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Entrevista exclusiva com Paulo Morelli

Nessa edição sobre cineastas que se aventuram pela televisão (clique aqui para ler a matéria), a reportagem do Cinéfilos aproveitou para conversar com o diretor Paulo Morelli, que conta suas experiências na televisão e no cinema. Morelli, juntamente com Fernando Meirelles e Andrea Barata Ribeiro, fundou a O2 Filmes. Estreou no cinema em 1997 com …

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Nessa edição sobre cineastas que se aventuram pela televisão (clique aqui para ler a matéria), a reportagem do Cinéfilos aproveitou para conversar com o diretor Paulo Morelli, que conta suas experiências na televisão e no cinema. Morelli, juntamente com Fernando Meirelles e Andrea Barata Ribeiro, fundou a O2 Filmes. Estreou no cinema em 1997 com o curta-metragem Lápide, premiado em Havana, Los Angeles, Rio de Janeiro e São Paulo. Atualmente o diretor está envolvido nas gravações de seu mais novo longa-metragem, A Pele do Cordeiro.

“Creio que, para um cineasta, o que realmente importa é contar uma estória bem contada”
Paulo Morelli

Cinéfilos: Como você se encaminhou para a publicidade e para a área cinematográfica?

Paulo Morelli: Desde antes de entrar na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) eu já me interessava por cinema. Já tinha feito umas experiências em super-8, coisas curtas, experimentais, mas o gosto pelo cinema já estava lá. Entrei na FAU sem saber muito bem o que queria fazer da vida, mas acreditava que era uma faculdade “multi-artes” o que acabou se revelando verdadeiro. Logo no começo, comecei a frequentar o Cineclube FAU. Foi onde fiquei mais próximo do Fernando Meirelles e pouco tempo depois, abrimos uma primeira produtora, a Aruanã Filmes.

Logo depois da FAU abrimos – com mais dois amigos – a Olhar Eletrônico, em 1981. O sonho sempre foi fazer cinema, mas naquele momento o caminho que se apresentava era o vídeo, e entramos por aí. Mas sem nunca perder de vista o plano de fazer filmes em cinema. Paradoxalmente, acabei de rodar um novo longa metragem… feito em vídeo!

C: Quais os desafios de se fazer cinema no Brasil hoje?

PM: Muitos filmes estão sendo feitos todo ano no Brasil. Com as leis de incentivo mais de 150 milhões de reais foram colocados na produção de filmes em 2010. Mais de 90 filmes brasileiros chegaram às telas no mesmo ano. O market share pulou de 4% em 1995 para 19% em 2010. Parece bom? Sim e não. Falta analisar um número: 80% dos filmes brasileiros fazem menos de 100 mil espectadores. Na minha opinião, é aí que reside a maior dificuldade do nosso cinema. Chegar ao público – ou seria melhor dizer: seduzir o público. Acho que uma obra só se completa se é vista, reconhecida, e se houver merecimento, respeitada ou até admirada.
Dialogar com o público. Existe um dilema por trás dessa questão: como conquistar o público e não ser vulgar? Porque isso tem acontecido muitas vezes: há filmes populares que são cinema de baixa qualidade, vulgares, toscos. Ou então, há os filmes ditos “autorais” que se pretendem obras de arte, mas que não se comunicam, herméticos, fechados. Serão obras de arte, ou apenas filmes mal feitos e que por isso geram rejeição do público? Enfim, cada caso é um caso. O fato é que gosto de imaginar que é possível almejar um cinema que seja uma reflexão sobre o seu tempo – simples e profundo ao mesmo tempo -, instigante e que leve o público a ter vontade de escolher esse filme quando estiver na fila do cinema.

C: O que muda da linguagem cinematográfica para a televisiva?

