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‘Alien: Romulus’ e os ressurgimentos da saga ‘Alien’ nos cinemas

Longa lançado em agosto de 2024 revive a clássica série de filmes de Ridley Scott, que estava há sete anos sem continuações
Por Andrey Furmankiewicz

Alien: Romulus (2024) chegou aos cinemas com uma missão: reviver a franquia Alien. Esta passava por altos e baixos desde sua criação, mas marcou o seu gênero na história do cinema e acumulou diversos fãs no mundo. A tarefa de ressuscitar os xenomorfos não era fácil, então o estúdio 20th Century Studios se juntou com o diretor Fede Alvarez e o co-roteirista Rodo Sayagues, dupla uruguaia responsável por A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013).

História da franquia, entre altos e baixos

Alien é uma das sagas de terror/ficção científica mais aclamadas da história do cinema e da cultura pop. Criada por Dan O’Bannon e Ronald Shusett, a franquia iniciou com o filme Alien: o Oitavo Passageiro (1979), dirigido pelo lendário diretor Ridley Scott.

A história acompanha Ellen Ripley (Sigourney Weaver), uma das tripulantes da nave de carga Nostromo, no ano de 2122. O filme sobre ela, que tenta sobreviver junto com seus colegas, de uma criatura alienígena presente na nave, ganhou imensa popularidade após o lançamento. 

A criatura em questão, o xenomorfo, foi desenhada por um dos maiores pintores surrealistas do século passado, H.R.Giger [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

Após o sucesso do primeiro filme, uma sequência era quase inevitável. Assim, Aliens, o Resgate (Aliens, 1986) chegou às telas de cinema dirigido por outro aclamado diretor, James Cameron. Diferente do primeiro, que apostava no gênero de terror para desenvolver sua trama, Aliens, o Resgate tendeu mais para a ação, e mesmo com a mudança, conseguiu tanto sucesso de crítica quanto o primeiro longa e foi muito bem recebido pelos fãs nas bilheterias.

Os dois primeiros filmes da franquia são um marco no gênero do terror e da ficção científica e influenciaram muitas outras obras. Porém, as continuações dessa saga passaram por altos e baixos desde então. Alien 3 (1992), mesmo que dirigido pelo consagrado David Fincher, não passou nem perto de replicar o sucesso dos dois primeiros e o mesmo pode-se dizer do quarto filme, Alien, a Ressurreição (Alien Resurrection, 1997).

Após a decepção que foram os dois últimos filmes da quadrilogia, Ridley Scott assumiu de novo a responsabilidade pela saga em 2012. Prometendo um reinício para Alien,  o filme Prometheus (2012) conta as origens dos seres humanos e dos xenomorfos, criados por uma espécie superior apelidados de Engenheiros, e se passaria 30 anos antes do primeiro filme, o Oitavo Passageiro.

“Prometheus, mas não cumprius”, como alguns fãs brincam, traz novos elementos e uma pegada filosófica interessante para a franquia. Porém, os furos no roteiro e a exclusão de cenas importantes do produto final deixaram um gosto azedo no público que aguardava ansiosamente pelo filme.

A próxima continuação conseguiu decepcionar mais ainda. Alien: Covenant (2017) contou com um roteiro fraco, e apesar da boa atmosfera de suspense criada, o filme gera ainda mais perguntas que Prometheus e consegue estragar vários aspectos que seu antecessor havia feito bem, como a própria trama dos Engenheiros.

Sora, do canal Central Pandora no YouTube diz à Jornalismo Júnior que “apesar de Prometheus ter dado um novo rumo para os filmes, explorando o passado desse universo, fica bem claro que a ideia inicial era fazer algo fora da franquia Alien. E por fim, foi justamente o fato de tentar se encaixar em Alien que tirou parte do potencial que o filme teria”.

Além dos filmes principais, o xenomorfo já dividiu as telas com outro alienígena famoso da cultura pop, o protagonista de Predador (Predator, 1987), em Alien vs. Predador 1 e 2 (2004-2007). As duas sagas são consideradas irmãs, e conquistaram praticamente o mesmo público. Mas o sucesso de Alien não foi só no cinema; jogos, HQs e livros foram desenvolvidos expandindo a mitologia e o terror desse mundo.

O dever de Alien: Romulus de reviver a saga, a sinopse e onde se encaixa na cronologia

Considerando o fracasso da série com Covenant, Alien: Romulus chegou aos cinemas em 2024 com a responsabilidade de redimir a franquia. Para isso, o filme voltou às origens do terror, abandonando a premissa renovadora que os dois últimos filmes estavam seguindo. 

Os facehuggers, segundo estágio da vida dos xenomorfos, que implantam os chestbursters nos hospedeiros, tiveram grande destaque em Romulus [Imagem: Reprodução/X/@AlienAnthology]

Em entrevista ao Cinéfilos, Isabela Eichler, criadora de conteúdo no YouTube do Canal Futurices, afirma: “Alien: Romulus foi exatamente o respiro que a franquia precisava depois de Prometheus e Covenant (apesar de até gostar dessas prequels). Enquanto esses dois filmes preferiram expandir a lore da franquia com um toque mais conceitual e filosófico, focando em questões existenciais e na origem dos xenomorfos, Romulus tomou uma decisão esperta: voltar às raízes. E, sinceramente, era isso que o público estava querendo.”

