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‘I Disagree’: Poppy enfim se liberta de suas amarras

Uma sirene é o começo de tudo. A primeira frase? “Me enterre sob sete palmos”. A tensão vai subindo, os ânimos se elevando. Sente-se a expectativa crescer e, de repente, uma guitarra quebra toda a pressão. Instrumentais frenéticos causam sua destruição até um ponto de inversão em que a música tende a um pop com …

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Uma sirene é o começo de tudo. A primeira frase? “Me enterre sob sete palmos”. A tensão vai subindo, os ânimos se elevando. Sente-se a expectativa crescer e, de repente, uma guitarra quebra toda a pressão. Instrumentais frenéticos causam sua destruição até um ponto de inversão em que a música tende a um pop com vocais açucarados e energia excessiva, para então retornar a um estado menos insano. Os próximos minutos são marcados pela mesma alternância entre momentos de frenesi e calmaria, como em uma catarse produzida artificialmente.

Aviso: O videoclipe a seguir possui cenas que podem ser desconfortáveis a pessoas fotossensíveis.

Concrete é a primeira canção e a epítome de toda a experiência de I Disagree: heavy metal com pitadas de screamo ⎯ estilo agressivo de música emo que possui como característica principal vocais que são gritados. O conteúdo lírico mórbido convive com momentos de serenidade que produzem uma falsa sensação de segurança e plasticidade, que permitem ao ouvinte depreender a megalomania sonora testemunhada.

Terceiro álbum de estúdio da controversa cantora e YouTuber estadunidense Poppy, a obra foi lançada no dia 10 de janeiro de 2020 e é seu primeiro lançamento pela Sumerian Records. Em entrevista para Dan Stubbs da revista britânica New Musical Express (NME), Poppy afirma que tenta canalizar toda sua raiva em sua arte e manter certa compostura, “até mesmo quando eu sinto que quero acabar com tudo”. Quando perguntada se “tudo” quer dizer a si mesma ou o mundo, sua resposta é clara: o mundo.

Ao início de sua carreira, quando seu nome artístico ainda era ThatPoppy, a cantora conheceu Titanic Sinclair. O artista tornou-se seu companheiro de trabalho e juntos começaram a produzir conteúdo para seu canal no YouTube, em desacordo com as recomendações de sua gravadora da época. Com um conteúdo bizarro e futurista, Poppy criou sua identidade como “não humana”.

Essa identidade, inclusive, é embargada em uma das maiores polêmicas envolvendo a cantora que, na verdade, se chama Moriah Rose Pereira. Em abril de 2018, uma antiga parceira romântica e criativa de Sinclair denunciou que a identidade visual Poppy fora roubada dela. O processo foi resolvido no dia 28 de dezembro de 2018 com nenhuma das partes admitindo culpa. 

É perceptível que Poppy desponta como uma figura potencialmente problemática e divisória. E é dessa reputação que ela se aproveita para sua obra mais recente.   

Desde a identidade visual da capa até às canções que possuem nomes convidativos como BLOODMONEY, Bite Your Teeth e a profética Don’t Go Outside ⎯  que, pode-se afirmar, premeditou o período de isolamento social em decorrência do coronavírus   Poppy se alimenta e se fortalece do caos. Solos de guitarra, gritos e uma produção macabra caracterizam uma nova era de liberdade para a cantora.

Há, no entanto, duas canções no álbum que se distanciam do heavy metal comum à obra. Nothing I Need e Sick of the Sun são mais relaxadas e introspectivas. Em sua essência, são canções sobre expectativas e insatisfações, que assumem as ambições da cantora em procurar ser mais do que ela era antes dessa produção. Elas evidenciam, em suas palavras, sua busca pelo “som certo” em um mundo em que “alguém sempre fará melhor”.

Essa é uma questão central para o álbum: autenticidade. Desde o título até às faixas Anything Like Me, Fill the Crown, Sit/Stay e, obviamente, a canção homônima do álbum, I Disagree, denotam a influência dessa percepção para Poppy. Há um desejo incessante por construir uma sonoridade jamais construída, uma identidade diferente de todas as existentes, e se apresentar como um ato musical único. E ela é bem sucedida. 

Sensação da internet, figura imersa em mistério, de personalidade complexa e peculiar, Poppy cria seu espaço e momentum. Toda sua raiva de uma trajetória tortuosa é compilada no que é um dos melhores álbuns do ano ou, ao menos, uma aventura sonora e tanto, até mesmo para aqueles que sentirem repulsa de sua visão de mundo. 

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