PM: Em princípio, nada. O que deve determinar a linguagem é a estória não o veículo. Lembro um jantar que tivemos no Rio, quando estava filmando Cidade dos Homens, a série de TV, e eu atacava os programas de TV por serem preguiçosos. Todos riram e disseram “Paulo, você está fazendo um programa de TV”, e eu disse “não, estou fazendo cinema na TV”. Claro que aqueles que se acomodarem, farão programas medíocres, convencionais. Mas a TV não exige isso, pelo contrário, a O2 tem feito programas de TV com cara e linguagem de cinema: Cidade dos Homens, Filhos do Carnaval e as duas novas séries da O2, Destino SP e Contos de Edgar, terão suas estórias narradas com o máximo potencial de linguagem que as estórias permitirem. Sem limitações por ser para TV.

OK, podemos dizer que no cinema os tempos podem ser mais dilatados e os enquadramentos mais abertos. Ou podemos dizer que na TV tudo tem que ser feito muito mais rápido (metade do tempo gasto no cinema. Por exemplo: no Cidade dos Homens TV, fazíamos 30 minutos de programa em 1 semana de filmagem. Para um longa o normal é pensar em 6 a 8 semanas de filmagem, para 100/120 minutos de filme pronto. Ou seja, quase o dobro).

Mas, em última instância, o que manda é a narrativa, a condução da atenção do público, passo a passo, numa progressão até o seu final. E isso deve ser bem feito tanto na TV quanto no cinema.

C: Normalmente, no cinema, cada diretor possui um público específico. Como é administrar algo para um público diversificado?

PM: Acho que os grandes diretores são fiéis às suas obras, o público reconhece isso e fica fiel ao diretor. Isso não quer dizer que um diretor só pode fazer um tipo de filme. O Kubrick fez comédia, drama, drama histórico, ficção científica, guerra, terror – e em cada gênero ele foi genial. Outros, como o Woody Allen, tem o estilo mais constante mas não menos genial. Regras? Não creio que haja regras para a arte. E não creio que um grande diretor vá se submeter e se enquadrar a modelos ao fazer um trabalho. Será que o Keislowski se limitou ao fazer o Decálogo? Creio que não.

Mas existe uma diferença sim. Quando você pensa que está fazendo um programa que vai ser assistido por 20 milhões de pessoas (era essa a audiência do Cidade dos Homens na TV), vem a preocupação de que a narrativa seja límpida, clara e contundente o tempo todo. A TV pede uma narrativa mais direta. O cinema permite (e pede?) uma condução mais sutil, mais elaborada.

Será que uma afirmação simplista assim poderia explicar as diferenças entre cinema e TV? Dizer que certo programa de TV parece cinema, soa como um elogio, dizer que certo filme parece um programa de TV soa como uma ofensa. A TV tem por natureza ser simples e direta, o cinema tem por obrigação ser elaborado e sutil. Mas talvez essa mesma distinção possa se aplicar às diferenças entre o cinema de grande público e o cinema de arte. Quanto mais direto, maior será o público, quanto mais sutil, menor e mais exigente ele será.

Enfim, essas são apenas algumas ideias soltas, conjecturas que não pretendem ser respostas, apenas elementos para fazer pensar e abrir a discussão.

C: Mesmo que haja incentivos governamentais e privados destinados à arte cinematográfica, as facilidades que uma emissora de televisão propõe ao cineasta são maiores. Você acredita que isso contribua para a saída do meio cinematográfico para o televisivo? O que faz com que um jovem diretor, independente das dificuldades, opte por fazer cinema?

PM: Creio que para um cineasta o que realmente importa é contar uma estória bem contada. Acabei de filmar um novo longa e conversando com os atores, tentei equacionar o nosso trabalho – o filme – em 3 etapas. As três são fundamentais, qualquer delas que estiver falha, o projeto como um todo será deficiente. Primeiro, a estória, o roteiro, o que há para ser dito: o conteúdo. Segundo, os atores, a entrega, a vida sendo vivida. Por último, a forma, a estética, como isso tudo é filmado: a forma deve carregar – oculto em metáforas visuais – o conteúdo e a vida da estória.

Enfim, se isso acontecer, tanto faz se o cineasta está fazendo um filme ou um programa de TV.

Entrevista concedida a Bruna de Alencar
bruna.alencar.santos@gmail.com

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