenha crítica, vejo que Fernanda Real, em Cinéfilos, com “A Menina que Matou os Pais”: quando o filme não acompanha a complexidade do caso, se apropria do que esse tipo de formato permite. Ela descreve a obra e faz as críticas de acordo com o seu olhar de “resenhista” e parece bem incomodada com a falta de profundidade em determinados aspectos do filme (análise psicológica, visão crítica, possibilidade de retratar inverdades). O caminho é esse, pois uma resenha – apesar de trazer a informação como base – é opinativa. E é aí que mora o perigo porque pode agradar quem concorda com o autor e desagradar quem discorda. Por isso, as críticas precisam ser bem costuradas e lastreadas em dados e referências. A sugestão, muitas vezes, é mostrar ao público outros caminhos para conhecer melhor a obra (documentários, livros, entrevistas, entre outros) e até mesmo para o criador da obra em si.

Um bom momento do texto para essas sugestões contrapondo a “falha” da obra resenhada é quando a autora escreve quase no final “o filme conta os acontecimentos, basicamente. Não há muita profundidade nele, e alguns temas poderiam ser abordados com maior visão crítica, como a parcialidade existente em se narrar um filme com a visão dos réus, as inverdades ditas sobre o relacionamento de Suzane com os pais e o próprio namoro entre Daniel e ela”. Como o filme poderia ter sido mais bem produzido?! Em que momento essas falhas poderiam ter sido diminuídas ou sanadas? A resenha permite essas “liberdades” e aqui seria um momento adequado para a autora colocar mais ainda seu ponto de vista.

A atualidade e sensibilidade em olhar para um problema social sério pelo qual estamos passando está presente na reportagem “Você suportaria ficar sem trabalho?”, escrita por Valentina Moreira, publicada na J.Press. O formato escolhido demonstra que houve uma boa apuração, pluralidade de vozes e, mais que isso, personificação, quando permite que pessoas contem suas próprias histórias.

Por ser um texto mais longo, talvez algumas coisas tenham passado “batido”. Sempre é importante contextualizar tudo e, às vezes, o que parece detalhe pode ser uma informação importante para o público em geral, como no caso da citação do sociólogo Ricardo Antunes. Ele é uma referência nessa área do mundo do trabalho, portanto, falar um pouco mais sobre ele seria perfeitamente justificado por levar mais informações relevantes para o leitor, além de seu nome ter sido mencionado duas vezes (pela especialista e pela própria autora do texto).

Tem um outro detalhe que pode parecer um “padrão burocrático da escrita jornalística” quanto à apresentação das personagens. A primeira tem nome e sobrenome, as outras duas não. Quanto a terceira é compreensível, já que, o nome foi trocado a seu pedido. Mas e a segunda? Fiquei me questionando se ela também teve o nome trocado ou foi “esquecimento” da autora. Bem, nada que atrapalhe a compreensão do texto, mas considerando o todo da J, as fontes costumam aparecer com nome e sobrenome.

Falar de Ciências é sempre necessário, ainda mais considerando que uma parcela da população tem se mostrado negacionista quanto a fatos e verdades científicas. Uma das grandes críticas que se faz na cobertura de ciências é sobre o tratamento distante que se dá a muitas pautas, seja na escolha dos temas, seja na linguagem empregada.

Vejo que o repórter Guilherme Bento no texto “Ciência no automobilismo: a engenharia dos veículos de Fórmula SAE”, publicado na editoria Laboratório, procurou aproximar o tema para um número maior de pessoas ao associar ciências à carro, mais especificamente ao automobilismo. A reportagem faz uma boa apuração, ou seja, mergulha nesse tipo de engenharia, entrevista três pessoas que vivem/entendem o tema profundamente e há um esforço para explicar de uma forma mais simples e clara… mas receio que o detalhismo empregado em cada etapa e em cada nuance da reportagem se torne demasiadamente enfadonho para quem não acompanha o tema.

Dois pontos me chamaram a atenção. (1) Não fica claro se essa experiência de fato será aplicada na prática, digo, as equipes profissionais de automobilismo procuram as instituições de ensino e suas para replicar esses carros? O público gosta de saber dessa aplicabilidade. (2) Buscar pluralidade. Temos três vozes, mas todas ligadas à mesma equipe (Poli Racing). Seria interessante ouvir se outros passam pelas mesmas dificuldades, tem os mesmos sonhos. Aliás, essas pessoas só participam enquanto alunos (as) ou podem permanecer depois? Esses detalhes – não técnicos – trazem a personalização já defendida aqui nesta coluna.

A reportagem “Dentro de uma xícara de chá cabem história e cultura”, publicada na Sala33, sob a autoria de Júlia Rodrigues, é uma escolha feliz e curiosa em associar o chá à história e cultura. A autora olha para o passado, mas busca atualizar a pauta e isso é importante porque demonstra que certos temas podem estar lá e cá e, portanto, certamente desperta o interesse de públicos de gerações distintas.

O texto escolhe uma narrativa mais histórica, didática, um estilo mais nariz de cera, ou seja, o atual, quente, está mais para o final. Não vejo problema considerando que ele foi produzido para a editoria de Cultura que permite essa liberdade. Aliás, até gosto. Mas há de se considerar o risco, já que o público está “acostumado”, ou seria “mal-acostumado?”, a ler só as primeiras linhas… Há de se considerar também que apesar de ter várias fontes, a coluna espinhal do texto vem de um único ponto, de uma única escola de chá, e isso pode abrir espaço para um certo incômodo: “ah, mas essa é a realidade dessa escola. Existem outras?”. E, por último, mas não menos importante. Há um erro de concordância no título porque o verbo se refere ao sujeito (aqui visto como a xícara), então, o correto seria “Dentro de uma xícara de chá cabe história e cultura”.

Desta forma caminho para a finalização dessa primeira enorme coluna e prometo tentar ser mais contida nas próximas. As falhas, lacunas fazem parte do processo de aprendizagem e, apesar de todos os apontamentos, o principal é reconhecer que a equipe e o conteúdo da Jota têm grande valor. Os repórteres estão no caminho certo: olhar atento, curiosidade, boa apuração.

 

O outro lado

Ao ombudsman, a editoria Sala33 escreveu “(…) gostaríamos de entender a crítica feita à concordância verbal do título. A frase, em sua ordem direta, seria “História e cultura cabem dentro de uma xícara de chá”, com o sujeito “História e cultura” indicando a conjugação no plural. O fato de o sujeito ter sua posição invertida na frase não necessariamente coloca a palavra “xícara” enquanto novo sujeito. Por essa razão, a princípio discordamos deste apontamento e estamos à disposição para dialogar mais sobre essa questão”.


Feedback – pensando como o leitor

Realmente a leitura me deixou em dúvida se o título passava a ideia que os autores pretendiam. Como vocês mesmos pontuaram, o sujeito composto é “história e cultura”. Está correto o argumento de vocês.

Contudo, devido à inversão, “dentro de uma xícara de chá” é um adjunto adverbial que, segundo norma padrão da Língua Portuguesa, vem acompanhado por vírgula. Assim, minha leitura ambígua se deve à falta de uma vírgula. A partir disso o correto seria: “Dentro de uma xícara de chá, cabem história e cultura”.

 

 

*Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-ECA-USP, professora universitária no Centro Universitário FMU|FIAMFAAM. Foi repórter freelancer em revistas cobrindo temas ligados a beleza, saúde e estética.

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