Druk – Mais uma rodada (Druk, 2020) é um presente do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg para a audiência em forma de um drama satírico. O longa marca mais uma indicação do diretor ao Oscar de Melhor Filme Internacional e sua primeira indicação à categoria de Melhor Direção.
O filme traz o protagonista Martin (Mads Mikkelsen) e mais três amigos, que decidem começar a fazer as tarefas do dia-a-dia sob a influência de álcool. O grupo, que trabalha em uma escola, toma essa decisão com o objetivo de otimizar o trabalho e serem melhores nos respectivos empregos, seguindo a hipótese de um cientista de que o ser humano nasce com um déficit de álcool no organismo. Logo, segundo essa tese, estar sempre bebendo um pouco seria benéfico, porque só assim o equilíbrio seria atingido.
Os acontecimentos de Druk – Mais uma rodada são intercalados com frases que os amigos escrevem, relatando a experiência. Essa busca por diversão disfarçada de experimento científico funciona de início: neste limbo em que não se está exatamente sóbrio nem bêbado, Martin e os outros ficam mais relaxados e acabam se tornando mais produtivos e felizes, tanto no emprego quanto na vida privada. Mas, aconteceu o que sempre acontece quando as coisas começam a dar certo. O que tinham passou a não ser o suficiente, e eles queriam mais.
Apoiando-se em casos de famosos e produtivos alcoólatras, como Ernest Hemingway e Winston Churchill, os personagens acreditavam – ou pelo menos fingiam acreditar – que, se bebessem mais, os efeitos positivos se multiplicariam. Claramente, o tiro sai pela culatra e o quarteto se vê diante de uma consequência tão óbvia, mas que parecia tão distante: o alcoolismo.
O filme que antes mais parecia uma comédia reflexiva dá uma guinada em direção ao drama sombrio. Os desdobramentos vêm rápido demais, o que pode vir como um choque para o telespectador. Porém, faz sentido quando se leva em consideração que Druk trata de vício, uma condição que já saiu do controle.
Mads Mikkelsen já havia trabalhado com o diretor antes, no aclamado A Caça (Jagten, 2012), também indicado ao Oscar de melhor filme internacional, e sua performance estelar é um ponto alto em ambos os longas. O ápice da atuação de Mikkelsen em Druk acontece na cena final, uma cena de dança e festa que deixa a audiência com os olhos grudados à tela.
Martin performa um jazz artístico em meio de muita bebedeira dos seus estudantes formados que, apesar de transmitir um astral alto para o público, deixa o final aberto: será que os colegas voltarão a ter uma relação saudável com bebidas alcoólicas, ou eles desistiram de tentar, buscando sempre uma juventude que já perderam?
Cabe ao telespectador apenas especular.
Druk – Mais uma rodada conta uma história familiar. Um grupo de amigos na meia idade tentam desesperadamente voltar a ser como uma vez já foram: livres, descontraídos e espontâneos, tal como seus alunos aparentam ser. A citação do filósofo dinamarquês Kierkegaard, que abre o filme, então, nunca fez tanto sentido:
O que é a juventude? / Um sonho
O que é o amor? / O conteúdo do sonho
O que Martin e seus amigos parecem ter se esquecido, porém, é que estar sonhando implica a necessidade de uma hora ter que acordar.
Druk – Mais uma rodada estreia no Brasil simultaneamente nos cinemas e nas plataformas de locação de filmes digitais no dia 25 de março de 2021. Confira o trailer:
Imagem da Capa: Imagem: Divulgação/Vitrine Filmes