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A romantização de casais tóxicos em filmes teens

Os casais de filmes românticos, que geralmente são tidos como uma meta para muitos adolescentes, costumam ser marcados por comportamentos tóxicos que são romantizados e normalizados na ficção e na vida real

Muitos jovens sonham em ter um relacionamento amoroso inesperado como o de Patrick Verona (Heath Ledger) e Katarina Stratford (Julia Stiles), em 10 Coisas que Eu Odeio em Você (10 Things I Hate About You, 1999), ou o que surge de uma amizade de infância como o de Elle Evans (Joey King) e Noah Flynn (Jacob Elordi), em A Barraca do Beijo (The Kissing Booth, 2018), ou conflitante e intenso como o de Tessa Young (Josephine Langford) e Hardin Scott (Hero Fiennes Tiffin), em After (2019). Esses e muitos outros casais de filmes de romance voltados para o público jovem, passam por diversas situações — das mais românticas às mais problemáticas — e acabam sendo enaltecidos pelo público, que cria até fã clubes para os casais, como o Tessa & Hardin Club.

Porém, esses filmes acabam romantizando e idealizando excessivamente relacionamentos amorosos que, muitas vezes, são marcados por atitudes problemáticas. Pelo fato de serem voltados para o público jovem, essa romantização acaba sendo um problema, pois pode influenciar esses telespectadores em seus relacionamentos na vida real, como afirma a psicóloga Thatiana Fraga: “essa fase da vida, da adolescência, jovem adulto, é uma fase que é bastante focada na questão da cultura, a pessoa se vê muito através daquilo que ela consegue observar na cultura”. Contudo, há quem goste desses filmes justamente por retratarem problemas reais que muitos casais enfrentam, como afirma Lohana Alvarenga, fã de After


Relacionamentos tóxicos romantizados 

Em grande parte desses filmes, o comportamento tóxico dentro do relacionamento aparece de forma sutil, o que traz certa dificuldade na identificação do problema. A psicóloga alerta que um relacionamento tóxico, em grande parte das vezes, se inicia de forma não explícita, através da manipulação, e, após algum tempo, passam a ocorrer atitudes mais graves. Além disso, Thatiana também ressalta que todas as pessoas podem ter comportamentos tóxicos em algum momento, porém, o problema está na repetição dessas atitudes. 

Em After, Tessa tem apenas 18 anos e acaba de ingressar na faculdade quando conhece Hardin, um jovem rebelde que não sabe lidar muito bem com seus sentimentos. Aos poucos, os dois se aproximam e iniciam uma ardente paixão. No filme, Hardin tem comportamentos que fazem mal a Tessa diversas vezes, mas ela o perdoa em todas. Assim, as ações são retratadas de forma naturalizada e dão início ao ciclo de um relacionamento abusivo: criação das tensões, explosão da violência e lua de mel — fase de presentes, promessas, perdão e reconciliação. A violência física contra a mulher não chega a se concretizar nos filmes, mas há outras formas de violência presentes, como a manipulação psicológica e o ciúmes excessivo de Hardin que, entre tantas situações problemáticas, se irrita até mesmo com um garçom que é simpático com Tessa. 

Em 10 Coisas que Eu Odeio em Você, Bianca (Larisa Oleynik) quer muito arranjar um namorado, mas seu pai só permite que ela tenha um relacionamento se sua irmã, Katharina, também tiver. Para resolver a questão, Cameron (Joseph Gordon-Levitt), apaixonado por Bianca, resolve contratar Patrick Verona para seduzir a futura cunhada. No filme, parte do ciclo de um relacionamento abusivo também é retratado quando Patrick compra uma guitarra para se desculpar com Kat e diz que irá comprar outros instrumentos a cada “vacilo” que ele der. 

