Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

A Mulher em Êxtase

Hugo Neto O tema da mulher adúltera, na mesma linha de Madame Bovary de Flaubert, serviu de modelo para a composição de uma das mais controversas produções cinematográficas européias da década de 30. Êxtase (Extase, 1932/1933 de Gustav Machatý) representa uma fábula alegórica erótica na qual foi figurada, pela primeira vez em um filme não-pornográfico, …

A Mulher em Êxtase Leia mais »

Hugo Neto

O tema da mulher adúltera, na mesma linha de Madame Bovary de Flaubert, serviu de modelo para a composição de uma das mais controversas produções cinematográficas européias da década de 30. Êxtase (Extase, 1932/1933 de Gustav Machatý) representa uma fábula alegórica erótica na qual foi figurada, pela primeira vez em um filme não-pornográfico, a nudez frontal de uma mulher e uma encenação objetiva do clímax sexual feminino.

Eva (Hedy Kiesler), uma bela jovem, vive um casamento de aparência com um milionário mais velho, Emil (Zvonimir Rogz), o marido devotado mas impotente. Envolve-se com Adam (Aribert Mog), um engenheiro que a surpreendeu se banhando nua num lago. Fascinada com a virilidade de Adam, Eva se rende a ele numa ardente noite de paixão transformando-se, enfim, numa verdadeira mulher. Os amantes apaixonados planejam fugir juntos. Porém, quando Emil descobre o adultério da esposa, comete suicídio, deixando Eva horrorizada. Sob a sombra da culpa, Eva abandona Adam. Em algumas versões, o filme encerra com a jovem carregando nos braços um bebê. Noutras cópias, com a eliminação dessa derradeira cena, remanesce a sugestão de solidão e de uma vida marcada pelo remorso devido a uma única noite de êxtase.

Êxtase é um filme que divide opiniões e para o qual não existem formulações padronizadas. Considerados por muitos como uma obra brutal e sem importância, há, não obstante, impressionantes méritos artísticos na produção.

 

De um lado, a marcante influência estética do Realismo soviético dos anos 20 ecoa no enredo enxuto e nos diálogos minimalistas, reduzidos à essência do discurso (o filme inteiro contém apenas vinte falas). De outro lado,a obra provê uma rica figuração simbólica naturalista da libertação sexual de Eva. Na célebre cena em que Eva se desembaraça de sua virgindade, por exemplo, curiosamente, todos os longevos clichês a encenação do orgasmo feminino já estão estabelecidos: as tensões faciais no belo rosto de Hedy Kiesler, seus dedos agarrados aos tecidos, o ritmo dos espasmos, a tempestade desabando, o olhar embevecido após a consumação do prazer.

Devido à atitude sofisticada e desenvolta em relação ao amor e ao sexo, a produção causou furor. Na França, as platéias excitadas bradavam “Êxtase!Êxtase” justamente quando Eva alcança o clímax de seu defloramento, o que levou à troca do título original (Sinfonia de Amor/Symphonie der Liebe). O filme, contudo, teve de enfrentar inúmeros inimigos.

Nos Estados Unidos da década de 30, sob a rígida censura do Código Hays, a exibição em circuito comercial de cenas de nudez sumária e de intercurso sexual adúltero era inimaginável e a obra foi largamente mutilada. Fritz Mandl, o milionário austríaco da indústria armamentista e marido de Hedy Kiesler gastou em vão uma vultosa soma para destruir todas as cópias do filme. A obra sobreviveu e atravessou o tempo enquanto Hedy Kiesler o abandonou e, lançando-se numa bem-sucedida carreira internacional, mudou seu nome para Hedy Lamarr para se tornar, então, uma das maiores e mais fascinantes estrelas cinematográficas de Hollywood nos anos 30 e 40.

Independentemente das controvérsias, permanecem antológicas as cenas do banho no lago – esplendidamente fotografada por Jan Stallich com efeitos multiplicados de reflexos para tornar mais sublime a nudez de Eva – da corrida de Hedy Kiesler in naturabilis pelos bosques e, sem dúvida, do surpreendente momento voyeurístico do êxtase numa das mais ousadas representações da liberdade sexual e da beleza feminina.

Êxtase (Êxtase ou Sinfonia de Amor / Symphonie der Liebe: 1932/1933 – Tchecoslováquia/Áustria)

  • Diretor: Gustav Machatý
  • Roteiro: Gustav Machatý e Frantisek Horký, baseado em idéia de Vitezlav Nezval.
  • Fotografia: Jan Stallich e Hans Androschin.
  • Edição: Antonín Zelenka
  • Trilha Sonora: Guiseppe Becce.
  • Produção Gustav Machatý, Moriz Grunhut e Franntisek Horký para a Elektra-Film
  • Elenco Hedy Kiesler/Lamarr (Eva), Aribert Mog (Adam), Pierre Nay (Adam na versão francesa), Zvonimir Rogz (Emil), Leopold Kramer (pai de Eva), André Nox (pai de Eva na versão francesa), Karel Macha-Kuca (advogado na versão tcheca), Jirina Steimarová (secretária na versão tcheca), Jan Stivák (bailarina do café), Eduard Slégl (camponês) e Antonin Kibobý (camponês).
  • 82 minutos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima