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‘As Marvels’ demonstra a decadência do Universo Marvel

Protagonismo feminino não foi capaz de salvar longa-metragem do fracasso

As Marvels (The Marvels, 2023), sequência do filme Capitã Marvel (Captain Marvel, 2019), foi um fracasso histórico para a Marvel nas bilheterias. A narrativa tem início com a apresentação da vilã e a consequente descoberta simultânea, por parte de Capitã Marvel (Brie Larson) e Monica Rambeau (Teyonah Parris), de um fenômeno desconhecido que faz com que seus poderes sejam entrelaçados entre elas e mais uma heroína, Kamala Khan (Iman Vellani), a Miss Marvel. 

A obra por si só é mal explicada, pois é pressuposto que o telespectador tenha assistido anteriormente, no mínimo, três obras da Marvel, sendo elas: Wandavision (2021), Ms. Marvel (2022) e Invasão Secreta (Secret Invasion, 2023). Sem ter assistido a essas três séries, não se sabe como as protagonistas adquiriram poderes e o porquê do bracelete – artefato principal do filme – ser tão importante e poderoso. Essas questões não são abordadas e muito menos explicadas durante o longa. A personagem Monica Rambeau resume sua aquisição de poderes a uma simples frase: “Atravessei o feitiço de uma bruxa”, sem aprofundamento nenhum. 

Skrulls em Invasão Secreta. Alienígenas que aparecem no filme As Marvels. [Imagem: Divulgação/Marvel]

Além disso, temos novamente a normalização da violência dos super heróis, em que Capitã Marvel é retratada como uma heroína que comete erros e se arrepende deles. Mesmo sendo responsável por aniquilar a civilização de Hala, Carol Danvers não é vista como um perigo eminente para qualquer nação. 

Enquanto isso, a vilã Dar-Benn (Zawe Ashton) busca reconstruir sua terra natal, Hala, às custas do roubo de recursos naturais dos Skrulls, no planeta de Tarnax. Logo, a vilã mata milhares de pessoas para conseguir o que deseja e não é muito diferente da narrativa da heroína que aniquilou todo um povo, em prol do “bem” e da sua própria visão do que deveria ser feito. Mais uma vez, a Marvel traz uma vilã com sede de vingança – ou de justiça –, mas que pouco tem destaque durante o longa, mesmo que tivesse motivos justificados para suas ações. O filme aborda, obviamente, a perspectiva arrependida da heroína e são poucas as cenas em que a vilã aparece com algum realce. 

A vilã Dar-Benn chegando no território em que as Marvels estão concentrando forças com uma civilização para enfrentá-la. [Imagem: Dilvulgação/Marvel]

A construção das vilãs no universo da Marvel é irrisória, não muito enfática e suas ações nunca estão atreladas à dominação do mundo ou de poder, mas sempre a motivações pessoais, senso de justiça ou de vingança pelo seu povo. Um exemplo disso foi a construção da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) como vilã, em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness, 2022), em que seu único objetivo em matar tantas pessoas e ir contra o herói se baseava em uma motivação pessoal de “recuperar” seus filhos – que não eram exatamente seus. No geral, elas possuem pouca visibilidade, se comparadas aos vilões, e são sempre subalternizadas às suas emoções. 

O filme possui um teor cômico protagonizado pela heroína Kamala, mas que não é novidade, pois a Marvel tem trazido narrativas que buscam a atenção do telespectador pelo humor. A inovação dessa vez foi trazer uma cena musical, quando as Marvels entram no território de um povo que vai ajudá-las. A cena, no entanto, não agrega relevância para a narrativa e é desnecessária. 

Capitã Marvel na cena em que dança e canta com o parceiro de outro universo, o Príncipe Yan (Park Seo-joon), com quem se casou. [Imagem: Dilvulgação/Marvel]

Por outro lado, temos a visibilidade e protagonismo de uma heroína negra, Monica Rambeau, um marco importante na história da Marvel e que não é recorrente. Os últimos filmes que tiveram protagonismo negro feminino no MCU foram os da saga Pantera Negra. Rambeau tem destaque não somente pelos seus poderes, mas também pela sua intelectualidade superior: ela é a personagem que explica os acontecimentos físicos do enredo. Para além disso, temos um elenco majoritariamente feminino, que não somente é protagonizado por heroínas mulheres, mas também, por uma vilã feminina. Ou seja, temos um enredo focado na autonomia feminina para mostrar seu poder, sua força e seus ideais. 

As Marvels não tem um enredo muito diferente do que já foi visto no Universo Marvel e não gera novidades surpreendentes, se tornando mais do mesmo. No fim, o que gerou mais empolgação nas quase duas horas de duração do longa foi a cena pós-créditos, aguçando a curiosidade do espectador para os próximos filmes do MCU.

O filme está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

*Imagem de capa: [Divulgação/Marvel]

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