Ambientado na cronologia 20 anos após o primeiro filme e 37 anos antes do segundo, Romulus conta a história de Rain, uma órfã que trabalha na colônia Jackson’s Star, junto com seu irmão, Andy, um androide sintético reprogramado. Quando seu contrato com a empresa Weyland-Yutani é estendido e ela é forçada a trabalhar por mais tempo na colônia, Rain recebe a proposta de Tyler, seu antigo namorado, junto com outros três amigos, de roubar uma nave na órbita do planeta.

Nela, a tripulação pegaria cápsulas criogênicas para seguir viagem rumo ao planeta Yvaga, fora do controle da Weyland-Yutani. Porém, o grupo descobre que a nave na verdade se trata de uma estação espacial enorme, na qual sua tripulação inteira foi dizimada por criaturas alienígenas.

Os pontos positivos, negativos e as novidades do longa

Dirigido por Fede Alvarez, que já tem experiência com o gênero em: Evil Dead (2013) e O Homem nas Trevas (2016), Romulus consegue unir o melhor dos dois primeiros filmes: a atmosfera aterrorizante do primeiro e as cenas de ação de tirar o fôlego do segundo. “A forma como o filme consegue balancear o terror psicológico com cenas viscerais de perseguição e caos é um ponto alto” ressalta Isabela na entrevista. Para complementar o terror, a trilha sonora (e a ausência dela) e a maior utilização de efeitos práticos, ao invés de gerados por computador (CGI), para as criaturas foram muito importantes para a intensificação do suspense e do medo.

A narrativa nos insere na perspectiva de jovens que cresceram nesse universo caótico controlado pela corporação e buscam mudar sua realidade, “uma perspectiva totalmente nova”, como diz Sora para Jornalismo Júnior. As críticas realizadas ao capitalismo e a exploração dos trabalhadores pela Weyland-Yutani, assim como a reflexão sobre os problemas que podem ser ocasionados pela inteligência artificial – nesse caso, os androides –, quando utilizados a favor dessas empresas, são outros pontos de destaque no longa. Tais críticas são características da franquia, e foram muito bem readaptadas para esse novo capítulo.

Os atos malignos da companhia Weyland-Yutani visando benefício próprio são expostos desde os primeiros filmes, e Romulus também mostra as condições dos trabalhadores de minas em Jackson’s Star [Imagem: Reprodução/IMDb]

Os cenários são um grande destaque da produção e da fotografia, com um visual cyberpunk, industrial, sujo e amedrontador. A colônia captura as mazelas daquela sociedade controlada por uma companhia autoritária, enquanto a nave Renascence – assim como as outras estações espaciais da franquia – é como um personagem vivo e intimidador, que transmite um ar claustrofóbico, escuro e insalubre, apesar da tecnologia de ponta. 

Os corredores da nave Corbelan passam um enorme desconforto para o espectador [Imagem: Divulgação/20th Century Studios]

Dessa maneira, Romulus trouxe várias referências aos seus antecessores, de modo que Alvarez conseguiu criar algo novo, respeitando e homenageando o legado da franquia. Entretanto, o filme parece se apegar até demais nesse fan service, de modo que as referências acabam se tornando escancaradas e tiram a originalidade da obra. Um dos principais personagens do filme foi criado por inteligência artificial, revivendo um antigo personagem da saga, mas há certo incômodo estético com o CGI de algumas cenas, e com a repetição de frases dos outros filmes. Enquanto a decisão de voltar as raízes da saga pode ter sido inteligente para atrair o público mais fanático, há uma certa previsibilidade na trama. 

Veredito e o que esperar do futuro de Alien

No geral, Alien: Romulus foi bem recebido, garantindo 80% de aprovação pela crítica especializada e 85% pelo público geral no Rotten Tomatoes, além da nota  7,2 no IMDb. Muitos fãs se agradaram com a volta às origens de Alien e como Fede Alvarez soube criar algo novo para a franquia, apesar de utilizar exageradamente de fan service e do molde antigo dos filmes. Tanto Sora quanto Isabela concordam que Romulus pode ser considerado o terceiro melhor filme da saga.

Nas bilheterias, o longa pôde ser considerado um sucesso, com um orçamento de 80 milhões de dólares, arrecadou quase 350, tornando-se a segunda maior bilheteria da série, atrás apenas de Prometheus.

Apesar da boa impressão, surgem dúvidas sobre o futuro da saga. Não há previsões se a trama seguirá com esses personagens ou se outro caminho será traçado. O que se sabe é que está tudo em aberto para uma sequência, ainda mais se considerarmos o grande salto cronológico entre cada filme. 

Sora diz: “se tem algo em comum entre Alien, Aliens, o Resgate e Alien: Romulus é que os três são projetos onde se vê paixão e criatividade. Por isso, é essencial abrir espaço para novas mentes criativas dentro desse universo sem gerar qualquer tipo de pressão, considerando que todas as sequências que tiveram maus resultados, foram as que cederam às pressões dos estúdios”. Isabela questiona: “O retorno às raízes foi bem-sucedido, mas a grande questão agora é: como avançar sem cair na repetição ou na saturação?”. Saber expandir a franquia, respeitando o universo, mas buscar inovar mais do que seguir uma fórmula bem sucedida anteriormente é essencial para manter Alien no topo do terror e da ficção científica.

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