Nascida em 11 de agosto de 1965, em uma fazenda em St. Matthews, na Carolina do Sul, Viola Davis é uma atriz e produtora afro-americana, conhecida por ganhar os quatro principais prêmios da indústria do entretenimento norte-americano. Filha de Mae Alice, uma empregada doméstica, e de Dan Davis, um treinador de cavalos, Davis cresceu em uma família pobre sem nenhum recurso financeiro e, desde cedo, teve que lidar com o bullying, a violência e a discriminação, como conta em sua biografia Em Busca de Mim (Finding Me: A Memoir, 2022). No entanto, mesmo com todas essas adversidades, a família da artista nunca desencorajou o sonho de ser atriz de Viola Davis.
O primeiro contato de Davis com a atuação foi em um programa de teatro de sua escola. Depois, ela conseguiu uma bolsa de estudos em um dos mais renomados conservatórios de artes do mundo, a Juilliard School. A carreira da atriz começou com participações em pequenas produções teatrais e, após anos na atuação, a artista conseguiu chegar aos palcos da Broadway. Em 2001, Davis ganhou o seu primeiro Tony Awards pelo papel de Tonya na produção original de King Hedley II (2001).
Os primeiros papéis no cinema e na televisão
No começo dos anos 2000, Davis fez sua estreia na televisão e no cinema com pequenos papéis. Na televisão, atuou em duas temporadas de Cidade dos Anjos (City of Angels, 2000), além de fazer pequenas participações em outras séries, como Law and Order: Unidade de Vítimas Especiais (Law and Order: Special Victims Unit, 1999).
Já no cinema, a artista conquistou duas indicações como atriz coadjuvante. A primeira foi ao Independent Spirit Awards pelo filme Voltando a Viver (Antwone Fisher, 2002), que conta com uma performance de Davis de apenas uma cena e nenhuma fala. Em 2008, ela foi indicada pela primeira vez ao Oscar como atriz coadjuvante por sua atuação no filme Dúvida (Doubt, 2008), um papel em que apareceu por apenas sete minutos na tela. Apesar de não ganhar o prêmio, Davis conseguiu deixar a marca do seu trabalho.
Em 2011, ela protagonizou o polêmico filme Histórias Cruzadas (The Help, 2011). Na trama, a atriz interpreta Aibileen Clark, uma das duas empregadas domésticas negras que são objeto de estudo de uma jovem jornalista, no processo de escrever um livro sobre racismo. Na época, o filme fez um enorme sucesso e recebeu quatro indicações ao Oscar, uma delas de melhor atriz para Viola Davis, que não levou o prêmio pela atuação no longa. Durante os protestos do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), o filme retornou aos radares da mídia como um dos mais assistidos na Netflix e foi duramente criticado. Em entrevista ao The New York Times, Davis apontou que não sentiu, em nenhum momento do filme, que a voz das empregadas domésticas foi ouvida.
Apesar de construir uma carreira consolidada no teatro, ter recebido indicações nas principais premiações do cinema e conquistar elogios do público pela sua atuação, Davis estava muito distante de receber o reconhecimento, seja financeiro ou profissional, que merecia. “Mesmo depois de duas indicações ao Oscar, eu não estava recebendo convites para os mesmos papéis que meus colegas. […] A revista Time me selecionou como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e a Glamour me escolheu como Atriz de Cinema do Ano. Mesmo assim, ninguém estava me oferecendo papéis de destaque. Exceto a Shondaland”, contou Davis em seu livro Em Busca de Mim.
O sucesso na televisão e o seu primeiro Oscar
Apenas em 2016, Viola Davis teve a oportunidade de viver uma protagonista complexa na aclamada série Como Defender um Assassino (How to Get Away with Murder, 2014). Durante o evento de lançamento da série em Los Angeles, a atriz compartilhou sua experiência e revelou o seu desejo: “Tive muitos papéis bons no cinema, mas tive mais ainda papéis onde eu não era a estrela […] Eu queria ser o show. Queria uma personagem que me tirasse da minha zona de conforto”. Na trama, Davis interpreta a persuasiva Annalise Keating, uma advogada de defesa e professora de direito da fictícia Universidade Middleton, na Filadélfia, que se envolve em um assassinato e se torna suspeita junto com seus alunos.
