“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado”. Essa é uma bela citação de Roberto Shinyashiki, e que ilustra muito bem a mensagem do filme Com Amor, Van Gogh: O Sonho Impossível (Loving Vincent, The Impossible Dream, 2019).
Para compreender esse longa, primeiro é preciso conhecer a obra Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent, 2017). O longa de 2017 conta a história da vida de um dos mais famosos pintores da história, Vincent Van Gogh. Muito bem pesquisado, o filme retrata todas as nuances e os mistérios da vida do artista holandês.
Porém, ele se diferencia de maneira brutal dos outros filmes biográficos: ele é uma animação feita a partir de reproduções das pinturas de Van Gogh. Todas elas são feitas à mão, com um estilo completamente novo e revolucionário, e que rendeu muitas dores de cabeça a Breakthru Films, produtora do longa (se quiser conferir, link do trailer de Com Amor, Van Gogh: https://www.youtube.com/watch?v=3tslxWf9t5w).
O filme de 2019, então, vem para revelar justamente como foi que Dorota Kobiela e Hugh Welchman, diretores do longa original, lidaram com todos os problemas que vêm junto à criação de um novo estilo de cinema. A narrativa vai desde o início da vida dos dois diretores, até a concepção da ideia, e por aí, vaí até o fim da produção do filme.
O documentário é muito completo e, curiosamente, serve como um título independente. Por ter que mostrar todo o processo de produção do longa, mesmo quem não viu o original de 2017, consegue sair entendendo plenamente o que ele era, saindo inclusive com a curiosidade de vê-lo.
A narrativa é contada, como em qualquer documentário comum, através de depoimentos. Os dois principais narradores são os dois diretores já citados. Além disso, colaboradores, financiadores, artistas e até mesmo atores completam a linda história de superação que foi a feitura do filme.
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Inclusive, a história é tão bem contada, que muitas vezes o espectador pode até esquecer que o longa realmente foi feito. Os pontos baixos do documentário, com a produção do original de 2017 quase colapsando, realmente geram um senso muito grande de vazio e desespero em quem assiste. É quase como querer ajudar alguém do passado.
Dito isso, o filme é essencial, feito para dois tipos de públicos. O primeiro é aqueles que se interessam pelos aspectos técnicos da nova obra. Apesar de não haver grandes especificidades, até para evitar um ritmo lento e desinteressante no decorrer da obra, ainda é possível sair com um vasto entendimento da técnica utilizada, de maneira que, após alguma pesquisa mais aprofundada e algumas tentativas, um artista talentoso e bem treinado o suficiente, possa recriar o que a Breakthru Films conseguiu nesse projeto.
O outro público são os sonhadores. E esse talvez seja o mais afetado pelo filme. A mensagem central é, indiscutivelmente, que sonhos são possíveis. Mesmo que eles deem mais trabalho que o esperado. A primeira cena propõe bem o tema do longa. Uma reunião, em preto e branco, e todos, relaxados mas em silêncio, ouvindo o discurso de Dorota Kobiela, grande idealizadora do projeto.
Impossível sair do filme sem acreditar na arte, no trabalho e até mesmo em você. Até porque tudo é brilhantemente fechado com a indicação da obra ao Oscar de Melhor Animação em 2018. A grande mensagem que fica é: se eles conseguiram chegar tão longe, quem disse que você, espectador, não consegue?
No geral, o filme é obrigatório para qualquer um que precise se inspirar, que queira criar. E se o enredo como um todo não te gera esse sopro gostoso de vida que te arrepia da cabeça aos pés, talvez a cena final de comemoração consiga passar essa ideia. Ao som da trilha sonora do longa, tudo é resumido em música:
“Eles não te escutavam, não sabiam como
Talvez agora eles te escutem
Pois eles não conseguiam te amar
Mas seu amor era verdadeiro
E quando não havia mais esperança
Naquela noite estrelada”
O longa tem estreia prevista para o dia 30 de janeiro no Brasil. Confira o trailer: