Sabe quando bate aquela fome só de assistir a uma propaganda na televisão mostrando um lanche enorme e suculento? Ou quando você vai a um restaurante com uma comida tão esteticamente bonita que a primeira coisa que você pensa é em tirar uma foto para postar no Instagram? O termo “food porn” define exatamente essa fetichização da comida. O objetivo é deixar o cliente com “água na boca” e, para isso, podem ser envolvidos no processo fotógrafos, publicitários, maquiadores (sim, maquiadores de comida!), além de, claro, os próprios cozinheiros.
O termo foi usado pela primeira vez em 2003, nos EUA, para se referir a hamburgueres da rede Hardee’s, que possuíam mais de 300g. A expressão representava uma crítica à negligência com a obesidade crescente no país. Nessa mesma época, ela se popularizou com os reality shows de cozinha, tais como “Top Chef”, “Cupcake Wars”,“Hell’s Kitchen”, entre outros. No Brasil, o termo fez sucesso sob a forma de hashtag, como filtro na hora de postar imagens nas redes sociais.
Atualmente, um dos maiores ícones desse estilo de gastronomia é a cozinheira britânica Nigella Lawson, que apresenta vários programas na televisão – no Brasil, são transmitidos pela GNT. Ela é conhecida não só pela aparência de seus pratos, mas também pelo modo de prepará-los, usando em seus programas uma pitada de sensualidade. Em suas receitas, não se importa muito com o número de calorias, ou em usar apenas ingredientes industrializados. “O que eu penso é que as pessoas estão muito histéricas. Se eu faço uma receita e coloco manteiga nela, começam a pensar ‘meu senhor Deus, me salve, isso é não é saudável!’ Mas, se você parar para pensar, uma receita, por exemplo, que leva 100 g de manteiga e alimenta oito pessoas, não é muito. E não é todo dia que você faz isso, é uma questão de balanço. Eu me sinto muito bem comendo e sinto pena das pessoas, que por motivos muito bobos, têm medo da gordura”, Nigella disse em entrevista à revista “Prazeres da mesa”, quando veio ao Brasil para lançar seu 4º livro “Na cozinha com Nigella”, em 2014.
Sabor além do prato
Segundo passo: você viu a propaganda e vai correndo ao restaurante comer aquele lanche. Se decepciona, no entanto, ao ver que ele é muito menos apetitoso do que parecia, com menos ingredientes e menor. Técnicas de fotografia como a iluminação do local e a posição do prato na mesa, no food porn, são tão importantes quanto o prato em si. Algumas redes de fast food chegam a alterar elementos da comida na hora de fotografá-lo.
Um dos maiores gastrofotógrafos brasileiros é Sergio Coimbra. Na sua composição, utiliza na maioria das vezes um fundo preto, para que o prato salte aos olhos. Porém, não o altera de forma alguma. Em 2011, ele ganhou o Festival Internacional de Fotografia Culinária, de Paris, em que retratou vendedores de comida ambulantes. Seu estúdio SC Estudio localiza-se na Vila Olímpia- SP e possui três andares com uma cozinha profissional repleta de milhares de ingredientes, um acervo de talheres e louças, além de uma ponte de observação.
Food Porn em São Paulo
Em São Paulo, o food porn está presente principalmente em hamburguerias gourmets e na cozinha contemporânea. Algumas casas famosas pela estética de seus pratos são o tradicional Bar Riviera, sob comando do chef Alex Atala e as lanchonetes Z Delis, localizadas em Pinheiros e nos Jardins, sob comando do chef Júlio Raw .
E se é verdade aquele ditado que diz que primeiro se come com os olhos, no food porn, nossos olhos estão bem alimentados e nutridos seja com imagens nas redes sociais, seja diante de um belo prato em um restaurante. O cliente experimenta com todas as sensações e para a satisfação plena, falta-lhe apenas uma mordida!
Por Isadora Vitti
vittidora95@gmail.com