Para Giovanna Freire, estudante de artes cênicas na Universidade de São Paulo (USP), a atuação de Davis na série é uma das mais memoráveis. “É uma das atuações mais brilhantes que eu já vi na minha vida. É uma personagem com tanta nuance e com tanta complexidade, ela consegue trazer isso de uma forma tão real, bonita, viva, que você consegue sentir a personagem através da tela”. Pelo papel, Davis ganhou o Emmy Awards de melhor atriz em série dramática e se tornou a primeira afro-americana a levar o prêmio. “E deixe-me dizer: a única coisa que separa uma mulher de cor de uma mulher branca é a oportunidade”, disse a artista em seu discurso de vencedora no Emmy Awards.
Em Um Limite Entre Nós (Fences, 2016), filme de drama baseado na peça de teatro homônima de 1983, Davis interpreta Rose Maxson, a esposa de um jogador de beisebol aposentado que sonhava em se tornar uma grande estrela do esporte durante sua infância, mas que trabalha como coletor de lixo para sobreviver. Com mais uma atuação de excelência, Viola foi indicada para o Oscar como melhor atriz coadjuvante e, dessa vez, conseguiu levar a estatueta. Ao ganhar o prêmio, ela se tornou a primeira atriz negra a obter a tríplice coroa de atuação.
A versatilidade de Davis em diferentes papéis
Viola Davis é reconhecida por ser uma atriz versátil e tem a reputação de conferir profissionalismo e excelência a qualquer projeto de que participa. Em A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom, 2020), a artista interpreta Ma Rainey, considerada a primeira estrela entre as vozes femininas do blues e, por isso, é muitas vezes nomeada como “a mãe do blues”. Para Davis, era importante a caracterização para encarnar a personagem, como contou em entrevista ao Huffpost. Para compor a cantora, que vivia em Chicago nos anos 1920, a atriz fez o possível para alcançar o seu peso e chegou aos 90 kg.
Em A Mulher Rei (The Woman King, 2022), um filme épico sobre a história africana, Viola Davis interpreta uma general do exército que tem a responsabilidade de proteger o reino africano Dahomey de um inimigo estrangeiro. Para o papel, Davis passou por longo período de treinamento e aprendeu o dialeto usado no filme, como contou ao portal de entretenimento Poltrona VIP. “Enquanto me preparava para viver Nanisca – e uma parte do que ela é, uma guerreira – precisei treinar, fazer um curso de dialeto e um treinamento emocional. Treinávamos cinco horas por dia com levantamento de peso e corrida, e três horas e meia com artes marciais”.
Além de seus sucessos na tela, Davis também trabalhou com outros formatos de produções audiovisuais. Em fevereiro de 2023, ela atingiu o status de EGOT – que se refere a artistas que já venceram categorias do Emmy, Grammy, Oscar e Tony Awards – ao conquistar o Grammy pela narração do seu livro Em Busca de Mim (Finding Me: A Memoir, 2022). Na obra, a atriz compartilha sua história de vida, desde sua infância em Rhode Island até sua ascensão à fama, como uma das atrizes mais respeitadas de Hollywood.
Ativismo e Legado
Para além das telas, Davis é uma pessoa engajada socialmente, que luta para criar mais espaços para as pessoas negras, seja fora ou dentro da indústria cinematográfica. Ao lado de seu marido, Julius Tennon, ela fundou uma produtora, a JuVee Productions, com o objetivo de produzir mais narrativas negras e criar oportunidades para jovens atrizes e atores negros. Além disso, Davis utiliza suas redes sociais para apoiar questões sociais e ajudar minorias marginalizadas.
O sucesso de Davis não se restringiu apenas aos Estados Unidos. No Brasil, o trabalho e a história da atriz são apreciados e servem de inspiração para jovens que estão em início de carreira no meio artístico. Giovanna Freire considera Viola Davis uma de suas referências na atuação e na vida. “É muito difícil colocar em palavras essa inspiração e essa admiração que eu tenho por ela. É como se fosse algo menos lógico, é mais um sentimento muito subjetivo. Posso dizer que ela me inspira muito, tanto como pessoa, quanto como artista. Como atriz, vejo muita coisa no trabalho dela, muita verdade e uma trajetória que abre caminho para muita gente. Acho isso uma das coisas mais lindas que um artista pode fazer, abrir caminho para pessoas como ela que vão vir depois, e isso é uma coisa que ela fez e faz muito”, comenta Giovanna.
A atuação de Davis e seus esforços para aumentar a inclusão e a diversidade em Hollywood são exemplos de liderança e empoderamento para as mulheres e pessoas negras em todo o mundo. Como uma das figuras mais importantes da indústria cinematográfica atual, Davis construiu um legado de talento e comprometimento com a justiça social para as próximas gerações.