Como a maioria dos filmes da DC Comics, Aquaman (2018) começa contando a origem do herói – o que normalmente envolve uma tragédia – e, na sequência, o vemos em ação no que seriam os dias atuais.
A partir daí, o longa de James Wang conta como Arthur Curry (Jason Momoa) divide sua vida entre ajudar o pai e salvar as pessoas dos vários crimes que acontecem em alto-mar. Entretanto, o Aquaman é obrigado a lidar com o passado quando seu meio-irmão Orm (Patrick Wilson), rei de Atlântida, tenta dominar os demais reinos aquáticos a fim de atacar a superfície.
Mesmo guardando grande rancor de sua parte atlante, Arthur decide ajudar a evitar que essa guerra iminente aconteça. Assim, aliado a Mera (Amber Heard), princesa de um dos reinos aquáticos, e Vulko (Willem Dafoe), quem lhe ensinou tudo que ele sabe sobre a vida no fundo do mar, o Aquaman pretende desafiar o reinado de seu irmão, na esperança de que a antiga lenda do tridente perdido seja real.
Um recurso muito bem utilizado para ajudar a explicar esse enredo foi o flashback, colocado em momentos precisos e com ótimas transições do presente para o passado. As cenas de luta também são muito bem trabalhadas, com gráficos incrivelmente realistas considerando que grande parte delas foi digitalizada. Além do excelente trabalho de câmera nesses momentos que, mudando o plano constantemente, conseguia enquadrar ora um ora outro foco de luta, dando uma sensação de continuidade a duas disputas.
É possível perceber isso quando, na cena em que Aquaman e Mera lutam contra alguns soldados enviados por Orm, eles acabam se separando e apenas um entra em foco. Na sequência a câmera aumenta o campo de visão até que o segundo combate também apareça no enquadramento, então ele ganha zoom e seguimos acompanhando-o. Essa troca acontece ainda várias vezes nessa e em outras situações de enfrentamento ao longo do filme. Com isso, o espectador tem quase a sensação de estar jogando um videogame.
Prometido pelo diretor e cumprido com habilidade, o filme realmente parece se passar embaixo d’água. Pequenos detalhes como o movimento dos fios de cabelo fizeram toda a diferença para aumentar essa percepção. E, talvez se aproveitando do vasto desconhecimento da humanidade sobre o fundo do oceano, o longa propõe cores vibrantes e seres extraordinários como composição desse ambiente.
Podemos ressaltar ainda os atores escolhidos para os papéis principais: a maioria branca não é de se chocar, tendo um único negro graças à sua personagem que já tinha essa característica nos quadrinhos. No entanto, essa falta de inovação para no próprio Aquaman, o qual não segue o loiro de olhos azuis da revista. Assim o herói parece se adaptar ao ator, na medida em que sua descendência havaiana exige que o intérprete do seu pai tenha as mesmas características que ele. Então, com Temuera Morrison no papel, o filme passa a ter duas grandes personagens sem a clássica aparência europeia.
No entanto, salvo para os admiradores dos filmes da DC, alguns clichês são dispensáveis. É o caso dos constantes alívios cômicos que até poderiam ser bem vindos se colocados em momentos de real tensão, mas aparecem o tempo inteiro como aquele amigo irritante que só sabe lidar com as situações fazendo piada delas.
Isso só não é pior que a previsibilidade do roteiro. Tudo bem que filmes de herói normalmente contam a história de alguém que sofreu muita na vida, sempre se dedicou a salvar os outros, encontrou um amor no meio do caminho e ganhou um beijo apaixonante de parar o tempo antes de algum ponto de virada, como uma grande batalha por exemplo. Mas isso não significa que o filme não possa mais ser interessante, e é nesse quesito que os diálogos deveriam se sobressair de modo inteligente. Em Aquaman, é possível prever as próximas falas das personagens a partir de duas frases anteriores, sendo um roteiro fraco para um filme que tem uma estética tão bonita.
Como de costume em filmes do gênero, depois dos créditos tem-se uma breve cena que introduz a sequência da obra. É nesse momento que outro inimigo de Aquaman ganha verdadeiro protagonismo, já que embora apareça algumas vezes em duelos com o herói, isso se mostra apenas como a construção da personagem que ele pode se tornar.
O filme estreia 13 de dezembro, confira o trailer:
por Maria Laura López
laura_lopez.8@usp.br