Patrick e Kat estão prestes a se beijar. Estão sujos de tinta. Ele usa uma regata preta e tem o cabelo preto amarrado. Ela usa um cropped manga longa vermelho e tem seus cabelos loiros em um rabo de cavalo.
Patrick começa a sair com Kat por causa de um acordo e acaba se apaixonando pela garota. [Imagem: Divulgação/Disney]


Machismo e estereótipos de gênero

A psicóloga Thatiana também aponta que a mulher é retratada nesses filmes como se “tivesse o papel de educar o homem, de melhorar o cara, como se a mulher fosse uma escola e, através daquela escola do amor, ele vai ser resgatado, ele vai aprender a se portar melhor no mundo”. Dessa forma, os comportamentos agressivos de homens — que são retratados como protetores — e pacíficos das mulheres, são naturalizados nos filmes. 

Em A Barraca do Beijo, Elle e Lee Flynn (Joel Courtney) são melhores amigos desde sempre, e a garota é apaixonada por Noah, irmão mais velho de Lee. Durante a trama, a aproximação de Elle e Noah abala a amizade da garota com Lee. No filme, ela sempre acaba separando as brigas entre seu namorado e seu melhor amigo, e Noah só para de brigar quando Elle aparece para lhe acalmar. Também em vários momentos do filme After, Tessa é tratada por outros personagens como se fosse a cura para os comportamentos problemáticos de Hardin, reforçando a ideia de que mulheres são como um centro de reabilitação para homens. 

Nos filmes, os homens também cumprem um papel na vida das mulheres: eles são vistos como essenciais no desenvolvimento sexual feminino. Tathiana afirma que os filmes retratam que “a mulher também vai ter um crescimento, de que ela vai conseguir se aproximar mais dela mesma, da sexualidade dela, da sensualidade dela através desse cara”, e alerta que isso é uma grande idealização, pois a mulher pode ter esses ganhos através de outras experiências na vida real, sem ser necessariamente dentro de um relacionamento romântico.

Noah se inclina para beijar Elle. Ele usa uma jaqueta de couro e ela uma blusa florida. Atrás dos dois há um letreiro escrito "kiss" (beijo, em inglês).
Elle tem seu primeiro beijo com Noah na barraca do beijo. [Imagem: Divulgação/Netflix]


Um outro olhar

Thatiana Fraga também destaca que esses filmes mostram que qualquer tipo de relacionamento com outras pessoas tem suas dificuldades. Lohana Alvarenga, que começou a acompanhar a saga After em 2020 e desde então é muito fã dos filmes, explica que gosta muito de acompanhar Hardin e Tessa justamente por esse motivo, por não ser um relacionamento fantasiado que só representa as partes boas, mas que também mostra problemas e conflitos reais. “Nem todo relacionamento é feito de puro ‘love’ o tempo todo, não, tem briga, tem desentendimentos, e é o fato de saber lidar com esses desentendimentos que deixa tudo mais real”, conta. 

Contudo, a psicóloga alerta que, na vida real, “não significa que um relacionamento precisa ser difícil o tempo inteiro, sofrido o tempo inteiro, que você precise passar por essa jornada de dor constante para que isso melhore no futuro”. 

Tessa, uma garota branca e loira, está abraçada com Hardin, um garoto branco de cabelos pretos. Ambos se olham e sorriem.
Hardin e Tessa são um casal apaixonado, mas problemático. [Imagem: Divulgação/Diamond Films]

Lohana conta também que o que lhe interessa nos filmes de After é observar a evolução dos personagens, o quanto eles vão crescendo e mudando ao longo da história do relacionamento. Além disso, afirma que “não é o certo romantizar totalmente a relação, eu romantizo a evolução deles como um casal, não as situações em volta em si”.


Os romances continuam

Para assistir em um domingo à tarde e sonhar com um Patrick descendo as escadas se declarando ao som de Can’t take my eyes off you para você ou com um Noah Flynn aparecendo em uma barraca do beijo, os filmes de romance continuam fazendo sucesso entre os jovens. Thatiana afirma que é possível assistir a esses filmes pensando em questões sociais, como os preconceitos naturalizados nas cenas e o comportamento machista dos personagens. O importante é não se deixar levar pela idealização.

2 comentários em “A romantização de casais tóxicos em filmes teens”

  1. Concordo com o texto, mas no caso não são bem os “jovens” que sonham com esses relacionamentos amorosos, mas especificamente os “adolescentes”, porque “jovens” os adultos também são e de várias idades (inclusive pessoas mais maduras e que não se importam tanto com esses romances).

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