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‘Com Carinho, Kitty’: Nova série queridinha da Geração Z

O spin-off de ‘Para Todos os Garotos que Já Amei’ mostra novas faces da caçula das irmãs Song-Covey, mas desagrada sul-coreanos
Por Sarah Kelly (sarahkelly@usp.br)

A série Com Carinho, Kitty ( 2023) ocupa o primeiro lugar no Top 10 Séries mais assistidas da Netflix desde sua estreia, no dia 18 de maio. Esse sucesso se justifica pelo público de Para Todos os Garotos que Já Amei (To All the Boys I’ve Loved Before, 2018) que já conhecia a protagonista como a irmã mais nova de Lara Jean (Lana Condor), aquela que enviou secretamente suas cartas de amor. Com tanto carisma durante os filmes da trilogia, Kitty (Anna Cathcart) ganhou merecidamente um espaço para aprofundar sua história. Outra audiência que tem se interessado na trama são pessoas que gostam de doramas, as novelas sul-coreanas, já que a série se inspira em produções do gênero.

Dessa vez, conhecemos uma Kitty mais madura, no auge de seus 17 anos, mesma idade que Lara Jean tinha no último longa da franquia, quando teve que escolher entre sua faculdade dos sonhos e seu namorado. Diferente da irmã, a caçula toma sua decisão sem hesitar: Aplica para a KISS, colégio interno na Coréia do Sul em que sua falecida mãe estudou e que, coincidentemente, seu namorado também estuda, e consegue uma bolsa de estudos. Após uma palestra com direito a slides para convencer seu pai e madrasta, a coreano-americana parte para o outro lado do planeta em um intercâmbio. O que é incrível é que ela vai sem avisar seu namorado, mostrando que sabe surpreender. Mas ao chegar lá, é ela quem é surpreendida com uma situação inimaginável. 

Em busca de raízes

Uma das partes mais interessantes do enredo é a busca de Kitty por conhecer mais da mãe. Como irmã mais nova, ela é a única das irmãs que não possui lembranças com a progenitora. Ao estudar no mesmo lugar que a mãe, a adolescente tem a oportunidade de aprender detalhes sobre ela que suas irmãs não tiveram acesso, como seus traços de personalidade e antigos amigos, de forma que os papéis se invertem e agora é Kitty quem poderá contar as lembranças da mãe. 

Por outro lado, o fenômeno vivenciado por mestiços, de não se sentirem totalmente pertencentes a nenhum lugar, não é o foco da narrativa. Isso não é tão aprofundado na série, mas poderia ter sido citado na jornada da protagonista de origem estadunidense e sul-coreana. No início, existem cenas de choque cultural da personagem, que não fala a língua do país em que está, mas fazem falta momentos de Kitty se aproximando mais da mãe pelo contato com a cultura coreana. 

Anna Cathcart emociona ao interpretar Kitty em busca de “um pedaço da mãe” que seja só dela [Imagem: Divulgação/ Netflix]

Questões LGBTQIAP+  

A trama aborda abertamente a vivência de adolescentes da comunidade LGBTQIAP+. Uma problemática de apagamento já criticada em outras produções desse universo se repete em Com Carinho, Kitty, com uma personagem chamada de “gay” no roteiro, ao invés de “lésbica”, denominação que seria mais adequada. Apesar de não acontecer de forma ideal, a presença de questões historicamente pouco discutidas é um avanço representado na série.

Sobretudo na Coréia do Sul, país ainda LGBTfóbico, essas referências são extremamente polêmicas. Com Carinho, Kitty é ousada ao mostrar um relacionamento sáfico de uma jovem pertencente a uma família Chaebol, que possui grande influência no país, e seu sofrimento diante da vida de aparências que seus familiares levam. É um alívio para gerações anteriores da comunidade que momentos como a descoberta da sexualidade possam ser abordados com leveza em uma série de classificação indicativa 12+.

Os personagens Yuri (Gia Kim), Q (Anthony Keyvan) e Min Ho (Sang Heon Lee) roubam a cena com seu charme [Imagem: Divulgação/Netflix]

Retratação da Coreia do Sul

As críticas dos sul-coreanos ao drama têm se voltado para as representações não verídicas da cultura. Alimentação escolar não nutritiva, beijos em bibliotecas e herdeiros comprando em lojas populares são alguns dos pontos irrealistas mencionados por um internauta. Uma grande discrepância ocorre em um momento em que uma personagem feminina é designada para ficar no dormitório masculino porque seu sobrenome, “Song”, seria masculino. Além do nome na verdade ser neutro, isso dificilmente aconteceria em uma escola conservadora como é o colégio representado na série. Mesmo sendo meio coreana e já tendo visitado o país, Kitty se demonstra ignorante em diversos aspectos da cultura, o que também tem incomodado os sul-coreanos.

Embora aconteçam muitos descuidos, Com Carinho, Kitty é feliz ao trazer atores verdadeiramente coreanos. Boa parte dos diálogos na série são em coreano, o que pode, por outro lado, incomodar quem gosta de assistir enquanto faz outras coisas e não fala a língua, já que não há dublagem em português ou inglês para essas cenas. 

Tudo para não cair no clichê

Diferente dos filmes românticos da franquia, que têm uma certa previsibilidade, o roteiro da série faz muito esforço para não cair em clichês. Isso pode levar a uma confusão do telespectador com tantas reviravoltas que acontecem em 30 minutos de episódio. Por outro lado, empenhos desse tipo não são incomuns no gênero de novelas coreanas, como pode ser visto no drama sul-coreano O que há de errado com a secretária Kim? (What’s Wrong with Secretary Kim?, 2018).

Série traz elementos clássicos de comédias românticas adolescentes, como festas, brigas e decisões inconsequentes [Imagem: Divulgação/Netflix]

Tamanha energia caótica poderia ser entendida como uma forma de representar as confusões da adolescência. Porém, como não se limita ao elenco jovem, não é um argumento válido. De forma geral, se você não se incomoda com coincidências e reviravoltas rápidas e improváveis, a série será muito divertida de assistir. Com Carinho, Kitty é perfeita para dias monótonos, pois é impossível ficar entediado assistindo conflitos bobos que são encarados com muita seriedade pelos personagens. Até o momento da publicação desse texto, a Netflix não anunciou a renovação da série para uma segunda temporada, mas a narrativa termina com gancho para uma. A ideia de trazer as aventuras da casamenteira Kitty na Coreia foi genial e, com muitas ressalvas, bem-sucedida. 

A série está disponível na Netflix. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Netflix

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